Endosso a candidatos não muda voto e afeta imagem de imparcialidade, diz Bezos, dono do Washington Post

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) -Três dias após o The Washington Post anunciar que não vai apoiar nenhum candidato nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, o dono do jornal americano, Jeff Bezos, justificou a decisão afirmando que endossos prejudicam a imagem de empresas de comunicação.

“Nenhum eleitor indeciso na Pensilvânia vai dizer: ‘Vou com o endosso do Jornal A'”, afirmou o bilionário em um artigo publicado no jornal nesta segunda-feira (28). “O que os endossos presidenciais realmente fazem é criar uma percepção de parcialidade.”

Segundo ele, essa imagem é particularmente prejudicial num momento em que a imprensa americana não tem a boa reputação de que gozava em outras épocas. Conhecido por ter fundado a Amazon, Bezos comprou em 2013 o The Washington Post, criado em 1877.

“Seria fácil culpar outros por nossa longa e contínua queda de credibilidade (e, portanto, declínio em impacto), mas uma mentalidade de vítima não ajudará. Reclamar não é uma estratégia. Devemos trabalhar mais para controlar o que podemos controlar para aumentar nossa credibilidade”, escreveu Bezos.

No editorial em que transmitiu a decisão, anunciada na última sexta-feira (25), o presidente-executivo do Washington Post, William Lewis, escreveu que o diário tampouco apoiaria candidatos nas próximas disputas à Casa Branca, “retornando às suas origens” —essa era a posição da publicação até 1976.

“Eugene Meyer, editor do The Washington Post de 1933 a 1946, estava certo. Por si só, recusar-se a endossar candidatos presidenciais não é suficiente para nos mover muito para cima na escala de confiança, mas é um passo significativo na direção certa”, afirmou Bezos no artigo desta terça.

O bilionário faz uma analogia com sistemas de votação —tão importante quanto contar os votos com precisão é as pessoas acreditarem na contagem, diz ele. “É um remédio amargo de engolir, mas estamos falhando no segundo requisito. A maioria das pessoas acredita que a mídia seja tendenciosa.”

“É um problema não apenas para a mídia, mas também para a nação. Muitas pessoas estão recorrendo a podcasts improvisados, publicações imprecisas nas redes sociais e outras fontes de notícias não verificadas, que podem rapidamente espalhar desinformação e aprofundar divisões”, afirmou.

Horas após veicular o editorial que divulgou a decisão, na sexta, o The Washington Post publicou uma reportagem que detalhou a decisão. Segundo os dois repórteres que assinaram o texto, havia um editorial pronto em apoio à candidata do Partido Democrata, Kamala Harris, que concorre contra o ex-presidente Donald Trump. Bezos, porém, barrou a publicação e decidiu que não haveria manifestação de apoio.

O empresário se defendeu das especulações de que a decisão poderia beneficiar Trump —o rumor foi reforçado com uma reunião, no mesmo dia do anúncio, entre o ex-presidente e Dave Limp, diretor executivo de uma de suas empresas, a Blue Origin.

“Sabia que isso forneceria munição para aqueles que gostariam de enquadrar isso como qualquer coisa além de uma decisão de princípio. Mas o fato é que eu não sabia sobre a reunião de antemão”, afirmou. “Você, é claro, é livre para fazer sua própria interpretação, mas te desafio a encontrar uma instância nesses 11 anos em que eu tenha prevalecido sobre alguém no The Washington Post em favor dos meus próprios interesses.”

Nos últimos meses, o entendimento de que o republicano é uma ameaça à democracia foi reforçado com declarações de diversos ex-aliados. O último foi John Kelly, que foi chefe de gabinete de Trump. Em entrevistas, Kelly disse que o ex-presidente costumava dizer que queria “seus generais” como os do ditador nazista Adolf Hitler.

Bezos não declarou apoio nem fez doações a nenhum candidato. Em julho, após Trump sofrer uma tentativa de assassinato durante um comício, o bilionário disse que o ex-presidente havia demonstrado “tremenda graça [divina] e coragem sob fogo real”.

Já em 2020, quando Joe Biden foi eleito, o empresário o parabenizou em uma publicação pelo Instagram e afirmou que “unidade, empatia e decência” não eram características do passado. “Ao votar em número recorde, o povo americano provou novamente que nossa democracia é forte”, escreveu.

A decisão do jornal levou ao cancelamento de pelo 200 mil assinaturas digitais e à renúncia de diversos colunistas, de acordo com a rádio pública americana NPR, atribuindo a informação a duas pessoas com conhecimento do assunto.

Críticas vieram também de Marty Baron, ex-editor-executivo do jornal. Na rede social X, ele afirmou que, com a decisão, o jornal demonstra uma “falta de coragem perturbadora”. “Isso é covardia, e a democracia é a vítima. Trump verá isso como um convite para intimidar ainda mais o proprietário Jeff Bezos (e outros)”, escreveu.

Veja quem os principais veículos apoiam nesta eleição

Trump

New York Post

Washington Times

Las Vegas Review-Journal

Kamala

The Atlantic

The New Yorker

The New York Times

Boston Globe

Las Vegas Sun

Vogue

Rolling Stone

Seattle Times

Sem apoio declarado

Washington Post

LA Times

USA Today

Chicago Tribune

Denver Post

Redação / Folhapress

COMPARTILHAR:

Participe do grupo e receba as principais notícias de Campinas e região na palma da sua mão.

Ao entrar você está ciente e de acordo com os termos de uso e privacidade do WhatsApp.

NOTÍCIAS RELACIONADAS