BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Quatro anos depois de a gestão João Doria (PSDB) sugerir a construção de uma nova arena poliesportiva no lugar do estádio Ícaro de Castro Mello, no Ibirapuera, o governo de São Paulo irá pagar R$ 63 milhões para reformá-lo e deixá-lo em condições de receber os principais eventos internacionais de atletismo.
Na terça-feira (30), o Consórcio Estádio Olímpico, encabeçado pela baiana OCC Construções, apresentou o melhor preço em um edital conduzido pela CDHU, a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do estado, um desconto de 22% do valor máximo estipulado.
A OCC é a mesma empresa que recentemente participou da reforma do Mangueirão, em Belém, outro estádio ícone do atletismo brasileiro. Também participam do consórcio a Saeid Engenharia e a Playpiso, especializada em pisos esportivos.
A reviravolta para o Ícaro de Castro Mello, que a gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) agora chama de “estádio olímpico”, começou no início deste ano, quando a Secretaria de Esporte alugou o local para um evento de drift, um tipo de corrida de carros.
A informação só veio a público quando a organizadora publicou nas redes sociais um vídeo de uma máquina retirando a manta da pista de atletismo, o que gerou forte repercussão. O local está em processo de tombamento pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que não havia sido consultado sobre a corrida.
Pressionada, a secretaria reagiu cancelando a corrida e criando um grupo de trabalho sobre um projeto de reforma, com a participação de entidades do atletismo, que já tinham atuado junto de atletas para impedir, em 2020, que Doria levasse adiante o projeto de concessão –que propunha pôr abaixo o estádio e transformar o ginásio do Ibirapuera em shopping center.
O Iphan, sob influência do então presidente Jair Bolsonaro (PL), interveio abrindo processo de tombamento, o que dificulta a concessão.
Agora, Tarcísio avança na reforma enquanto tenta reverter o tombamento do complexo na Justiça Federal. O plano é entregar as obras 16 meses após a contratação, que depende da homologação do resultado do edital, contestado pelo consórcio que ficou em segundo lugar.
Inaugurado há 70 anos, o Ícaro de Castro Mello foi reformado pela última vez entre 2010 e 2011, o que incluiu uma pista de primeiro nível internacional.
Até 2014, ela recebeu a maior parte dos principais torneios nacionais. Em 2016, a pista já não estava adequada para receber competições. Ao longo dos anos, até 2020, também os atletas migraram dali. Após a instalação de um hospital de campanha na pandemia, a pista ficou impraticável.
Com promessas de privatização desde 2017, o complexo esportivo do Ibirapuera não recebe investimentos públicos significativos há uma década. Agora, a reforma do estádio prevê um novo sistema de iluminação, 5.200 assentos, uma pista com nove raias e diversas melhorias estruturais.
O projeto executivo não cita a necessidade de instalação de traves de futebol no gramado, um indicativo de que a secretaria não pretende utilizar o Ícaro como estádio de futebol, como aconteceu principalmente na década de 1990, quando o local foi o principal palco da primeira onda de profissionalismo do futebol feminino no país. Os times masculinos de São Paulo, Corinthians e Santos também mandaram jogos lá.
DEMÉTRIO VECCHIOLI / Folhapress