Votação no Michigan transcorre em paz, mas eleitores não deixam temor de lado

DETROIT, EUA (FOLHAPRESS) – Em Detroit, a maior cidade do Michigan, a votação na manhã desta terça-feira (5) transcorria com tranquilidade, apesar da preocupação de muitos eleitores com a possibilidade de conflitos durante a contagem de votos, como ocorreu em 2020 na cidade.

Na entrada da seção eleitoral de Northwest Activity Center, tinha até DJ e reverendos para evitar conflitos. Voluntários, cabos eleitorais e eleitores dançavam ao som de funk e soul. A maior parte dos eleitores era negra, como a maioria (78%) da população de Detroit.

Pesquisas apontam que a candidata democrata Kamala Harris deve vencer na cidade. No estado, porém, levantamentos indicavam um empate com o republicano Donald Trump.

O reverendo batista Steve Bland Jr. estava na entrada da seção —ele é parte do grupo apartidário Faith United Save America, que reúne 173 líderes religiosos de diversas denominações que atuam em seções eleitorais em Michigan. Ele havia votado pela manhã.

“Houve um aumento na retórica violenta relacionada à eleição. Nosso papel é conversar com as pessoas, tentar evitar conflitos e acalmar os ânimos”, disse Bland à reportagem. Em todo o país, são 1.400 religiosos do grupo de Bland atuando em seções eleitorais neste dia de eleição. “Tentamos conversar, mas se houver alguma atitude criminosa, denunciamos à polícia, e também temos advogados disponíveis.”

O professor de ensino médio aposentado Michael Stenvig, 80, também estava preocupado com a possibilidade de conflitos. “Não tenho nenhuma dúvida de que vai haver violência e que a eleição não será decidida hoje”, afirmou Stenvig, que votou pelo correio duas semanas atrás e estava no local como voluntário, fazendo campanha para candidatos ao conselho escolar.

Em 2020, manifestantes ameaçaram invadir o local onde os votos estavam sendo contados em Detroit, um centro de convenções, afirmando que havia fraude na contagem. Desta vez, as autoridades da cidade reforçaram a segurança e mudaram o local de contagem para uma área mais resguardada dentro do centro de convenções.

Stenvig, que diz ter votado em Kamala, demonstrou preocupação com a política para aquecimento global caso Trump vença. “Está fazendo 20°C hoje. Normalmente, estaria 7 ou 8 graus, e a essa altura já teria nevado três vezes. Não tivemos nenhuma neve até agora”, disse.

Trump retirou os Estados Unidos do Acordo de Paris quando era presidente. Na campanha deste ano, afirmou que quer aumentar a produção de petróleo e cancelar os programas de incentivo à transição energética. “Os EUA vão perder a credibilidade no mundo se Trump for eleito. Estamos vivendo uma ascensão do fascismo, como nos anos 30”, afirmou.

Stenvig, no entanto, disse não estar confiante. “Adoraria dizer que estou confiante na vitória de Kamala Harris. Ela fez uma excelente campanha, mas não sei se vai ganhar.”

No Michigan, mais de 3,2 milhões de pessoas votaram antecipadamente, de forma presencial ou pelo correio. No estado, há 7,2 milhões de eleitores registrados para votar. Michigan é um dos estados-pêndulo mais cobiçados, com 15 votos no Colégio Eleitoral —há, no total, 538 delegados em disputa, e um vencedor só consegue a vitória se conquistar ao menos 270.

Aqui não se pode votar com camiseta nem adereço de partido ou candidato. E a campanha só pode ser feita a partir de 50 metros da entrada da seção eleitoral. “Kamala já declarou que quer ter republicanos em seu governo. Ela fará um governo de união”, disse Raphael Washington, xerife do condado de Wayne, que tem 1,8 milhão de habitantes. Ele supervisiona as polícias do condado e está concorrendo à reeleição. “Racismo sempre é um fator, mas [Barack] Obama provou que brancos votam em negros, e Kamala vai provar também.”

PATRÍCIA CAMPOS MELLO / Folhapress

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