Brasil precisa assumir papel de líder em soluções sustentáveis para o agro

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Apesar de enfrentar desafios como o desmatamento ilegal, a agricultura brasileira é um modelo a ser seguido em relação ao desenvolvimento sustentável. Essa foi uma das conclusões do segundo painel da Lide Brazil Conference London, uma iniciativa da Folha de S.Paulo, UOL e Grupo Lide (Grupo de Líderes Empresariais), realizada nesta terça-feira (29), em Londres.

A matriz energética renovável do Brasil está diretamente ligada à área agrícola, nas quais 17% da produção de soja vira biodiesel e 15% da produção de milho tornam-se etanol de milho. Os dados foram apresentados no evento por Roberto Rodrigues, embaixador especial da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês) e ex-ministro da Agricultura (2003-2006).

Segundo ele, o Brasil tem desenvolvido uma tecnologia sustentável que impede o desmatamento de novas áreas a partir do aumento da produtividade, em modelo que pode e deve ser seguido por países da América Latina e África subsariana. “Somos o único país do mundo que temos um agro sustentável [que é] replicável na área tropical do planeta”, disse.

Também presente na mesa, o presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), reforçou a diferenciação entre desmatamento ilegal e supressão vegetal, processo permitido pelo Código Florestal e que, segundo ele, faz parte do processo produtivo de qualquer país.

Questionado sobre o andamento da criação de uma autoridade climática, anunciada em setembro pelo presidente Lula, o senador afirmou que ainda não há negociações com o Congresso, mas prometeu “toda a colaboração e todo o estímulo para que isso aconteça”.

Reforçou ainda a cautela na criação de organismos e comissões em momentos de crise. “O que precisa haver, de fato, é uma efetividade no cumprimento de leis existentes. Não necessariamente alteração legislativa, criação de organismos”, afirmou.

Também falta ao Brasil mostrar ao cenário internacional e ao setor privado o potencial que tem em relação à bioenergia, disse Izabella Teixeira, co-presidente do Painel Internacional de Recursos da ONU e ex-ministra do Meio Ambiente (2010-2016).

“O Brasil tem que parar de falar mal do Brasil. É incompreensível que um país cheio de soluções resolva falar mal de si mesmo”, adicionou ela, que é conselheira emérita do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI).

As saídas, aponta, passam pelo processo de industrialização verde e sofisticação tecnológica. Mas faltam à discussão uma “ambição climática” e a presença do setor privado, essencial para transformar os custos das soluções em preços nos mercados consumidores. “Isso requer cooperação, novos alinhamentos entre o público e o privado.”

BEATRIZ GATTI / Folhapress

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