SERRA GAÚCHA, RS (FOLHAPRESS) – Com a reabertura do Aeroporto Internacional Salgado Filho, de Porto Alegre, no último dia 21, os turistas devem voltar à Serra Gaúcha, a mais tradicional região produtora de vinhos do Brasil.
Engana-se quem espera encontrar um cenário apocalíptico. A Serra Gaúcha continua linda, e estará ainda mais em janeiro, fevereiro e março, quando acontece a vindima e quando o Salgado Filho já estará operando com capacidade total (por enquanto só funcionará das 8h às 22h). A Gol, por exemplo, prometeu que até lá terá reestabelecido todos os seus voos.
A economia gaúcha respira aliviada. A falta do aeroporto prejudicou os mais diversos setores da economia. Para poucos, no entanto, um aeroporto é tão essencial quanto para o turismo. No caso da porção da Serra Gaúcha colonizada por italianos, onde estão os municípios de Bento Gonçalves, Garibaldi, Farroupilha e Caxias do Sul, ainda por cima, o turismo se mistura ao comércio de vinhos e os prejuízos se multiplicam.
Para alguns produtores pequenos, o turismo e a venda de vinhos feita na lojinha da própria vinícola podem representar quase todo o movimento. Mesmo para os grandes, no entanto, o turismo é significativo. E todos estão ansiosos pela volta a normalidade.
A Miolo é uma das vinícolas que recebem turistas há mais tempo. Oferece várias experiências que vão de R$ 70 a R$ 310 por pessoa. Uma das mais simpáticas é a Visitação D.O. Espumante na Vinícola Miolo, que custa R$ 150, inclui visita à vinícola e degustação de quatro espumantes. O mais legal é o lugar onde ela acontece: no mirante da torre da Miolo. A vista é espetacular, vinhedos para todos os lados.
Dentro da Miolo, ainda há o Wine Garden, um wine bar ao ar livre. Um espaço muito agradável de mesas e nichos com almofadões espalhados pelo gramado em frente ao famoso vinhedo do Lote 43.
Na serra, não faltam opções ao ar livre. A Dal Pizzol Vinhos Únicos, por exemplo, recebe os visitantes em um parque onde há um lago, árvores de carvalho, sobreiro (cortiça), peças antigas de vinícolas, um vinhedo com centenas de variedades e um pequeno museu do vinho gaúcho. Um lugar delicioso para passar o dia com as crianças.
Lá eles oferecem diversas experiências com preços que começam nos R$ 50 por pessoa. Uma das que faz mais sucesso é a Degustação às Cegas (R$ 180), na qual o turista é submetido a experiências sensoriais e tenta descobrir o que está tomando, sem ao menos saber se é tinto ou branco.
A gastronomia se desenvolveu muito por lá nos últimos anos. O Valle Rústico, do chef Rodrigo Bellora, no Vale dos Vinhedos, em Garibaldi, é um dos que mais chama atenção pelo primor técnico e pela originalidade. A comida é saborosa e surpreendente. Rodrigo trabalha com ingredientes locais e pancs (plantas alimentícias não convencionais). O Menu Natureza custa R$ 285. Se harmonizado, o preço é R$ 480 e inclui quatro taças de vinho.
No Colheita Sazonal Cozinha e Hospedaria, em Pinto Bandeira, o chef Giordano Tarso trabalha com comida afetiva. São receitas cotidianas com o cuidado técnico de um chef. Ali há ainda alguns quartos para quem quiser a experiência completa, comer e passar a noite, tipo relais & chateaux. O menu, com duas entradas e dois pratos principais, sem vinhos, sai por R$ 145 e a diária da pousada começa em R$ 355.
Imponente e bastante animado, o hotel Spa do Vinho é cercado de vinhedos por todos os lados. Muitos desses vinhedo No fim de semana seguinte à abertura do aeroporto, a diária do hotel para casal está R$ 1.646.
O enoturismo tanto vem se mostrando promissor que muita gente investiu em instalações novas. A Cristofoli Vinhos de Família, que por anos improvisou com almoços ao ar livre ou dentro da pequena cave, por exemplo, inaugurou seu restaurante em setembro de 2022. “No caminho de Bento Gonçalves para Lajeado, Passo Fundo, os turistas passavam aqui na frente e entravam”, conta a enóloga Bruna Cristofoli. “Começamos a fazer piqueniques no edredom para recebê-los. Aí fizemos os almoços ao ar livre. Até que decidimos montar o restaurante.”
Bastante nova, mas já muito premiada, a vinícola Foppa & Ambrosi, cresceu no período da pandemia. “No início de 2020, estávamos justamente no impasse de como fazer nossos vinhos chegarem ao consumidor”, conta o sócio Lucas Foppa.
“Aí veio a pandemia e começaram as lives, as degustações online. Nós mergulhamos nessa onde e, de repente, estávamos muito próximos do consumidor.” As vendas online ganharam uma importância que nunca tinha tido e eles cresceram. Mesmo assim, quando acabou a pandemia, decidiram construir uma sala de degustações para acolher seus clientes.
Além dos benefícios econômicos diretos, a visita a vinícolas é uma ferramenta importante para a fidelização dos clientes. Até a Chandon do Brasil, que está em Garibaldi desde os anos 1970 e nunca se interessou por receber visitas, cedeu ao apelo do enoturismo e pela primeira vez em cerca de 50 anos decidiu investir em uma estrutura de turismo.
A Casa Chandon Garibaldi, montada com muito bom gosto em um contêiner no jardim da vinícola, de frente para um vinhedo, oferece degustações que vão de R$ 150 a R$ 290. Para quem quer só tomar uma taça ou comprar uma garrafa e beber em paz, a vinícola oferece também mesas no terraço e sofás e poltronas no jardim.
Cada vez mais o enoturismo se afasta da imagem das degustações cheias de formalidades e frescuras. Há informações técnicas para quem busca, mas há passeios para todos os gostos. Até para quem quer um gostinho radical, como o passeio de 4×4 da Família Geisse Vinhedos de Terroir, em Pinto Bandeira, que custa R$ 500,00 para duas pessoas. O jipinho aberto passa por trilhas e entre as fileiras de vinhedos, ao fim, no alto dos vinhedos, há um ambiente delicioso montado com espumantes no gelo esperando pelo visitante.
*A jornalista Tânia Nogueira viajou a convite da @agenciaconceitocom e da Gol Linhas Aéreas
TÂNIA NOGUEIRA* / Folhapress