RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Oito anos após sediar as Olimpíadas, o Rio de Janeiro volta a ser centro de atenção mundial ao sediar a Cúpula de Chefe dos Estados do G20, no MAM (Museu de Arte Moderna), nos dias 18 e 19.
Os eventos começam na cidade nesta quinta-feira (14), na zona portuária. O local sediará o G20 Social, com participação de entidades da sociedade civil, e o U20, encontro de prefeitos das maiores economias do mundo. Antes, nesta terça (12) e na quarta (13), ocorrem as últimas reuniões dos negociadores dos países.
Se o G20 marca o retorno de grandes encontros internacionais à cidade, a sua organização na região central reflete a volta do protagonismo da área em relação à zona oeste, principal sede dos últimos eventos internacionais. O centro é atualmente alvo de estímulo para reocupação urbana.
O primeiro de uma série de eventos internacionais no Rio de Janeiro após a redemocratização foi a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, conhecida como Eco-92. Na ocasião, 108 chefes de Estado se reuniram para discutir as bases para um desenvolvimento sustentável do planeta.
O encontro foi realizado no Riocentro, centro de convenções no bairro hoje chamado Barra Olímpica. A região iniciava seu desenvolvimento, cujo ápice foi com os Jogos de 2016.
A Eco-92 ficou marcada pelo forte esquema de segurança armado pelo Exército. Um tanque de guerra chegou a ser posicionado em São Conrado, nas imediações da favela da Rocinha, imagem que marcou o período. No Aterro do Flamengo, movimentos sociais realizaram eventos paralelos.
Um ano após a Eco-92, o então recém-eleito prefeito Cesar Maia incluiu no Planejamento Estratégico da cidade o objetivo de sediar as Olimpíadas. A intenção era expandir a internacionalização da marca do Rio de Janeiro décadas após deixar de ser a capital do país. Na ocasião, a candidatura para a edição de 2004 engatinhava.
O cientista político Elizeu Santiago, diretor de Ensino e Pesquisa do Arquivo da Cidade, afirma que os eventos esportivos foram uma forma de a cidade tomar as rédeas de uma agenda internacional própria.
“Os eventos esportivos foram estratégias exitosas e inteligentes para colocar a cidade nas principais prateleiras globais. Nesse caso, a iniciativa parte do próprio município e, depois, claro, ganha apoio diplomático. É diferente dos eventos políticos, como a Eco-92 e o G20, que dependem de uma demanda do país para depois definir a cidade”, disse Santiago.
Após ser eliminada da disputa pelos Jogos Olímpicos de 2004, a cidade apostou na postulação pelos Jogos Pan-Americanos de 2007. A boa organização do evento, apesar do estouro do orçamento de obras, foi o cartão de visitas para pleitear as Olimpíadas de 2016.
O Pan também marcou a exploração da zona oeste como espaço para recepção de eventos, com a construção de arenas na região que sediaria, nove anos depois, o Parque Olímpico.
Após a vitória do Rio de Janeiro em Copenhague, em 2009, para sediar os Jogos de 2016, a cidade voltou a receber eventos internacionais de outros matizes.
Em 2012, foi realizada a Rio+20, encontro que marcou os 20 anos da Eco-92. Os chefes de Estado se reuniram mais uma vez no Riocentro, enquanto as ONGs se concentraram na Cúpula dos Povos, no Aterro do Flamengo.
No ano seguinte, o Rio de Janeiro sediou a Jornada Mundial da Juventude, que marcou a primeira viagem fora da Europa do papa Francisco, recém-alçado ao posto. A missa campal seria realizada em Guaratiba, na zona oeste, mas foi transferida para a praia de Copacabana após a área destinada para o evento ficar alagada com uma forte chuva dias antes.
As Olimpíadas de 2016 encerraram o ciclo de dez anos de eventos internacionais da cidade iniciado no Pan de 2007, tendo como principal palco o Parque Olímpico da Barra da Tijuca, na zona oeste.
Santiago afirma que a cidade tem como marca esses eventos desde o início do século 20, com a 3ª Conferência Pan-Americana, realizada em 1906. A agenda de encontros internacionais foi interrompida entre as décadas de 1960 e 1970, segundo ele, em razão da ditadura militar, e não pela perda do status de capital para Brasília.
Para ele, o protagonismo da região central no G20 também devolve o destaque à área que sediou os primeiros eventos internacionais da cidade.
“Os grandes eventos nos séculos 19 e 20 eram feitos no centro histórico ou na avenida Beira-Mar. Quando leva para a zona oeste, dialoga com o crescimento urbano da cidade naquele período. O G20 retoma a tradição e revaloriza uma área que é agora alvo de muita atenção urbanística”, diz o diretor do Arquivo da Cidade.
A Prefeitura do Rio de Janeiro aprovou uma série de incentivos para a reocupação do centro, a fim de reduzir a pressão da especulação imobiliária na zona oeste, farta em terrenos desocupados.
O MAM, no Aterro do Flamengo, recebeu investimentos de R$ 32 milhões para modernização de elevadores, restauração da fachada e revitalização de seu entorno, incluindo os jardins projetados por Roberto Burle Marx.
O museu também sediou as reuniões da Cimeira, em 1999, bna primeira reunião entre os chefes de Estado e de governo da América Latina e do Caribe e da União Europeia, num dos poucos eventos internacionais fora da zona oeste no período.
ITALO NOGUEIRA / Folhapress