SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar e a Bolsa operam em estabilidade nesta terça-feira (29), com os investidores na expectativa da divulgação de dados sobre emprego e inflação no Brasil e nos Estados Unidos nesta semana.
Às 11h05, a moeda norte-americana descia 0,03%, cotada a R$ 5,7039. Já a Bolsa subia 0,06%, a 131.302,90 pontos. O volume financeiro somava cerca de R$ 2 bilhões.
A semana começou com os mercados de olho no calendário dos Estados Unidos. Na próxima terça-feira, 5 de novembro, a disputa entre Donald Trump e Kamala Harris estará definida assim como a agenda econômica que irá pautar a maior potência global pelos próximos quatro anos.
Apostas de que o ex-presidente Donald Trump poderá ganhar a eleição aumentaram de forma significativa nos últimos dias na plataforma Polymarket, ferramenta utilizada pelos investidores para observar a dinâmica do pleito.
As chances de um retorno de Trump à Casa Branca eram de 66%, e as de uma vitória da atual vice-presidente marcavam 34%.
“O mercado espera uma vitória de Trump, que, por diversos fatores, tende a fortalecer o dólar durante seu mandato e a manter a inflação e os juros elevados por mais tempo. Kamala, por outro lado, sem o apoio do Senado, provavelmente enfrentaria limitações para implementar mudanças significativas, o que manteria o dólar em um patamar um pouco mais baixo em relação a outras economias”, afirma Keone Kojin, economista da Valor Investimentos.
A possibilidade de uma vitória do candidato republicano tem feito o mercado projetar os efeitos das propostas dele na economia. Entre as promessas mais alardeadas, Trump diz que, caso eleito, irá aumentar tarifas entre 10% e 20% sobre praticamente todas as importações dos EUA e em pelo menos 60% sobre as da China.
As propostas de aumento tarifário e corte de impostos são consideradas inflacionárias, o que, na política monetária, significa juros altos por mais tempo.
Nas curvas de contratos futuros, o Treasury de dez anos, referência global de investimentos, subia 0,66% o que favorece o dólar, que se torna mais atraente conforme os rendimentos dos títulos ligados ao Tesouro norte-americano sobem.
As projeções para as eleições presidenciais se somaram às expectativas dos investidores sobre os próximos passos do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA), que se reúne na semana que vem, entre os dias 5 e 6 de novembro, para decidir sobre os juros americanos.
Os investidores esperam cortes mais graduais a partir do próximo encontro. Dados recentes têm mostrado uma economia mais forte do que o esperado anteriormente, com destaque para o mercado de trabalho e o consumo.
A redução de 0,25 ponto percentual agora tem 96,8% de probabilidade na ferramenta Fed Watch, e a manutenção da taxa na banda atual de 4,75% e 5% reúne os 3,2% restantes.
Nesta semana que antecede a decisão de juros, a agenda guarda divulgações macroeconômicas que podem calibrar ainda mais as expectativas para o resultado da reunião.
A quarta-feira reserva dados do PIB (Produto Interno Bruto) dos EUA do terceiro trimestre, enquanto a quinta-feira terá o índice PCE, indicador favorito de inflação do Fed. Na sexta, serão conhecidos os números de outubro do “payroll” (folha de pagamento, em inglês), relatório sobre o estado do mercado de trabalho americano.
“A semana é bastante cheia. Temos dados importantes aqui e lá fora. Investidores ficam na espera para tomar uma posição mais concreta”, disse Guilherme Suzuki, sócio e responsável pela área de portfólio solutions da Astra Capital.
Da ponta doméstica, o mercado segue atento à cena fiscal. A expectativa é pelo anúncio de corte de gastos públicos, prometido pela ala econômica do governo para logo após as eleições municipais.
“Temos visto a atividade econômica indo bem, com o PIB superando a marca de quase 3% e o desemprego em níveis baixos. Mas existe uma preocupação com a dívida pública e esse é o grande desafio do governo. O mercado segue à espera para ver se teremos contas públicas saudáveis”, afirma Kojin.
À espera de ações concretas para redução de despesas, o mercado tem demonstrado cautela, protegendo-se no dólar e exigindo mais prêmios na renda fixa.
“Até que medidas concretas de contingenciamento sejam implementadas, é improvável que o dólar receba suporte definitivo do cenário local”, disse Eduardo Moutinho, analista de mercados do Ebury Bank.
Os investidores também seguem atentos à trajetória da taxa básica de juros do país, a Selic. O Copom (Comitê de Política Monetária) do BC irá se reunir na semana que vem, também entre os dias 5 e 6 de novembro, para decidir sobre o patamar da taxa.
O colegiado reiniciou o ciclo de altas na reunião de setembro, quando optou por um aperto de 0,25 ponto percentual e levou os juros ao patamar de 10,75% ao ano. Desde então, os dirigentes têm reforçado que as próximas decisões estão à mercê dos dados econômicos, em especial os de inflação.
Considerado uma “prévia” da inflação oficial do país, o IPCA-15 acelerou a 0,54% em outubro, após marcar 0,13% em setembro. O resultado ficou acima da mediana das projeções de 0,51%, e levou o acumulado de 12 meses a acelerar para 4,47%. A taxa era de 4,12% no mês anterior.
A meta do Copom é de 3%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo. Ou seja, na leitura atual, o IPCA-15 está bem próximo ao teto da meta, de 4,50%.
No Boletim Focus desta segunda, analistas consultados pelo BC ainda subiram pela quarta semana consecutiva as projeções para o IPCA neste ano, com a expectativa agora ultrapassando a banda máxima da meta, a 4,55%.
O mercado espera um movimento mais agressivo do BC na semana que vem e projeta alta de 0,50 ponto percentual na Selic.
As curvas de juros futuros ainda têm subido por causa das pressões fiscais, indicando pessimismo do mercado em relação à trajetória das contas públicas um dos focos de pressão inflacionária.
Redação / Folhapress