Republicanos invertem papel com democratas e torcem por maior comparecimento nas eleições dos EUA

DETROIT, EUA (FOLHAPRESS) – “Os republicanos deveriam rezar para chover”, título de um artigo científico de 2007, foi o dogma do Partido Republicano americano durante muitos anos. Como explicava o texto em questão, o mau tempo era um fator que reduzia mais o número de eleitores do Partido Democrata do que de republicanos nas urnas. Entre os democratas havia mais pobres, negros e hispânicos, eleitores que têm mais dificuldades para ir até a seção eleitoral. Outro axioma longevo era: quanto menor o comparecimento dos eleitores —nos Estados Unidos o voto não é obrigatório–, melhor para os republicanos.

Mas a eleição presidencial americana desta terça-feira (5) deve consolidar uma completa inversão de papéis. Agora, quem depende do eleitor que tem menos propensão a comparecer são os republicanos.

Nos últimos anos, mais do que renda, o grau de escolaridade passou a ser um fator determinante no pleito dos EUA. Os republicanos foram se tornando o partido dos brancos sem ensino superior completo e ganharam espaço entre jovens hispânicos e negros nesse perfil, ao mesmo tempo em que se mantêm os preferidos de parte da comunidade empresarial. O chamado “eleitor de baixa propensão” tornou-se o protagonista do eleitorado da sigla. E o voto dos “bróders”, homens da geração Z que estão desencantados ou desapegados da política e gostam do estilo sem filtros de Donald Trump, é uma das principais apostas do republicano.

Já os democratas, que eram a legenda da classe trabalhadora, estão se transformando no partido dos eleitores com maior grau de escolaridade, muitos vivendo nos subúrbios (que nos EUA compreendem os bairros ricos), além de manter força, ainda que menor, entre negros e hispânicos. O racha de gênero continua e se aprofundou –a maioria dos homens prefere os republicanos, e a maior parte das mulheres tende aos democratas.

Os democratas têm melhor desempenho entre os eleitores assíduos, aqueles que votam em primárias, em eleições de meio de mandato e presidenciais.

Segundo compilação de pesquisas NBC News de julho, setembro e outubro, Kamala Harris tem 51% dos eleitores que votaram nas eleições de 2020 e 2022; Trump tem 45%. Já entre eleitores menos assíduos, Trump leva vantagem –48% a 44% entre aqueles que votaram em 2020, mas não em 2022, e 50% a 40% entre aqueles que não compareceram em 2020 e em 2022.

Dados do Censo americano mostram que os eleitores com menos escolaridade são bem menos assíduos: em 2020, os eleitores com menor grau de instrução tiveram comparecimento de 38%, diante de 70% com ensino médio e 83% entre os que tinham pós-graduação.

A guinada republicana tem produzido episódios até então impensáveis na disputa deste ano. Com raízes nas estratégias para supressão de votos dos negros, muitos políticos do partido, nos estados que governam, propunham leis eleitorais que dificultam o voto, exigindo mais documentos e complicando o processo. A artimanha tinha como objetivo reduzir o comparecimento às urnas que, como regra, afetava mais os eleitores democratas.

Agora que são os republicanos a mirar o eleitor pobre e de baixa propensão a votar, a campanha de Trump tem denunciado supostas tentativas de supressão de sufrágio por parte dos democratas. O partido também focou esforços para aumentar o voto antecipado e até pelo correio (depois de dizerem que essa opção seria passível de fraude, em 2020).

Reportagem do The New York Times revela que um dos apoiadores mais célebres de Trump, o bilionário Elon Musk, alertou o republicano em abril, por mensagem de texto, para a importância de estimular o voto antecipado.

Os votos de brancos de baixa escolaridade, a classe média baixa, ganharam destaque em 2016, quando Trump derrotou Hillary Clinton com grande ajuda desse eleitorado.

Neste ano, Kamala perdeu votos, proporcionalmente, entre negros e hispânicos, o que pode ser reflexo da desaprovação de eleitores conservadores à agenda progressista e da questão econômica.

Pesquisa do The Times/Siena revela que 45% dos eleitores hispânicos e 41% dos negros apoiam a deportação de imigrantes em situação irregular, e cerca de metade dos eleitores afirma que o crime é um problema grave que saiu de controle.

Mesmo assim, os democratas confiam que o apoio maciço das mulheres, inclusive das republicanas anti-Trump, e os ganhos entre o eleitorado assíduo podem garantir a vitória.

PATRÍCIA CAMPOS MELLO / Folhapress

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