BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Coordenador do grupo de trabalho responsável pela estratégia eleitoral do PT, o senador pernambucano Humberto Costa avalia que o resultado das eleições deve servir de alerta para o partido e para o governo. Ele também diz que o presidente Lula (PT) não terá “muita alternativa” em 2026 a não ser concorrer à reeleição.
“Eu acho que ele não tem muita alternativa e certamente será o nome mais forte para essa disputa”, diz em entrevista à Folha, ao ser questionado sobre o temor de aliados de que o presidente não se candidate no próximo pleito.
“O governo e o PT precisam de uma chacoalhada. Se a chacoalhada, no caso do governo, é mudar ministros, aí é um julgamento do presidente da República. Agora, que o governo precisa ter uma chacoalhada, tem que ter. Assim como o PT”, afirma.
Vice-presidente nacional do partido e ex-ministro da Saúde, Humberto diz que o resultado eleitoral é um sinal de que a legenda deve pelo menos discutir se seu projeto está atualizado, continua potente ou precisa de mudanças, “talvez até mais profundas”.
Embora elogie o governo, chamando a política econômica de exitosa, Humberto diz que há “evidente falha de comunicação”. Além do problema na forma, ele acredita haver um problema de conteúdo e afirma que ações sociais hoje implementadas já foram incorporadas pela população como conquistas.
“É óbvio hoje que há uma parcela importante da sociedade com a qual nós não temos muito diálogo. Tem a ver com todo esse estigma que foi feito, mas também com o fato de que o PT, que sempre foi um partido inovador nas ideias, ações administrativas e gestões, hoje não tem tido essa característica inovadora”, reconhece.
Ainda segundo ele, apesar das ações em curso, o sentimento da sociedade sobre esse momento não corresponde ao que esperariam os governistas.
Em meio às discussões sobre o próximo presidente do PT e ao movimento pela escolha de um nordestino para a missão, Humberto diz que o regionalismo não deve ser critério para a sucessão de Gleisi Hoffmann (PR).
Mas afirma que o desempenho eleitoral de candidatos de fora do eixo paulista mostra que esses petistas têm o que dizer ao partido –a começar pelo ministro da Educação, Camilo Santana, cabo eleitoral do futuro prefeito de Fortaleza, Evandro Leitão, o único eleito em capitais.
“Pega o nosso candidato em Cuiabá [Lúdio Cabral].O candidato do PT que chega ao segundo turno num estado conservador daquele alguma coisa tem para dizer ao PT. Pega a Natália Bonavides [derrotada no segundo turno para a prefeitura de Natal], que fez uma campanha que há muito tempo eu não via no PT. É alguém que tem o que dizer ao PT”, afirma.
Humberto lembra ainda que os governadores petistas estão no Nordeste.
“Pega o Camilo. Além de ser um ministro competente, comandou a maior vitória que o PT teve nessa eleição. Ele não tem nada para dizer para o PT? Quando eu estou falando ‘ele não tem nada para dizer para o PT’ é ‘o Nordeste não tem nada para dizer ao PT?’.”
Além da autocrítica sobre o partido e o governo, o senador não esconde o que vê como “falta de organização” no Congresso. Humberto diz que os ministros e a bancada governista deveriam ser mais cobrados pelo Palácio do Planalto e avalia como um erro a decisão de evitar o embate político sobre temas polêmicos por temer derrota em plenário.
“Eu acho que o resultado é importante, mas essa era a mesma lógica dos governos anteriores, tanto de Lula quanto de Dilma. E quem ganhou o debate político naquele processo? Você tem que fazer as duas coisas: buscar resultado, negociar até onde não for mais possível, e fazer o enfrentamento político. Aqui são poucos que fazem.”
Humberto recomenda que ministros, não apenas do PT, orientem os parlamentares de seus partidos a apoiar as ações de suas respectivas pastas. Segundo ele, a oposição faz críticas às ações federais em plenário sem que os correligionários dos ministros, inclusive do centrão, os defendam.
“Se não tem ninguém que diga ‘bicho, vai lá, pô, defende o governo, vai lá para a tribuna, faz isso, faz aquilo’, as pessoas vão se acomodando. Criaram uma máxima de que oposição fala e discute, governo vota. Mas isso aqui é, acima de tudo, uma Casa de debate político, de formar a opinião da sociedade”, afirma.
CATIA SEABRA E THAÍSA OLIVEIRA / Folhapress