BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O líder do PSD na Câmara dos Deputados, Antonio Brito (BA), anunciou nesta quarta-feira (13) que desistiu de sua candidatura à sucessão de Arthur Lira (PP-AL) na presidência da Casa. Ele também disse que o partido irá apoiar Hugo Motta (Republicanos-PB).
O movimento consolida ainda mais o nome de Hugo no páreo e praticamente enterra a possibilidade de outra candidatura competitiva.
“Foi uma posição majoritária da bancada, muitos concordaram, outros não. Estamos juntos numa só decisão. A candidatura do PSD capitaneada por mim está retirada e declaramos apoio à candidatura do Hugo Motta”, disse Brito.
O anúncio foi feito ao lado do presidente nacional da sigla, Gilberto Kassab, após reunião da bancada do partido na Casa. Kassab afirmou após o encontro que é preciso “olhar para frente, pensar no Brasil e num país cada vez melhor”.
Mais cedo nesta quarta, Brito e Kassab se reuniram com Hugo e o líder do PP, Doutor Luizinho (RJ). Na segunda, Kassab esteve com Lira, em São Paulo.
No início da reunião, o deputado Gilberto Nascimento (PSD) brincou com a participação de Kassab na sala, em referência à influência política do dirigente. “Deus os criou e Kassab os uniu”, disse.
Na semana passada, Brito sinalizou que poderia deixar a disputa. Após reunião com os deputados do PSD, ele foi reconduzido líder do partido e disse que seguia candidato, mas que abriria diálogo com Hugo e Lira para tratar da “proporcionalidade” do partido nos espaços da Câmara.
Hoje, o PSD ocupa a 3ª Secretaria da Casa, a primeira suplência e a presidência da Corregedoria e da Ouvidoria, além de ter o comando de duas comissões: Minas e Energia e Turismo.
Nos bastidores, parlamentares da sigla dizem que, caso houvesse uma sinalização da manutenção desses espaços, além da relatoria da CMO (Comissão Mista de Orçamento) do próximo ano, o partido poderia desistir da candidatura de Brito. Isso porque na reeleição de Lira foi estabelecido um rodízio entre quatro partidos relacionados à CMO e à CCJ (Comissão de Constituição e Justiça).
A terceira secretaria, no entanto, foi prometida ao Podemos, que já anunciou apoio a Hugo. Também há um nó a ser desatado com a CMO. Porque a relatoria em 2025 foi prometida por Hugo ao MDB e o partido não pretende abrir mão desse espaço para contemplar o PSD. O próprio União Brasil também pleiteia essa vaga.
Há uma avaliação entre aliados de Hugo de que o parlamentar não pode abrir mão de espaços já negociados com outras siglas para acomodar União Brasil e PSD, já que os dois partidos tinham candidaturas próprias e resistiram a endossar o líder do Republicanos.
Nesta quarta, no entanto, Brito disse que esses espaços serão mantidos. “Está tudo mantido. É um direito da bancada, não pedimos nada a mais do que a bancada teria na Casa. A bancada do PSD segue unida e agora vamos avançar pelo bem da Câmara e pelo bem do país”, disse.
Ele também anunciou que será conduzido líder do bloco MDB, PSD, Podemos e Republicanos até fevereiro.
O líder do União Brasil, Elmar Nascimento (BA), e Brito tinham selado uma aliança na disputa. O União Brasil já decidiu apoiar o líder do Republicanos, apesar de Elmar ainda não ter desistido publicamente (ele aguarda o fim das negociações de espaços com Hugo).
Até momentos antes da reunião, a bancada do PSD estava dividida: de um lado, deputados defendiam a manutenção da candidatura para marcar uma posição. De outro, parlamentares tinham receio de o partido ficar alijado e perder os espaços na Câmara.
Apesar disso, há um sentimento predominante na bancada do partido de “insatisfação” com o governo e o PT por causa do apoio do partido à candidatura de Hugo. Eles dizem que a bancada vota em peso nas matérias de interesse do Executivo e que Brito, entre os postulantes à presidência da Casa, era o considerado o mais governista.
Nesse sentido, avaliam que a bancada merece um reconhecimento do Executivo e citam até mesmo o desejo de um novo ministério para ser comandado por um representante do grupo. Eles criticam o fato de o Ministério da Pesca, comandado por André de Paula, ter pouco poder e dizem ser necessário uma outra pasta ou até uma maior robustez.
Uma liderança do partido diz, sob reserva, que a relação do governo com o PSD na Câmara “deverá ser repensada”.
Apesar de a candidatura de Hugo estar consolidada, aliados do líder do Republicanos avaliavam ser necessário tirar Brito da disputa para evitar qualquer reviravolta no pleito, ainda que considerassem essa possibilidade remota.
Além disso, integrantes do centrão não negam insatisfação com Kassab, principalmente após o resultado das eleições municipais. Desde o começo, alertam que Brito na presidência da Casa daria poder demasiado ao presidente da sigla.
VICTORIA AZEVEDO / Folhapress