Dólar dispara e vai a R$ 5,769 com Haddad dizendo que não há previsão para corte de gastos

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar disparou 1% e chegou a valer R$ 5,769 nesta terça-feira (29), após o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmar que não há previsão para fechar conjunto de medidas de contenção de gastos, prometido para depois do segundo turno das eleições.

Nesta segunda-feira (28), o dólar havia fechado próximo a estabilidade e permaneceu assim durante boa parte da manhã desta terça. O mercado permaneceu atento a uma série de dados econômicos dos Estados Unidos, entre eles emprego e confiança dos consumidores.

O relatório Jolts divulgado nesta terça mostrou que as vagas em aberto caíram em 418 mil, para 7,443 milhões no último dia de setembro —o nível mais baixo desde janeiro de 2021.

Esse cenário sinaliza uma retração na demanda por mão de obra, reforçando a visão de que o mercado de trabalho está perdendo força.

Analistas acreditam que os dados do mercado de trabalho podem influenciar o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) em sua decisão de política monetária, marcada para semana que vem, entre os dias 5 e 6 de novembro.

José Alfaix, economista da Rio Bravo, aponta que “a queda nas demissões voluntárias reflete uma maior cautela dos trabalhadores para mudar de emprego, reforçando a perspectiva de desaceleração econômica”.

Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, destaca que a desaceleração no mercado de trabalho “pode justificar a continuidade dos cortes de juros pelo Fed para apoiar o crescimento”.

Outra divulgação movimenta o mercado nesta terça. A confiança dos consumidores dos Estados Unidos subiu para o maior patamar em nove meses em outubro, em meio a uma melhor percepção sobre o mercado de trabalho.

O Conference Board informou que o índice de confiança do consumidor subiu de 99,2, em setembro, para 108,7 neste mês.

A expectativa em torno das eleições presidenciais americanas também movimenta o mercado.

Na disputa entre o ex-presidente Donald Trump e a vice-presidente Kamala Harris, o mercado aponta uma maior probabilidade de vitória para Trump, com chances de 66% de retorno à Casa Branca, segundo a plataforma Polymarket.

As promessas econômicas de Trump incluem aumento tarifário sobre as importações, especialmente as chinesas, e um possível corte de impostos —medidas que são vistas como inflacionárias e que podem influenciar o Fed a manter juros elevados por mais tempo.

“O mercado espera uma vitória de Trump, que, por diversos fatores, tende a fortalecer o dólar durante seu mandato e a manter a inflação e os juros elevados por mais tempo. Kamala, por outro lado, sem o apoio do Senado, provavelmente enfrentaria limitações para implementar mudanças significativas, o que manteria o dólar em um patamar um pouco mais baixo em relação a outras economias”, afirma Keone Kojin, economista da Valor Investimentos.

No Brasil, o mercado está de olho na política fiscal e na promessa do governo de cortar gastos após as eleições municipais.

Segundo Matheus Massote, especialista em câmbio da One Investimentos, há rumores de que o pacote fiscal ainda precisa da aprovação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o que pode “dificultar o processo e afastar a concretização das medidas”.

“O surgimento desses rumores foi o que movimentou os preços no início da tarde, levando o dólar a ultrapassar os R$ 5,76. Esse cenário gerou um descolamento ainda maior do real em relação a outras moedas de países emergentes”, afirma.

O real era a moeda que mais se desvalorizava entre as principais do mundo nesta terça.

A equipe econômica tem indicado que medidas concretas para reduzir despesas serão anunciadas em breve, uma expectativa que mantém investidores atentos à estabilidade das contas públicas.

“Temos visto a atividade econômica indo bem, com o PIB superando a marca de quase 3% e o desemprego em níveis baixos. Mas existe uma preocupação com a dívida pública e esse é o grande desafio do governo. O mercado segue à espera para ver se teremos contas públicas saudáveis”, afirma Kojin.

Os investidores também seguem atentos à trajetória da taxa básica de juros do país, a Selic. O Copom (Comitê de Política Monetária) do BC irá se reunir na semana que vem, também entre os dias 5 e 6 de novembro, para decidir sobre o patamar da taxa.

O colegiado reiniciou o ciclo de altas na reunião de setembro, quando optou por um aperto de 0,25 ponto percentual e levou os juros ao patamar de 10,75% ao ano. Desde então, os dirigentes têm reforçado que as próximas decisões estão à mercê dos dados econômicos, em especial os de inflação.

Considerado uma “prévia” da inflação oficial do país, o IPCA-15 acelerou a 0,54% em outubro, após marcar 0,13% em setembro. O resultado ficou acima da mediana das projeções de 0,51%, e levou o acumulado de 12 meses a acelerar para 4,47%. A taxa era de 4,12% no mês anterior.

A meta do Copom é de 3%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo. Ou seja, na leitura atual, o IPCA-15 está bem próximo ao teto da meta, de 4,50%.

No Boletim Focus desta segunda, analistas consultados pelo BC ainda subiram pela quarta semana consecutiva as projeções para o IPCA neste ano, com a expectativa agora ultrapassando a banda máxima da meta, a 4,55%.

O mercado espera um movimento mais agressivo do BC na semana que vem e projeta alta de 0,50 ponto percentual na Selic.

As curvas de juros futuros ainda têm subido por causa das pressões fiscais, indicando pessimismo do mercado em relação à trajetória das contas públicas —um dos focos de pressão inflacionária.

VITOR HUGO BATISTA / Folhapress

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