CURITIBA, PR (FOLHAPRESS) – Prefeito eleito em Curitiba neste domingo (27), Eduardo Pimentel (PSD) disse que ao menos duas das promessas feitas durante a campanha eleitoral serão colocadas em prática já em janeiro de 2025, no primeiro mês do mandato. Ele se refere a um vale-creche para famílias com renda de até três salários-mínimos e a meia tarifa de ônibus aos domingos e feriados.
Em entrevista à Folha de S.Paulo nesta segunda-feira (28), Pimentel também repetiu que se compromete com a redução do valor da passagem do transporte coletivo em dia útil, atualmente em R$ 6. Mas ele explica que isso só ocorrerá após o processo licitatório da nova concessão do transporte, previsto para final de 2025, e prefere não antecipar de quanto seria a redução.
Tarifa de ônibus e falta de vagas em creche estiveram entre os principais temas da campanha do segundo turno, marcada por troca de ataques entre Pimentel e a apresentadora e comentarista Cristina Graeml (PMB), que na véspera da eleição do primeiro turno recebeu o apoio informal do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), embora o PL estivesse formalmente na chapa encabeçada pelo PSD.
Sobre o assunto, Pimentel diz apenas que foi “uma decisão pessoal de Bolsonaro” e prefere não entrar na polêmica. Segundo ele, o eleitor curitibano não priorizou a “pauta ideológica” trazida pela sua rival nas urnas.
Acrescenta que vai dialogar com todos e buscar recursos tanto no governo federal de Lula (PT) quanto no governo paranaense, de Ratinho Junior (PSD), seu principal cabo eleitoral nesta campanha, junto com o prefeito Rafael Greca (PSD).
“Nunca estive com o presidente Lula, não concordo com as ações do governo federal, mas eu sou prefeito de Curitiba e eu vou, com diálogo, com respeito, buscar recurso no governo federal. Eu quero investimento na cidade para infraestrutura, para saneamento, para grandes obras públicas”, disse ele.
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Pergunta – Ao longo da campanha o senhor prometeu que a tarifa de ônibus seria reduzida depois do novo processo licitatório. Como assegurar isso no edital e de quanto seria a redução?
Eduardo Pimentel – Não está no meu plano de governo, mas, desde o primeiro dia do primeiro turno, eu falei que eu vou trabalhar com responsabilidade, com a redução da passagem a partir do novo contrato de concessão, que será feito em setembro do ano que vem.
Já contratamos o BNDES em novembro do ano passado para construir o edital de concessão. Não dá para saber de quanto será a redução porque isso depende da inflação, depende da construção do edital.
O que eu me comprometi já a partir de janeiro é a tarifa pela metade aos domingos e feriados. Para que as famílias possam visitar umas às outras, para lazer, ir na missa, ir no culto.
E também a tarifa zero para quem estiver desempregado momentaneamente. Para ele não deixar de ir a uma entrevista de emprego porque não tem recurso. A prefeitura vai pagar a passagem até ele pegar um emprego.
P. – Em meados deste ano, a fila de espera por uma vaga de creche tinha cerca de 10 mil famílias. E o senhor falou de zerar a fila até o fim de 2025. Como será feito isso?
E. P – São três formas para resolver isso no meu mandato. Primeiro, a construção de 36 creches. Serão 30 construídas com financiamento do BNDES e seis de fundo perdido do governo do estado. Mas elas levam tempo para serem construídas. Serão as 36 ao longo dos quatro anos.
Enquanto isso, também vamos ampliar a rede de contratação nas creches particulares. Que não é terceirização. É a contratação de vaga em creche particular. E, além disso, também vou instituir o vale-creche, no primeiro dia de governo, que é para as famílias com renda de até três salários-mínimos.
Elas vão receber o subsídio da prefeitura caso estejam na fila e não tenha vaga disponível nem na rede pública e nem na rede contratada. Então essas famílias vão poder usar o vale-creche em uma creche particular que não está no credenciamento, mas que é perto da sua casa ou do seu trabalho, para que ela tenha essa vaga garantida até sair a vaga na creche pública ou na rede contratada.
P. – Durante a campanha de segundo turno, o senhor bateu na tecla de que a pauta ideológica não põe comida na mesa. Mas a pauta ideológica é colocada pelo bolsonarismo, que o senhor abraçou na eleição geral passada. Pauta ideológica não serve para eleição municipal, mas serve para eleição para presidente, governador?
E. P. – Eu acho que a pauta ideológica pode ser colocada como um requisito para o voto, não vejo problema nisso. E deixei a minha posição clara desde o início, que eu sou centro-direita ou direita popular, como diz o governador Ratinho Junior, uma direita moderada. A direita não podia reclamar isso de mim, porque eu tinha o meu posicionamento claro. Mas acho que pauta ideológica não é o principal ponto para a decisão do voto em uma eleição municipal, ela pode ser na nacional.
Eu trabalhei para o Bolsonaro em 2022 e eu tenho o PL como meu vice, mas eu sou da cidade. Eu vou ser o prefeito de todos. E falei isso na campanha toda, principalmente no segundo turno, que a ideologia não coloca comida na mesa. Na minha avaliação, numa eleição municipal, o critério principal para definição do voto é a gestão da cidade, a discussão sobre a cidade. O eleitor curitibano mostrou isso, me colocando 15 pontos na frente no resultado final.
P. – O senhor teme que aquele episódio na campanha dos áudios da coação dos servidores por um superintendente atinja o mandato do senhor?
E. P. – Não temo, espero que não, porque nós somos muito enfáticos. O que teve foi uma ação isolada, não há nenhuma evidência de outras. Foi um servidor comissionado que, por vontade própria, por decisão própria, pressionou os servidores, assediou os servidores. Eu sou totalmente contra isso, mostrei minha indignação na hora. Ele foi demitido e a prefeitura abriu uma comissão.
P. – Nos áudios, ele sugere que a ordem veio de cima, menciona nomes do secretário e de outros superintendentes. Por que a prefeitura tem tratado a situação como um fato individual, isolado?
E. P. – Por isso que nós fizemos uma comissão interna [para investigar]. Se tiver provas de outras pessoas, vão ser demitidos. Eu não compactuo com nenhuma forma de pressão sobre o servidor, de conduta antiética.
P. – Essa comissão tem independência para atuar? E quando deve ser concluída a apuração?
E. P. – Sim, é uma comissão com servidores da prefeitura, através de um encaminhamento da Procuradoria-Geral do município. Vai levar pelo menos o mínimo necessário, pelo menos uns dois meses.
RAIO-X
Eduardo Pimentel, 40
Formado em administração, 40, é vice-prefeito de Curitiba desde 2016, na gestão de Rafael Greca (PSD). Antes disso, havia disputado uma eleição em 2010 para deputado estadual pelo PSDB, mas saiu derrotado. Depois acabou nomeado pelo então governador Beto Richa (PSDB) para a diretoria da Ceasa (Centrais de Abastecimento do Paraná) e seguiu em cargos públicos até a eleição de 2016. Ele é membro da família Slaviero, dona da rede de hotéis homônima, e neto de Paulo Pimentel, governador do Paraná de 1966 a 1971 e empresário da área de comunicação.
CATARINA SCORTECCI / Folhapress