Líder da torcida do Rosário é morto a tiros na Argentina, que teme alta na violência

BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – Mais um crime em Rosário, na Argentina, despertou o alerta para a violência na cidade portuária que é berço de nomes de peso do futebol. Andrés “Pillín” Bracamonte, 53, líder da torcida organizada do Rosario Central, foi morto a tiros neste fim de semana na rua.

A autópsia inicial revelou que cinco tiros o atingiram. A investigação apenas começou, mas os relatos apontam que homens armados o atacaram a poucas quadras do estádio Gigante de Arroyito. Na mesma ação morreu outro homem que trabalhava com ele, Raúl Attardo.

O caso despertou alerta das autoridades e dos moradores não apenas pelo histórico de violência em Rosário –cidade de onde saíram Lionel Messi e Ángel Di Maria– mas também porque pode jogar luz sobre um tema há décadas conhecido: as relações entre as torcidas organizadas da cidade portuária e as redes de narcotráfico.

O crime poderia estar somente relacionado a disputas internas na torcida —e as autoridades dão indícios de que priorizam essa hipótese—, mas há o temor de que a morte de Bracamonte desperte uma nova onda de violência no município de 1,3 milhão de habitantes (tamanho equivalente à cidade de Guarulhos).

O líder da torcida do Rosário tinha relações públicas com o Los Monos, principal grupo criminoso da cidade, ligado ao narcotráfico. Seus laços com o comércio de drogas eram investigados, mas Bracamonte não escondia a proximidade com a família Cantero, líder da Los Monos.

O grupo se transformou ao longo dos últimos 20 anos em uma rede de delitos. O comércio de drogas, facilitado pelo rio da Prata, era apenas parte da engrenagem de outras atividades como sequestros, extorsões e cobranças de pagamento por proteção (as “vacinas”, ou “vacunas”).

No recente livro “Rosário: A História por Trás da Máfia Narco que se Apoderou da Cidade”, os jornalistas Germán de Los Santos e Hernán Lascano, que há décadas cobrem o tema, mostram como as redes de narcotráfico se aproximaram das torcidas pela capilaridade que essas organizações têm nos bairros e cooptaram lideranças.

Tanto não escondia os vínculos que recentemente Bracamonte disse a um dos maiores jornais do país, o La Nacion, que, em agosto, quando ele teria sido alvo de outra tentativa de assassinato, a Los Monos lhe “ofereceu fazer uma caça naquela mesma noite”.

“Me ofereceram dez carros com gente armada para sair e buscar os que tinham atirado em mim; eu os impedi porque não quero voltar à prisão. Sou diferente. Vivo bem, não uso drogas, não bebo, não fumo.”

A entrevista foi concedida há 20 dias para uma investigação de maior fôlego e publicada agora, após a morte de Bracamonte. Chama a atenção o que ele dizia ao repórter: “Se me matam, a cidade pega fogo”. É esse o temor das autoridades, e a equipe de Segurança do governo de Javier Milei já disse que ajudará a polícia da província de Santa Fé, onde está Rosário, a ampliar as patrulhas em vias públicas.

Bracamonte foi assassinato pouco após deixar o estádio que sediou uma partida entre o Rosário e o portenho San Lorenzo, que ganhou por 1 a 0 na noite de sábado (9), na casa dos rivais.

A violência ligada ao narcotráfico escalou em Rosário nos últimos anos. Entre os casos de maior comoção nacional, no ano passado um menino de 11 anos foi morto na rua em meio a uma troca de tiros de diferentes facções. Máximo estava com outros amigos na rua, após uma festa de aniversário. Outras três crianças ficaram feridas no mesmo episódio.

Com forte agenda securitária, a administração de Javier Milei priorizou esse tema, criou a chamada Operação Bandeira na cidade e enviou efetivos federais. Em agosto, o Ministério da Segurança, sob a batuta da ex-presidenciável Patricia Bullrich, afirmou que a taxa de homicídios ali havia sido reduzida em 62% nos primeiros oito meses do ano em comparação com o mesmo período de 2023.

O cenário se refletiu no futebol. Tanto Messi quanto Di María já foram ameaçados na cidade. No caso do atleta do Benfica, antes de renovar seu contrato com o clube português, em agosto, ele sinalizou que gostaria de retornar para o Rosario Central, onde tudo começou.

Mas a ameaça de morte em uma parte próxima à região onde vivem alguns de seus familiares também pesou. Di María chegou a dizer a um canal de TV aquilo “incluenciava muito” em suas decisões.

MAYARA PAIXÃO / Folhapress

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