Flitabira celebra literatura brasileira com homenagem à defesa da liberdade

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “Tudo que fazemos tem um só objetivo: valorizar o autor brasileiro”, afirma Afonso Borges, gestor cultural que criou os festivais literários Flipetrópolis, Fliaraxá, Fliparacatu e Flitabira –que acontece desta quarta, 30, até o próximo domingo, 3.

O evento que começa agora em Itabira, no interior de Minas Gerais, tem como tema as palavras “Amor, Literatura e Ancestralidade”, com evidência para a literatura como centro. Esse é o conceito que, segundo Borges, permeia todos os seus festivais, inclusive este que toma a terra natal de Carlos Drummond de Andrade.

Nesta quarta edição do Flitabira, a ancestralidade é personificada na figura de Dona Tita, a centenária matriarca do Quilombo Santo Antônio, que será homenageada no festival.

A figura dela conversa com a proposta de diversidade do festival que, assim como o Fliaraxá que aconteceu em junho, tem equilíbrio de gênero e raça entre os autores convidados.

A seleção foi feita pela equipe de curadores que, além de Borges, tem o sociólogo Sérgio Abranches, o escritor Leo Cunha e os colunistas da Folha de S. Paulo Bianca Santana e Tom Farias.

Santana explica a escolha de convidados pelo que de fato vê no mundo literário. “A literatura universal não é branca nem europeia, mas é produzida por diferentes corpos, vindos de diferentes lugares, com diferentes trajetórias. Trazer autoras e autores, de diferentes gêneros e raças, reafirma essa real universalidade da literatura.”

Segundo Borges, acima da qualidade literária e da diversidade racial, o festival quer reunir personalidades que primam pela ética. Os escritores homenageados, Míriam Leitão, jornalista e autora de “Tempos Extremos”, e Jeferson Tenório, famoso por “O Avesso da Pele”, chamam a atenção da curadoria exatamente por sua defesa firme da liberdade e contra o autoritarismo.

Enquanto Leitão resistiu à ditadura e às torturas do regime militar, Tenório vem lidando com tentativas de censura de sua obra mais conhecida, que teve uma onda contrária a sua utilização nas escolas por suposto conteúdo inadequado.

Suas histórias de vida encarnam a dignidade do que escrevem “sem obviedades rasas e com a complexidade questionadora fundamental tanto à arte como à democracia”, aponta Santana.

A curadora esteve em todos os outros festivais que Borges realizou neste ano e fala com entusiasmo sobre os projetos. “Tem algo de muito especial nos festivais organizados por ele, que é um respeito muito grande às autoras e aos autores na conexão entre si e também na conexão com a cidade”, afirma.

Santana destaca o prêmio de redação e desenho, reconhecimento a trabalhos escritos por crianças e jovens da cidade anfitriã. “Você tem autores internacionais e nacionais aplaudindo crianças e seus familiares e professores.”

Apesar de serem festivais em localidades diferentes, Borges reconhece que o Flipetrópolis, o Fliaraxá, o Fliparacatu e o Flitabira compartilham “características marcantes idênticas”, espalhadas por diferentes endereços do Brasil. O curador se orgulha de promover “um ambiente amoroso e propício à leitura” pelas cidades que passa.

ISADORA LAVIOLA / Folhapress

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