SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Alexandre Borba tem mais de quatro milhões de seguidores na Twitch, quase dois milhões de fãs no Instagram, é presidente de um time na liga de Gerard Piqué e, recentemente, foi eleito um dos brasileiros mais influentes da América Latina pela Bloomberg. Esse é um pequeno aperitivo da vasta lista de conquistas do streamer paulista, mais conhecido como Gaules.
O próprio Gaules explica que o DNA da sua marca é o esporte eletrônico, principalmente o Counter-Strike. Isso, porém, não o impediu de transmitir jogos da NBA, corridas da Fórmula 1 e partidas do Campeonato Carioca. Há quem se pergunte, então, por que o segundo streamer mais assistido no mundo em 2023 -com mais de 150 milhões de horas- ainda não criou uma TV, tal qual Casimiro Miguel, por exemplo.
A resposta não é nada mirabolante, é justa. Gaules vê cada transmissão como uma história que ultrapassa telas, em que as pessoas que assistem conseguem se conectar com aquele enredo e tudo se torna uma só força, a chamada comunidade. O streamer prefere seguir forte neste mundo e acredita que há um risco de perder a essência caso passe a fazer algo que se aproxime mais dos meios de comunicação de massa.
“A gente tem um foco muito grande em manter a nossa comunidade do jeito que ela sempre foi. Quando você abre as portas para também transmitir algo de um jeito mais tradicional, as pessoas vão querer, principalmente, assistir ao conteúdo e não estão se importando muito com quem está fazendo. Então, você precisa atender esse formato que as pessoas já estão acostumadas no mainstream”, explicou Gaules à reportagem.
“Dentro da nossa comunidade, as pessoas estão ali para assistir a um conteúdo, mas com uma companhia, que é o que a gente faz, seja a Fórmula 1, a NBA, ou os campeonatos de esporte eletrônico. Quando as pessoas entram ali para assistir, elas sabem que fazem parte daquilo”, acrescentou.
A transmissão dos esportes eletrônicos cresceu muito durante a pandemia, afinal era uma das únicas atividades competitivas permitidas no isolamento social. As exibições, que eram baseadas nos formatos tradicionais, passaram a ganhar a própria cara e a serem notadas pelas grandes mídias que, inclusive, entenderam que era o momento de se render ao novo. É nisso que Gaules prefere apostar.
“Hoje, a gente tem ampliado muito a cobertura no esporte eletrônico, que é o nosso DNA. Essa parte da transmissão esportiva tradicional é um universo muito maduro e dominado por algumas empresas, já tem um formato que você não consegue fugir. Quando você cresce [para uma TV], você vê uma transmissão muito mais próxima da tradicional do que era lá no começo. Tem um tom mais leve, mas teve que se adaptar muito para fazer uma transmissão tradicional. O que a gente quer não é crescer, é trazer um formato novo e se manter dentro dele, onde as pessoas conseguem ter uma conexão muito maior”, explicou Gaules quando questionado se ele já pensou em criar algo similar à CazéTV.
TRIBO AJUDA TRIBO
Gaules já deixou claro que uma de suas prioridades é a comunidade de seu entorno, carinhosamente nomeada de Tribo. Muito além de transmitir partidas de esportes eletrônicos, a ideia do streamer é sempre tentar melhorar o dia de uma pessoa e compartilhar valores.
“Quando estava ainda no começo das streams, o pessoal tinha meu número de telefone. Alguns me ligavam e ficávamos conversando”, relembrou Gaules que já ajudou inúmeros espectadores de diversas maneiras, tanto na conclusão de estudos como no apoio à saúde mental.
“Recebo muitas mensagens das pessoas que estão ali no dia a dia das lives: ‘você foi minha companhia’, ou ‘você ajudou a pagar meus estudos e agora eu já consegui meu emprego, minha primeira casa’. Como eu divido muito das coisas que acontecem no meu dia a dia, as pessoas também se sentem na liberdade de dividir. Desde notícias não tão boas sobre término de relacionamento, demissão ou até de conquistas da vida”, contou Gaules.
A partir desta movimentação, Gaules lançou “Tribo Ajuda Tribo”, uma campanha beneficente que tem o objetivo de conscientizar e incentivar pessoas na busca pelo bem-estar e plenitude da saúde mental.
“Desde outubro do ano passado, quando a campanha foi lançada, a gente conseguiu oferecer mais de mil sessões de terapia para o pessoal. Conseguimos quebrar um pouco a barreira das pessoas terem um certo preconceito de serem atendidas, de consultar um médico em relação a isso”, destacou o streamer paulista.
KINGS LEAGUE E CCXP
Entre maio e junho deste ano, Gaules participou de uma competição de futebol que representou um ‘mundo ideal’, a Copa do Mundo de Kings League, competição de society criada pelo ex-jogador espanhol Gerard Piqué. O streamer liderou o time g3x ao vice-campeonato.
“Quando a gente anunciou a nossa participação, falei que ia ser a maior coisa que já tínhamos feito em relação a juntar todos os universos. Por mais que a gente faça uma transição da NBA, você não tem alguém ali do chat participando, competindo. Dentro da Kings League, a gente consegue utilizar todas as ferramentas modernas: interação, dessa jornada da pessoa que tem o sonho de ser jogador de futebol, entrar no draft e, de repente, estar vestindo a camisa do time, fazendo gol. Temos o nosso time de streamers na comissão técnica, que é tão próximo da comunidade a ponto de alguém mandar uma mensagem questionando alterações, pedindo para colocar jogador. É um feedback diário”, comentou.
O próximo grande evento de Gaules será na CCXP deste ano. Ao lado da Red Bull, o streamer idealizou o ClassiCS, que trará mapas de antigas versões do Counter-Strike. Os fãs brasileiros terão a possibilidade de se inscrever na competição e jogar com estrelas no esporte eletrônico.
“Foi uma ideia em conjunto de querer fazer um momento para a comunidade do CS aqui do Brasil, de poder ter uma interação com as pessoas que gostam de assistir e poder participar também, competindo. Vai ser muito bom ver os fãs vindo para a CCXP, em São Paulo, e conhecer a galera. O grande objetivo é juntar esses dois universos, da comunidade com os jogadores profissionais com a transmissão”, disse Gaules.
BEATRIZ CESARINI / Folhapress