RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A taxa de desemprego do Brasil voltou a recuar e marcou 6,4% no terceiro trimestre, apontam dados divulgados nesta quinta (31) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Isso significa que a desocupação atingiu o menor patamar para o intervalo até setembro na série histórica da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), iniciada em 2012.
Quando a análise considera os diferentes trimestres, uma taxa menor do que 6,4% só foi registrada nos três meses até dezembro de 2013: 6,3%.
O desemprego estava em 6,9% no segundo trimestre de 2024, que serve de base de comparação.
O novo resultado (6,4%) ficou levemente abaixo da mediana das projeções do mercado financeiro, que era de 6,5%, conforme a agência Bloomberg. O intervalo das estimativas ia de 6,4% a 6,6%.
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IBGE CITA ATIVIDADE AQUECIDA
Adriana Beringuy, coordenadora de pesquisas domiciliares do IBGE, associou a queda da desocupação ao cenário de atividade econômica no país. Nesse sentido, a técnica avaliou que há um aquecimento da economia via consumo.
Beringuy destacou que a melhora do emprego alcançou diferentes setores, e não apenas um grupo reduzido.
“Isso mostra um mercado de trabalho que não está observando melhorias isoladas em um trimestre, mas algo que vem sendo observado desde a segunda metade de 2022, e ganhando uma robustez, uma significância maior, a partir do ano de 2023.”
O economista Rodolpho Tobler, do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), vai na mesma linha.
“O mercado de trabalho está aquecido, bem mais do que se previa no início do ano. A economia é o principal fator para justificar esse desempenho”, diz.
Segundo Tobler, os ganhos de atividade estão mais espalhados neste ano por setores como indústria e comércio, e não tão concentrados na agropecuária. Isso também ajudaria a explicar o comportamento do emprego.
É possível, diz o economista, que a taxa de desocupação feche 2024 abaixo da mínima histórica de 6,3%, já que a reta final de ano costuma estimular a geração de vagas.
Já há, porém, sinais de uma possível perda de fôlego de parte dos indicadores, como a estabilidade da renda média identificada pelo IBGE no terceiro trimestre, pondera Tobler.
“Tem sinais que podem estar indicando uma desaceleração, mas a gente vai precisar de observação nos próximos meses para ver se de fato isso está acontecendo.”
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NÚMERO DE DESEMPREGADOS RECUA A 7 MILHÕES
O número de desempregados recuou a 7 milhões no terceiro trimestre. O contingente era de 7,5 milhões nos três meses anteriores. O novo contingente é o menor desde o trimestre encerrado em janeiro de 2015, disse o IBGE.
A população desempregada reúne pessoas de 14 anos ou mais que estão sem trabalho e que seguem à procura de oportunidades. Quem não está buscando vagas, mesmo sem ter emprego, não faz parte desse grupo nas estatísticas oficiais.
A taxa de desemprego já havia marcado 6,6% no trimestre móvel encerrado em agosto. O IBGE, contudo, evita a comparação direta entre períodos com meses repetidos, como é o caso dos intervalos finalizados em agosto e setembro.
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POPULAÇÃO COM TRABALHO RENOVA RECORDE
A população ocupada com algum tipo de trabalho (formal ou informal) chegou a 103 milhões no terceiro trimestre. Com o resultado, renovou o recorde dos diferentes intervalos da série histórica.
O contingente aumentou 1,2% frente ao trimestre imediatamente anterior (mais 1,2 milhão) e 3,2% na comparação com um ano antes (mais 3,2 milhões).
Os empregados no setor privado com carteira (39 milhões) e os sem carteira (14,3 milhões) também renovaram os recordes da série. Outra máxima foi a dos empregados no setor público (12,8 milhões).
Enquanto isso, a população fora da força, que não tem emprego nem busca trabalho, foi estimada em 66,4 milhões até setembro.
O contingente recuou 0,4% frente ao trimestre anterior (-293 mil) e diminuiu 0,6% em um ano (-413 mil).
A população fora da força reúne quem não é considerado ocupado nem desempregado nas estatísticas oficiais.
Envolve, por exemplo, o grupo dos desalentados, que desistiu de procurar trabalho por achar que não terá vez.
No terceiro trimestre, a população desalentada foi de 3,1 milhões. É a menor desde o intervalo encerrado em maio de 2016 (3 milhões), disse o IBGE.
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RENDA MÉDIA FICA ESTÁVEL
A renda média habitual do trabalho da população ocupada foi de R$ 3.227, por mês, no terceiro trimestre. Isso representa uma variação negativa de 0,4% ante o segundo trimestre (R$ 3.239).
O IBGE, porém, considera o resultado dentro da margem de estabilidade da pesquisa, sem variação expressiva em termos estatísticos.
De acordo com Beringuy, ainda não é possível dizer que o rendimento chegou ao teto após a recuperação recente. “Precisamos esperar novos resultados”, afirmou.
Conforme a pesquisadora do IBGE, um dos fatores que podem explicar a estabilidade é a incorporação de trabalhadores informais ao mercado.
Como esse grupo costuma ganhar menos, pode ter segurado a média.
Na comparação com o terceiro trimestre de 2023 (R$ 3.112), a renda seguiu em alta no país. O crescimento foi de 3,7%.
Para a gestora Kínitro Capital, o mercado de trabalho continua com desempenho “muito robusto”.
“O que vale destacar foi o arrefecimento dos dados de rendimento na margem, algo que temos que acompanhar nas próximas leituras para avaliar se configurará uma tendência ou não”, diz.
O desempenho aquecido do mercado de trabalho favorece o PIB (Produto Interno Bruto), mas traz alerta para impacto na inflação.
Conforme economistas, a sequência de avanços do emprego tende a beneficiar o consumo das famílias, considerado motor da atividade econômica.
O possível efeito colateral da procura por bens e serviços em alta, de forma contínua, é a pressão sobre os preços, o que desafiaria o processo de desinflação.
LEONARDO VIECELI / Folhapress