WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – A primeira edição da marcha das mulheres aconteceu em 2017, um dia após Donald Trump tomar posse. Neste sábado (2), o movimento reuniu milhares de pessoas em Washington novamente para protestar contra um retorno do republicano à Casa Branca.
Mais do que a perspectiva de eleger a primeira mulher presidente, o temor do que um segundo mandato do empresário pode significar para direitos reprodutivos e de pessoas LGBTQIA+ animava a marcha.
“Trump é um ditador, e agora temos que lutar de novo batalhas que já ganhamos”, afirma Cory Roth, 63, em referência ao direito ao aborto –graças aos juízes conservadores apontados pelo ex-presidente para a Suprema Corte, a garantia ao procedimento em âmbito federal foi derrubada em 2022.
Caso o republicano seja eleito, democratas afirmam que ele buscará proibir a interrupção da gravidez em todo o país –Trump nega.
Questionada sobre sua expectativa para o resultado da eleição, Roth diz com a voz embargada que sabe que precisa ter esperança, mas que está com medo. De Connecticut, ela diz que sua família está dividida. “Mas o lado republicano não teme por sua segurança pessoal, como eu temo”, afirma. “Não entendo como as pessoas apoiam ele. Acho que é por ressentimento, egoísmo.”
Daiana Fossum, 63, veio com as duas filhas da Carolina do Sul para participar da marcha. Como Roth, ela diz acreditar que Trump será mais forte em um segundo mandato. “Agora ele tem a imunidade da Suprema Corte. Todo mundo [os funcionários] do primeiro mandato se foram. Ele quer ser um ditador”, diz.
Ao ser questionado sobre suas expectativas acerca do que Kamala pode fazer pela agenda feminista diferente de Joe Biden, ela diz que a democrata não tem medo de falar de direitos das mulheres –o atual presidente, um homem católico, evitava falar a palavra aborto, apesar de apoiar o direito.
“Mas o que queremos agora é que ela pare a destruição potencial que Trump causaria”, completa Fossum. “Kamala representa uma esperança para uma nova geração de mulheres.”
“Boa pergunta”, diz Sara Brunner, 41, à mesma questão. Depois de pensar um pouco, ela diz que espera que Kamala restaure as proteções ao direito ao aborto que vigoraram por quase 50 anos. Da Pensilvânia, um estado crucial na eleição deste ano, ela evita fazer uma previsão de qual será o resultado por lá. “Espero que seja Kamala, mas realmente temo que Trump vença.”
Valeria, 29, também prefere não fazer previsões para o que pode acontecer na terça-feira (5), dia da eleição. “É surpreendente que esteja tão acirrado, é bizarro”, diz.
Para ela, uma das razões para esse cenário é que os democratas se tornaram os representantes justamente do direito ao aborto e do direito de pessoas trans e da comunidade LGBTQA+ em geral. “Para muita gente são valores anticristãos, por isso aliena tantas pessoas”, avalia.
Além do direito ao aborto, ela teme que um novo governo Trump também dificulte o acesso a métodos contraceptivos –restrições constam no Projeto 2025, um plano conservador elaborado por muitos integrantes do primeiro mandato do republicano, e do qual ele tenta se desvincular devido à impopularidade das propostas.
“Acho que se Kamala vencer, ela vai apoiar restaurar o direito ao aborto, mas com a Suprema Corte atual e a dependência do Congresso, não sei o quanto ela vai conseguir. Mas pelo menos ela é a favor”, afirma.
Carly, 25, foi a única participante ouvida pela Folha que se disse confiante em uma vitória democrata na terça. De Baltimore, em Maryland, ela diz que não há outro resultado possível porque a vida das mulheres depende disso.
“Trump vai acabar com nossos direitos: acesso à saúde, aborto, direitos de pessoas trans”, elenca. Mas, questionada sobre o que Kamala fará de diferente de todos os presidentes homens da história do país, ela fica em silêncio e olha para a amiga, esperando uma ajuda.
“Não sei o que ela vai fazer”, responde a colega com um certo constrangimento. Carly retoma a palavra e diz que espera que a democrata seja racional. “Não acho que ela será tão facilmente persuadida por dinheiro como os homens. Pelo menos é o que eu espero.”
FERNANDA PERRIN / Folhapress