SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Triunfo de Trump inaugura nova era para Elon Musk, dólar dispara ao redor do mundo, BC eleva Selic em 0,5 ponto percentual e outros destaques do mercado nesta quinta-feira (7).
**MUSK, A ESTRELA DE TRUMP**
Qualquer lista de vencedores da eleição que garantiu o retorno de Donald Trump terá Elon Musk. O excêntrico bilionário entrou de cabeça na campanha do republicano e é cotado para assumir um cargo no novo governo.
ENTENDA
O dono da Tesla, do X (ex-Twitter) e da SpaceX doou mais de US$ 100 milhões (R$ 582,94 milhões) para a campanha e organizou assembleias em estados-chave como a Pensilvânia. Ele usou sua conta na rede social para propagar campanhas pro-Trump.
Na terça, tuitou quase 200 vezes, de acordo com uma análise do Financial Times, em postagens acumularam 955 milhões de visualizações.
O magnata da tecnologia compartilhou dezenas de alegações infundadas sobre a eleição, segundo reportagem do New York Times.
PASSADO
Musk disse ter votado anteriormente em Joe Biden, Hillary Clinton e Barack Obama antes de mover-se para a direita nos últimos anos. Hoje, se declara um “absolutista da liberdade de expressão”.
PRESENTE
O bilionário concorda com o trumpismo em pautas como imigração, redução da regulamentação, ataques à mídia tradicional e a políticas voltadas para minorias, que ele chama de “woke” (este texto explica o termo) .
FUTURO
Musk, segundo o presidente eleito, estará no seu governo. Ele assumiria como chefe de um novo Departamento de Eficiência Governamental, com o objetivo de cortar impostos e reduzir a presença do estado.
SIM, MAS…
A presença do bilionário é questionada pelos conflitos que interesse que a presença dele geraria. Levantamento do New York Times aponta que as empresas de Musk figuram entre as principais contratadas pelo governo americano.
A SpaceX e a Tesla fecharam acordos que somam US$ 15,4 bilhões (R$ 87,4 bilhões) com Washington, em setores como transportes, defesa, agricultura e comunicações.
Só em 2023 foram quase 100 contratos com 17 agências federais, com promessa de pagamento de US$ 3 bilhões (US$ 17,1 bilhões).
Trump não parece se preocupar com isso. Uma estrela nasce: Elon [Musk], afirmou o presidente eleito no discurso da vitória.
[+] Para ouvir: Citizen Elon (Cidadão Elon)
O podcast produzido pela Bloomberg conta, em três episódios, como o homem mais rico do mundo embarcou na campanha de Trump. A produção lembra o histórico de relações do bilionário com os democratas e reproduz críticas e xingamentos do futuro presidente ao agora melhor amigo.
**DÓLAR FORTE**
O resultado da eleição dos EUA movimentou bolsas de valores ao redor do mundo e garantiu um dia de alta nas ações da Tesla e de bancos americanos nesta quarta-feira (6).
O dólar se valorizou em comparação às principais moedas. O índice DXY, que mede a força dele em relação a outras seis moedas fortes, disparou 1,60%.
No mercado de ações Os principais índices dos EUA atingiram máximas históricas: o S&P 500 saltou 2,4%, o Dow Jones subiu 3,4% e o Nasdaq Composite saltou 2,7%.
As ações da Tesla e de bancos americanos dispararam. Veja em números:
– Tesla: 14,3%;
– Goldman Sachs: 12,91%;
– JPMorgan: 12,91%;
– Morgan Stanley: 13,11%;
Os papéis de empresas do setor de defesa, como a Northrop Grumman (+2%), e de petróleo, como a Chevron (+2%), também tiveram um salto.
ENTENDA
Bancos e grupos de defesa estão entre as companhias que podem se beneficiar com a volta dos republicanos à Casa Branca. Há uma expectativa de que Trump implemente cortes de impostos, desregulamentação e reduza da independência do Fed (o banco central norte-americano).
E AQUI?
O dólar fechou em forte queda de 1,23% nesta quarta, a R$ 5,675, na contramão do movimento visto ao redor do mundo. A Bolsa caiu 0,28%, aos 130.287 pontos.
Por quê? As expectativas dos investidores sobre o pacote de corte de gastos do governo federal anularam os efeitos da eleição.
A leitura de investidores é de que, com Trump na Casa Branca, o mundo entrará em um período de dólar e juros mais altos, restando ao Brasil fazer o “dever de casa” nas contas públicas para reduzir a pressão.
** SELIC SOBE**
Os juros no Brasil subiram mais uma vez, como era esperado pelo mercado financeiro. Nesta quarta-feira (6), o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central elevou a taxa básica (Selic) em 0,5 ponto percentual, de 10,75% para 11,25% ao ano.
A justificativa? Um ambiente externo que permanece desafiador. No comunicado, o colegiado apontou como principal fator a incerteza nos Estados Unidos, logo após a vitória de Trump.
O aumento da projeção da inflação e a necessidade de o governo apresentar uma política fiscal crível também foram destacados.
Essa foi a primeira decisão desde a aprovação de Gabriel Galípolo para chefiar o BC em 2025.
A transição de comando vai até o fim do ano, quando termina o mandato de Roberto Campos Neto.
Segunda alta consecutiva. O ciclo de subida de juros teve início na última reunião, em setembro, quando o Copom optou por um movimento mais gradual, de elevação de 0,25 ponto percentual primeiro aumento feito no terceiro mandato de Lula (PT).
FUTURO EM ABERTO
O colegiado não se comprometeu com o ritmo do próximo movimento.
As incertezas em relação à inflação, à política fiscal e ao cenário externo podem levar a um ciclo de alta mais forte, segundo economistas ouvidos pela Folha de S.Paulo.
E eu com isso? Os juros básicos funcionam como um piso para todas as taxas.
Ao subir, eles combatem a inflação porque esfriam o consumo e compensam os gastos altos do governo. Mas também dificultam o acesso a empréstimos e arrefecem a economia.
Mesmo com a alta, o Brasil caiu da segunda para a terceira posição no ranking mundial de juros reais, que considera a Selic descontada a inflação.
O juro real no Brasil está em 8,08% ao ano, valor inferior apenas ao da Turquia (15,18%) e da Rússia (12,19%), segundo ranking elaborado pelo Portal MoneYou.
VICTOR SENA / Folhapress