Em pastelão ‘Caindo na Real’, com Belo, ascensão social é obra do acaso

FOLHAPRESS – Depois de Lady Gaga em “Coringa: Delírio a Dois”, é o momento de outra celebridade platinada do universo da música ocupar as salas de cinema do país – o cantor e compositor Belo. Aos 50 anos, o pagodeiro faz a sua estreia como ator interpretando o interesse romântico de Evelyn Castro, em “Caindo na Real”.

Belo, contudo, não é o único do elenco a caprichar no gogó. Membro do canal “Porta dos Fundos” e da série “Tô de Graça”, Castro também faz teatro musical e trabalha com dublagem. Em “Caindo na Real”, já em cartaz nos cinemas, ela faz um dueto com o “cantor das multidões” – ainda que o apelido antes tenha pertencido a Orlando Silva.

O lançamento também conta com o ator Maurício Manfrini, conhecido pelo personagem Paulinho Gogó do programa “A Praça É Nossa”, que dá vida ao político corrupto Alaor. O deputado lidera um golpe no Congresso Nacional e reinstaura a monarquia no país – tudo ao lado de uma trupe de conservadores, um deles muito parecido com um filho perdido de Bolsonaro.

Na trama, o Partido Monarquista queria que o sofisticado príncipe Maurício, vivido pelo ator e youtuber Victor Lamoglia, assumisse o poder. Genealogistas, no entanto, descobrem uma “pulada de cerca” de duzentos anos atrás e apontam Tina, humilde chapeira interpretada por Castro, como a verdadeira herdeira do trono.

De uma hora para a outra, Tina tem de abandonar o podrão e viver no Palácio da Alvorada – agora decorado com adereços carnavalescos para passar uma impressão mais majestosa. Manipulada pelos interesses políticos ao seu redor, ela é distraída com aulas de etiqueta ministradas por Marie Helene, vivida por Maria Clara Gueiros, de “Zorra Total”.

Com argumento e roteiro de Bia Crespo, de “Rensga Hits!”, a premissa de “Caindo na Real” rende uma ou outra piadinha inofensiva às custas das figuras mais pitorescas da extrema-direita brasileira, fazendo menções rápidas ao negacionismo climático e ao terraplanismo. A tentativa de sátira, entretanto, nunca vai muito longe.

Quando precisa dizer a que veio, numa cena em que Tina discursa diante da população brasileira, o filme cede aos argumentos mais genéricos pelo fim da pobreza e contra a corrupção. Assim como os nossos políticos, “Caindo na Real” não sente necessidade de elaborar suas ideias – só repete algumas palavras de impacto para ludibriar o povão.

O diretor André Pellenz, de “Minha Mãe É uma Peça” e “Os Detetives do Prédio Azul”, parece mais interessado em sua própria versão de “O Diário da Princesa” – ou seja, no contraste entre os costumes da nova rainha suburbana e de seus súditos mais esnobes. Há anos, a ascensão social repentina é um mote consolidado no cinema nacional.

Em uma análise de “Um Suburbano Sortudo”, comédia em que um camelô recebe uma herança inesperada, a crítica e pesquisadora Andrea Ormond apelidou o subgênero de “moneychanchadas” – ou “chanchadas de dinheiro”. Inclua aí títulos como “Até que a Sorte nos Separe”, “Tô Ryca!” e tantos outros.

Em “Caindo na Real”, porém, a comédia de costumes logo dá lugar ao pastelão. Com sósias de personalidades como Papa Francisco e o Rei Charles da Inglaterra, há também participações aleatórias de Cissa Guimarães e Pedro Scooby – mas bom mesmo é rever Carlos Moreno, o garoto-propaganda da Bombril.

No fim, a moral da história é a mesma de sempre. No Brasil, a mudança de classe social só ocorre como obra do acaso – por meio de herança ou bilhete premiado. É preciso enriquecer, mas sem perder a humildade. E é só virando rainha que se dá valor à democracia. Ou algo assim.

CAINDO NA REAL

– Avaliação Ruim

– Quando A partir de 24 de outubro nos cinemas

– Classificação 10 anos

– Elenco Belo, Evelyn Castro e Cissa Guimarães

– Produção Brasil, 2024

– Direção André Pellenz

IEDA MARCONDES / Folhapress

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