RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O fim das eleições municipais deu a largada para a marcação de posição dos principais potenciais postulantes ao Palácio Guanabara em 2026.
Mal as urnas foram fechadas, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), e o presidente da Assembleia Legislativa, Rodrigo Bacellar (União Brasil), trocaram farpas públicas e sinalizaram para possíveis aliados na disputa estadual.
Os dois negam publicamente a intenção de disputar o cargo daqui a dois anos, mas são os que mais se movimentaram após os resultados das urnas em outubro.
Paes tem a garantia de apoio do PT e do presidente Lula na disputa. Contudo, assim como no pleito municipal, tem como objetivo ampliar o leque de aliados. O prefeito avalia que precisa melhorar a capilaridade da sua campanha no interior, seu principal desafio.
Bacellar, por sua vez, buscou se aproximar de Jair Bolsonaro (PL) para se apresentar como opção para a família na disputa. O objetivo do ex-presidente e de seu partido é focar na eleição para o Senado, abrindo espaço para alianças nas candidaturas aos governos estaduais.
Os dois trocaram ataques publicamente dias após o primeiro turno. O prefeito comparou a atuação do deputado estadual com a de grupos mafiosos. Em resposta, o deputado o chamou de “vagabundo”, “dissimulado”, “cínico” e “menina virgem no cabaré”.
Paes tentou levar o embate para a esfera política, buscando articular uma frente contra Bacellar na disputa pelo comando da Assembleia no início do ano que vem. Ele chegou a ensaiar uma aproximação com MDB, PP e o próprio PL, bases do governador Cláudio Castro (PL).
O escândalo de infecção de pacientes por HIV após transplantes, porém, alterou o campo de movimentação de Paes. O deputado federal Doutor Luizinho (PP), que sinalizava com a possibilidade de enfrentar Bacellar, teve de recuar após sua área de influência, a Secretaria de Saúde, ficar no foco das investigações.
O presidente da Assembleia brecou a criação de uma CPI sobre o tema, amarrou o PP em sua reeleição ao cargo, bem como limitou a articulação de Paes para tentar atrair Castro para uma alternativa ao comando da Casa.
O prefeito, que via em Luizinho uma opção para ampliar seu leque de aliados, precisou recuar da aproximação no curto prazo.
A movimentação de Paes ocorre mesmo após a promessa do prefeito, feita durante a campanha eleitoral, de não abandonar o cargo para disputar o Palácio Guanabara. Embora a possibilidade de não concorrer ainda esteja na mesa, aliados veem disposição dele em enfrentar eventual desgaste para tentar pela terceira vez ser governador -perdeu em 2006 e 2018.
“Ele jurou pelo Vasco, né? Acho que ele vai parar de torcer pelo Vasco. O Eduardo Paes vai ser convocado para ser candidato a governador”, disse Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD, em entrevista ao Canal Livre, da Band, no domingo (3).
Uma das principais sinalizações foi o fato de Paes não ter abandonado as críticas à segurança pública após a vitória no primeiro turno.
O posicionamento, que antes era visto como uma estratégia eleitoral para desgastar o adversário Alexandre Ramagem (PL), passou a ser encarado como uma entrada no debate da principal agenda estadual.
“Eu vou, com a legitimidade de quatro mandatos de prefeito do Rio de Janeiro, cobrar em nome da população carioca a inação de vocês, a falta de política de segurança pública, as vergonhas que a gente está vivendo”, disse ele, há duas semanas, no dia em que três pessoas morreram na avenida Brasil após uma operação policial.
Paes sai em desvantagem no interior, onde o PSD obteve apenas duas pequenas prefeituras: Carmo e Porciúncula, ambas com cerca de 15 mil eleitores. As siglas de sua coligação somam 18 das 92 prefeituras do estado.
Bacellar, por sua vez, tem como principal ativo a capilaridade de aliados pelo estado. O União Brasil, sob sua presidência estadual, elegeu 12 prefeitos. O PL, que ele corteja, conseguiu 22 prefeituras.
Assim como Paes, o presidente da Assembleia nega a intenção de concorrer ao governo estadual.
Afirma que seu principal objetivo é uma vaga no TCE-RJ (Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro), onde trabalhou. Contudo iniciou antes das eleições um périplo de reuniões que incluiu três Bolsonaros: Flávio, Jair e Carlos.
“Há a possibilidade de a gente usar essa vaga para construir uma chapa forte para senador, deputado, apoiando um candidato que não seja do PL. É uma possibilidade”, disse o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), em entrevista ao site Metrópoles.
A ascensão meteórica do deputado estadual, porém, tem sido vista com ressalvas por lideranças políticas fluminenses. Ele lançou candidaturas em cidades importantes, como Nova Iguaçu e Duque de Caxias, atrapalhando os planos de importantes lideranças regionais, como Doutor Luizinho e Washington Reis (MDB), respectivamente.
O campo bolsonarista ainda está suscetível a eventual decisão intempestiva de Jair Bolsonaro, que costuma ter especial peso no Rio de Janeiro, seu domicílio eleitoral.
Ramagem, cujo resultado na eleição municipal foi visto como positivo, é nome citado, embora a maior probabilidade é que ele concorra à recondução na Câmara dos Deputados. Até mesmo Flávio é ventilado para entrar na disputa.
Luizinho também era visto como uma opção de nome tanto pelo grupo de Paes como de Castro e o PL.
O escândalo dos transplantes, porém, tornou o nome do deputado inviável na avaliação atual. Washington Reis também é mencionado como uma alternativa, tanto por sua articulação política no estado como por sua proximidade com Bolsonaro.
O vice-governador Thiago Pampolha (MDB) é citado ainda como possível nome do MDB, caso o partido opte por se manter distante da provável polarização da disputa fluminense.
ITALO NOGUEIRA / Folhapress