LONDRES, INGLATERRA (FOLHAPRESS) – O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou, em evento em Londres, que a expectativa para a inflação está desancorada, ou seja, que o mercado não acredita que o BC entregará o índice na meta, cujo teto em 2024 é de 4,5%. Segundo ele, por isso, o Brasil está neste momento na contramão do mundo: subindo os juros.
Campos Neto cobrou enfaticamente um choque positivo na área fiscal para conter esse processo, já que o mercado de trabalho no Brasil está apertado e os preços dos serviços estão pressionando.
“No Brasil, a gente tem uma inflação que, no curto prazo, parou de convergir. A gente tem uma economia que está acelerando, uma mão-de-obra muito apertada. Temos uma expectativa de inflação que tem desancorado, então o Banco Central iniciou um processo de ajuste para corrigir esse movimento,” disse Campos Neto.
Procurado, o Ministério da Fazenda não quis comentar a fala do presidente do Banco Central.
Campos Neto foi um dos palestrantes nesta terça-feira (29) do painel “A experiência brasileira com a Moeda Digital e o Open Finance”, na Lide Brazil Conference, uma iniciativa da Folha de S.Paulo, UOL e Grupo Lide. “O Plano Real foi o primeiro plano que teve um ajuste fiscal antes. Quando a gente olha de lá para cá, todas as vezes em que o Brasil conseguiu diminuir os juros, foram acompanhadas de choques fiscais positivos.”
Ele citou o teto de gastos, a reforma da Previdência como exemplos de mudanças fiscais importantes e emendou: “veio então o arcabouço, quando as metas fiscais foram mudadas e começou uma desancoragem na parte fiscal”.
“A mensagem é que é muito difícil trabalhar com juros estruturalmente mais baixos sem ter uma percepção pelo lado do mercado de que o fiscal vai melhorar”, afirmou. Na parte de tecnologia, Campos Neto destacou o uso do sistema de pagamentos Pix. Anunciou que vai se reunir, a partir da semana que vem, com membros do Google para o lançamento do Pix por aproximação. “A gente vai lançar o pagamento por aproximação do Pix, do mesmo jeito que você tem hoje na Wallet da Google.”
Haverá outros avanços, adiantou. “Será possível programar pagamentos recorrentes. E, eventualmente, conseguiremos fazer o bloqueio reverso de pagamentos, o que significa que o Pix conseguirá fazer todas as funções do cartão de crédito, de forma mais barata e mais eficiente.”
Para o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que também esteve no evento, a inflação “evidentemente preocupa”, mas não é um “problema insuperável”. Para ele, tão logo seja estabelecida a reforma tributária, que tramita no Senado, “teremos a outra face da mesma moeda que é o controle do gasto público”.
Durante o painel, Robert Wigley, da UK Finance, associação do setor bancário e de serviços financeiros no Reino Unido, afirmou que o Brasil é pioneiro no setor. “Temos muito o que aprender com o Pix, com a legislação de ativos digitais e outras questões.”
Paulo Henrique Costa, presidente do Banco BRB (Banco de Brasília), destacou como o Brasil se posiciona diante da transformação digital ao redor do mundo. “O Brasil sempre foi uma referência em adoção de novas tecnologias, mais de 160 milhões de usuários já fizeram ou receberam Pix,” afirmou, completando que a internet hoje chega a 92,5% dos lares brasileiros.
Segundo Carla Ferreira, vice-presidente da Câmara do Comércio na Grã Bretanha, o Pix foi um dos catalisadores do Open Finance no Brasil, assim como deverá ser o Drex, moeda digital em desenvolvimento pelo Banco Central. “Se o Reino Unido foi o berço do Open Banking, o Brasil trouxe a ele escala e velocidade”, afirma
O painel foi mediado por Flávia Lima, secretária-assistente de Redação da Folha de S.Paulo, e Carlos Marques, presidente do Lide Conteúdo.
A abertura oficial do Lide Brazil Conference, na manhã desta terça, teve a participação do ex-presidente Michel Temer, do embaixador do Brasil no Reino Unido, Antonio Patriota, de Pacheco e de Wickley.
Representando o Grupo Lide estavam João Doria Neto, presidente do Lide, João Doria, co-chairman, e Breno Silva, presidente do Lide UK. Completaram a mesa Paulo Samia, CEO do UOL, e Sérgio Dávila, diretor de Redação da Folha de S.Paulo.
MARINA IZIDRO / Folhapress