SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As cebolas frescas devem continuar sendo utilizadas em cardápios de fast food no Brasil mesmo após algumas redes dos Estados Unidos terem parado de incluir o produto em seus pratos. A decisão nos Estados Unidos foi tomada após um surto de E. coli nos restaurantes do McDonald’s ter deixado uma pessoa morta e outras 75 doentes na semana passada.
No Brasil, o McDonald’s, que é representado pela Arcos Dorados, afirmou que não se abastece do fornecedor envolvido no incidente do país norte-americano. Quase todos os lanches de carne bovina do cardápio, com exceção do McFiesta, são preparados com algum tipo de cebola.
A empresa não confirmou se utiliza cebolas frescas em seus lanches, mas a reportagem visitou uma unidade do McDonald’s na capital paulista e constatou que o Quarterão com Queijo, lanche consumido pelos que tiveram a infecção nos Estados Unidos, tem pedaços de cebola como um de seus ingredientes. Segundo um dos atendentes, o produto é fresco. A Arcos Dorados, que na primeira nota havia afirmado que a rede não utilizava o ingrediente em seus lanches, não respondeu aos pedidos de esclarecimentos até a publicação deste texto.
O KFC Brasil e a Pizza Hut Brasil informam que não há mudanças na operação das redes por aqui e que as medidas tomadas nos Estados Unidos pela Yum! Brands, responsável pelas marcas no país norte-americano, que decidiu retirar os produtos preventivamente, não têm qualquer relação com o Brasil.
Segundo o KFC Brasil e a Pizza Hut Brasil, as empresas têm “rigorosos protocolos de segurança para garantir o alto controle de qualidade dos produtos, contando com fornecedores devidamente certificados e auditados e seguindo a regulamentação vigente em todos os mercados nos quais atuam”.
A Arcos Dourados afirma também que a qualidade dos produtos pode ser verificada por qualquer consumidor por meio do programa de visitas Portas Abertas. “A empresa reitera seu estrito compromisso em oferecer a seus clientes os mais altos padrões de qualidade e segurança do alimento, incluindo uma seleção criteriosa e auditorias permanentes de seus fornecedores, além da rastreabilidade dos produtos.”
COMO A CONTAMINAÇÃO ACONTECE?
Lucimeire Piron, pesquisadora da Embrapa Hortaliças, explica que a contaminação pela bactéria Escherichia coli geralmente ocorre pelo consumo de alimentos ou água contaminados com fezes de animais ou de humanos. “Dentre as principais formas de contaminação estão os alimentos crus ou malcozidos, hortaliças mal higienizadas, contaminação cruzada e água contaminada.”
A especialista indica que, com relação à carne moída, a E. coli pode se espalhar por todo o produto e se tornar um veículo de transmissão se não for suficientemente cozida, inclusive em alimentos como o hambúrguer.
“No campo, ela pode ocorrer pelo uso de água de irrigação contaminada ou de insumos, como esterco ou produtos orgânicos, que estejam infectados”, diz Fabrício Fugitas, diretor de produção da Fugita, empresa produtora de cebolas.
O especialista acredita, no entanto, que a contaminação pode ter acontecido no momento de processamento da cebola, que é um intermediário entre o produtor do campo e a rede de restaurantes. “Quando falamos de cebolas frescas não é que a rede de restaurantes compra a cebola in natura, na forma como ela foi colhida, e lava, descasca, pica e utiliza no lanche. Não. Eles compram a cebola pré-processada e pronta para utilização.”
Fugitas acredita que, no caso do McDonald’s, é provável que a cebola comprada já venha picada, higienizada, embalada e pronta para ser utilizada nos lanches. A contaminação pode ter acontecido, assim, em algum desses processos.
Há ainda a possibilidade da contaminação cruzada, quando a bactéria passa de alimentos contaminados para outros alimentos. “Isso pode acontecer por meio de utensílios, superfícies ou mãos, como ao usar a mesma tábua de corte para hortaliças e carnes cruas”, diz Lucimeire.
CUIDADOS DE CONSUMO
No Brasil, há uma série de órgãos fiscalizadores que trabalham na área de segurança de carnes e vegetais, como o Mapa (Ministério da Agricultura e Pecuária) e a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
Lucimeire destaca o risco de contaminação caso ocorram falhas nas práticas de higiene ou sejam consumidos alimentos que não passam pelos canais de fiscalização.
Fabríco Fugitas aponta alguns cuidados básicos que consumidores devem ter durante a alimentação, como:
– A higienização das mãos e dos aparelhos que serão utilizados;
– Se atentar à marca e à origem na compra de produtos de consumo direto;
– Buscar informações sobre como as empresas seguem as boas práticas de fabricação e manipulação de alimentos.
Fugitas diz ainda que é necessário o aumento do monitoramento desse processo para garantir a preservação da qualidade dos produtos.
“Esse problema da falta de controle da produção existe em diferentes tipos de cultura alimentícia. O que está acontecendo lá fora joga luz para o fato de que os consumidores devem estar cientes de que os alimentos têm um jeito certo de serem produzidos”, diz.
Para Lucimeire, o armazenamento correto dos produtos é um dos pilares para preservar sua qualidade. É preciso manter hortaliças frescas e refrigeradas separadas de carnes cruas para evitar contaminação cruzada. “Quanto às carnes, é recomendável consumi-las suficientemente cozidas para garantir a segurança do alimento.”
JÚLIA GALVÃO / Folhapress