Aliados do presidente Lula (PT) e integrantes do governo federal apostam que a atual gestão deverá fazer um movimento em direção ao centro, como resultado do segundo turno das eleições municipais e seguindo o apelo de líderes que integram a base governista.
A leitura é que o pleito municipal deixou claro que o país buscou fugir da polarização entre direita e esquerda e acabou fortalecendo os partidos de centro, como PSD, MDB e União Brasil, que agora ganham poder de barganha para exigir mudanças de rumo como condição para seguirem no governo e se alinharem em 2026.
Com a gestão Lula sob pressão, a lista de reivindicações de integrantes dessas siglas inclui a influência sobre uma esperada reforma ministerial nos próximos meses, a solução de problemas que emperram a liberação de emendas parlamentares, mudanças na articulação política e a adoção de uma posição mais clara sobre a política econômica do governo.
Além disso, aconselham que o governo deixe de lado, por enquanto, a agenda mais identitária, de esquerda, para evitar ruídos.
Esses partidos afirmam que a frente ampla não pode ser apenas um adesismo ao governo. Precisa refletir as visões dessas siglas, em um projeto conjunto.
O resultado do segundo turno ressaltou a fragilidade dos partidos de esquerda e centro-esquerda, que compõem a base mais ideológica do governo Lula. O PT teve como único troféu nas capitais a conquista de Fortaleza.
Nas palavras do ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais), o partido “ainda não saiu do Z4 [zona do rebaixamento] que entrou em 2016 nas eleições municipais”.
Por outro lado, as siglas de centro foram apontadas como as grandes vitoriosas O PSD de Gilberto Kassab é o partido com mais municípios sob seu comando a partir de 2025, com 887 prefeituras –aparecem na sequência MDB e PP, com 856 e 747.
“O PSD se consolidou como partido de centro”, avalia Kassab.
Todos esses partidos integram a base de apoio de Lula e estão à frente de ministérios.
A presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR), por sua vez, mostrou incômodo com a avaliação de integrantes do governo e cobrou apoio para as eleições de 2026
“Espero que a vitória dos partidos que compõem a base, que está sendo computada como vitória do governo, possa se traduzir em apoio em 2026, para além do que já havia em 2022”, disse Gleisi.
A parlamentar ainda atacou publicamente Padilha, pelo comentário de o PT estar no Z4.
“Pagamos o preço, como partido, de estar num governo de ampla coalizão. E estamos numa ofensiva da extrema direita. Ofender o partido, fazendo graça, e diminuir nosso esforço nacional não contribui para alterar essa correlação de forças”, disse Gleisi, no X.
Na avaliação do presidente do União Brasil, Antonio Rueda, o recado das urnas é que a população quer distância do extremismo. Para as eleições de 2026, diz ele, a força não é de esquerda nem de extrema direita, mas de centro, pendendo à direita.
Por isso, seria necessário um pacto com os partidos que saíram fortalecidos da eleição. Esse acordo exigiria ajustar a articulação do governo no Congresso. “Acho que o [Alexandre] Padillha poderia fazer muito mais.”
Líderes partidários e integrantes do governo de siglas de centro pedem que a gestão tome uma posição centrista mais clara e dizem que Lula já está convencido de que precisa de uma postura mais pragmática e menos identitária para manter sólidas alianças para 2026.
“A capacidade de gestão prevaleceu sobre o ideológico”, diz o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), sobre o resultado das eleições.
Exaltando o desempenho de seu partido, o presidente do MDB, Baleia Rossi, afirma que o resultado da eleição aponta para o fortalecimento da moderação e defende que o esforço do governo seja para a melhoria da vida das pessoas.
“Economia estável só alcança as pessoas se houver resultado na vida real”, diz. Sobre as projeções para 2026, lembra que nem sempre a eleição do presidente repete a disputa municipal e há ainda muitos pontos a serem avaliados.
As siglas também vão pressionar para terem atendidas outras demandas que valorizem os resultados do pleito municipal. Uma delas é devolver a autonomia de deputados e senadores em relação às emendas.
Aliados ainda apontam que o governo deveria “rejuvenescer”, levando para alguns ministérios, e em particular para o Planalto, nomes mais jovens dos partidos que integram a base aliada. Defendem, como a Folha de S. Paulo mostrou, a indicação do atual ministro Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos) para assumir a Secretaria de Relações Institucionais e, portanto, a articulação política.
Um interlocutor aponta que os partidos não devem aumentar o número de pastas, mas que uma reforma ministerial serviria para revalidar nomes e ver quais ainda seguem com prestígio dentro de seus partidos.
Outra demanda é que o governo federal adote um discurso mais claro sobre a política econômica do governo federal. A visão é de que há um comportamento dúbio na própria comunicação, com o mandatário afirmando apoiar a agenda do ministro Fernando Haddad (Fazenda), mas com ele próprio e alguns ministros também defendendo publicamente uma política econômica mais desenvolvimentista.
CATIA SEABRA E RENATO MACHADO / Folhapress