Latinos e atuação de governador ajudam a explicar guinada conservadora na Flórida

WEST PALM BEACH, EUA (FOLHAPRESS) – Com cerca de 30% da população de origem latina, a Flórida, que tem 30 dos 270 delegados no Colégio Eleitoral dos Estados Unidos, consolidou-se nesta terça-feira (5) como um dos principais redutos republicanos do país e evidenciou marcas de conservadorismo.

Embora a imigração latina seja uma das questões que Donald Trump promete combater, esta fatia do eleitorado, junto à atuação do governador republicano Ron DeSantis, é o que ajuda a explicar a votação de 56% que ele obteve no estado, avaliam estudiosos e políticos.

Os latinos da Flórida, de maioria cubana, são cristãos e temem o comunismo, o qual Trump sempre diz querer extinguir, e por isso encontram no discurso republicano um anteparo, avalia Silvia Pedraza, professora de sociologia e sociedade americana da Universidade de Michigan.

A Flórida elegeu o ex-presidente Barack Obama em 2008 e 2012, mas em 2016 e 2020 teve maioria a favor de Trump. A diferença das duas últimas eleições para esta é que o futuro presidente ampliou a margem em relação ao Partido Democrata e conquistou maioria, por exemplo, no condado de Miami-Dade -o mais populoso da Flórida-, que até então não havia eleito republicanos.

Além disso, a população também rejeitou em plebiscito a legalização do aborto após seis semanas e a maconha para uso recreativo. O primeiro teve o apoio de 57% dos eleitores e o segundo, de 56%, mas seriam necessários 60% para as medidas serem aprovadas.

Uma pesquisa divulgada na semana passada pela Universidade Internacional da Flórida mostrou que 68% dos cubanos do condado de Miami-Dade -que tem 70% da população latina do estado e da qual cerca de metade é cubana- estava inclinada a votar em Trump.

Isso representaria um aumento de 10 pontos percentuais em relação ao apoio que o republicano teve no local em 2020. A exceção captada pelo levantamento eram os cubanos nascidos fora de Cuba, que apresentaram uma intenção de voto menor no presidente eleito.

Para a professora Silvia Pedraza, a rejeição do Partido Republicano a líderes de esquerda latino-americanos ajuda a explicar por que o estado se tornou “profundamente vermelho” (cor dos republicanos).

“Muitos dos novos imigrantes latino-americanos na Flórida vêm de lugares como Cuba, Venezuela, Nicarágua, Colômbia, lugares onde tiveram um encontro com o socialismo, comunismo. Isso os empurra para as mãos do Partido Republicano”, avalia Pedraza.

A professora ainda acredita haver uma influência da religião na rejeição da legalização do aborto e da liberação do consumo na Flórida. “Muitos dos imigrantes latinos nos Estados Unidos, imigrantes latino-americanos do México, da Nicarágua, são muito católicos em geral, e provavelmente seguirão o que a igreja deles lhes diz para seguir.”

Para a vice-presidente do Partido Democrata do condado de Miami-Dade, Millie Herrera, outros dois fatores influenciaram o resultado eleitoral: a ausência do Partido Democrata no estado e a atuação do governador Ron DeSantis contra a legalização do aborto e liberação da maconha.

“O partido entregou a Flórida. Não tivemos muita atividade e perdemos a oportunidade de alcançar os eleitores. Não prestamos atenção neles. Quando isso acontece, eles gravitam em direção à pessoa que presta atenção em você”, disse Lacombe à reportagem.

Ela ainda aponta que DeSantis usou a estrutura do estado para se contrapor às propostas do plebiscito. “DeSantis usou dinheiro público, o que é ilegal, para fazer campanha contra isso. Deve haver um processo.”

Carolina Camps, presidente da Cuban American Women Supporting Democracy (movimento de mulheres cubanas americanas pela democracia), também reclama da atuação de DeSantis contra o plebiscito. Ela aponta o conservadorismo dos latinos como aspecto para o voto em Trump.

“A comunidade latina, os homens latinos, são misóginos. Eles podem não admitir, mas são”, diz.

O aspecto religioso foi justamente o que levou a camareira Rosidalia Perez, 22, a votar em Trump. “Ele apoia o cristinianismo. E fez um bom primeiro governo no primeiro mandato”, diz. A tia de Rosidalia, Rosa Perez, 59 anos, aponta os mesmos motivos para o voto no republicano.

JULIA CHAIB / Folhapress

COMPARTILHAR:

Participe do grupo e receba as principais notícias de Campinas e região na palma da sua mão.

Ao entrar você está ciente e de acordo com os termos de uso e privacidade do WhatsApp.

NOTÍCIAS RELACIONADAS