WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – Donald Trump retornou à Casa Branca nesta quarta-feira (13) para um encontro com o presidente Joe Biden. Foi a primeira vez que o republicano voltou à sede da Presidência dos Estados Unidos desde que deixou o governo, em janeiro de 2021 -sem reconhecer sua derrota e afirmando que houve fraudes na eleição.
A reunião entre os dois é um dos momentos mais emblemáticos do período da transição e serve para o democrata marcar uma diferença em relação a Trump. Nesta mesma época em 2020, o republicano usava artifícios para contestar a corrida. O discurso resultou na invasão do Capitólio por seus apoiadores, que tentaram impedir a certificação de Biden como presidente.
O convite para o encontro desta quarta partiu do democrata, para cumprir uma tradição de que o chefe da administração recebe o eleito e indica uma transição pacífica de poder. Barack Obama fez o mesmo com Trump em 2016.
Biden se reuniu com o sucessor por cerca de duas horas no Salão Oval, em um encontro descrito como “muito cordial”. Antes de ficarem a portas fechadas, o presidente parabenizou o eleito pela vitória.
“Estamos ansiosos para ter uma, como dissemos, transição tranquila -faremos tudo o que pudermos para garantir que você tenha o que precisa. E teremos a oportunidade de falar sobre um pouco disso hoje. Então, seja bem-vindo de volta.”
O republicano respondeu: “A política é difícil e, em muitos casos, não é um lugar agradável, mas hoje é um lugar agradável”.
Os líderes foram acompanhados do chefe de gabinete da Casa Branca, Jeff Zients, e da futura ocupante do cargo, Susie Wiles.
Depois do encontro, a porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, disse a repórteres que a reunião foi significativa e que Trump tinha uma série de perguntas. Ela afirmou que os dois líderes debateram uma série de temas, entre eles o financiamento do governo, a assistência emergencial para desastres e formas de garantir que a transição se dê de forma ordenada.
Ao jornal New York Post, o republicano disse que o encontro foi ótimo e disse que eles discutiram outros assuntos relevantes, como as guerras na Ucrânia e no Oriente Médio.
“Eu perguntei as opiniões dele, e ele me deu”, afirmou Trump ao jornal. “Além disso, falamos bastante sobre o Oriente Médio. Eu queria saber a opinião dele sobre onde estamos e o que ele pensa. E ele me deu as respostas, foi muito gentil.”
A esposa de Trump, Melania, negou o convite da primeira-dama Jill Biden para um encontro também nesta quarta.
Este foi o primeiro encontro entre o republicano e o democrata desde o debate presidencial em junho, também marcado por um clima de tensão. Na ocasião, eles nem se cumprimentaram.
O então candidato Biden foi encurralado por Trump em temas-chave para o eleitorado americano e, depois de começar o debate com a voz já rouca, teve uma performance desastrosa. O resultado foi péssimo para o presidente, que teve sua capacidade cognitiva questionada, e foi determinante para que ele abandonasse a corrida presidencial, o que levou Kamala Harris a se tornar a candidata do partido.
Mais cedo, o presidente eleito foi ao Congresso, onde se encontrou com republicanos e acompanhou a votação do novo líder do partido no Senado.
A transição ainda não começou efetivamente porque Trump não assinou os papéis que dão acesso aos dados do governo, mas ele já anunciou os nomes para vários dos cargos-chave na sua administração.
A maioria deles é aliada de primeira hora do republicano ou o assessorou durante a campanha. Isso abarca um dos principais apontamentos até então, de Elon Musk, dono do X, para chefiar o órgão que ainda será criado, o Departamento de Eficiência Governamental, junto com Vivek Ramaswamy, ex-adversário de Trump nas primárias do Partido Republicano.
Trump disse querer cortar US$ 6,5 trilhões de gastos anuais do governo. O órgão terá a sigla DOGE, em provável referência à criptomoeda Dogecoin, apoiada por Musk em diversas ocasiões. Ainda não está claro qual será o papel do departamento, se executivo ou de orientação às demais pastas do governo.
O dono do X foi um dos mais vocais aliados de Trump durante a campanha. Já havia a expectativa de que o republicano o recompensasse depois com um espaço na gestão. “Isso vai chocar o sistema e qualquer pessoa envolvida em desperdício dentro do governo -ou seja, muitas pessoas!”, disse Musk.
O ritmo de anúncios da transição destoa da primeira eleição de Trump. Naquele momento, o então presidente eleito tinha dificuldade de unificar os republicanos e encontrava resistências no partido -cenário bem diferente do atual.
A esta altura da transição naquele ano, Trump só havia anunciado dois nomes: o presidente do Partido Republicano, Reince Priebus, como chefe de gabinete, e Steve Bannon para o posto de estrategista-chefe.
JULIA CHAIB / Folhapress