SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Injeções semanais de tirzepatida vendida comercialmente como Mounjaro reduziram o risco de progressão para diabetes tipo 2 em adultos com pré-diabetes e obesidade ou sobrepeso e resultaram em perda de peso ao longo de 176 semanas.
É o que mostra o resultado do estudo de fase 3 SURMOUNT-1, divulgado nesta quinta-feira (14) pela fabricante do medicamento, Eli Lilly. Segundo a farmacêutica, trata-se da pesquisa mais longa de tirzepatida concluída até hoje. Os dados foram publicados no The New England Journal of Medicine e apresentados recentemente na Obesity Week 2024.
O ensaio clínico multicêntrico, randomizado, duplo-cego, paralelo, comparou a eficácia e segurança das três apresentações da tirzepatida (5 mg, 10 mg e 15 mg) com placebo como adjuvante a uma dieta hipocalórica e aumento da atividade física em adultos sem diabetes tipo 2 que tinham obesidade ou sobrepeso com pelo menos uma das seguintes comorbidades: hipertensão, dislipidemia, apneia obstrutiva do sono ou doença cardiovascular.
Os 1.032 participantes a maioria mulheres e com idade média de 48,2 anos receberam uma dose semanal de tirzepatida ou placebo ao longo de 176 semanas. Após o período, seguiram em acompanhamento por 17 semanas, sem tratamento ou placebo. Do total, 14 dos analisados não completaram o protocolo até o fim do ciclo.
Em 176 semanas, os 245 indivíduos que receberam 5 mg perderam 15,4% do peso corporal; 260 que utilizaram a apresentação de 10 mg reduziram 19,9% do peso; já a dose de 15 mg de tirzepatida demonstrou perda de peso de 22,9% para 249 pessoas, de acordo com o trabalho. No grupo placebo, com 264 pessoas, a diminuição foi de 2,1%.
“No estudo, uma redução média de peso de até 22,9% foi acompanhada por uma razão de risco de 0,06 para a progressão para diabetes tipo 2. Isso se traduz em uma redução de risco de 94%”, disse Jeff Emmick, M.D., Ph.D., vice-presidente sênior de desenvolvimento de produtos da Lilly.
Segundo a análise, apenas 1,2% foi diagnosticado com diabetes tipo 2 ao final do tratamento. Dos que receberam placebo, o percentual chegou a 12,6%.
Na etapa sem tratamento ou placebo após 17 semanas, 2,4% dos participantes que receberam tirzepatida e 13,7% do grupo placebo foram diagnosticados com diabetes tipo 2.
“Estamos vendo resultados sem precedentes de um tratamento que, além de reduzir a glicemia e peso corporal de forma sustentada por três anos, demonstrou poder de diminuir a chance das pessoas em desenvolver diabetes no futuro. Os dados reforçam nosso entusiasmo com relação ao potencial de tirzepatida para tratar diabetes e também demonstram potencial para auxiliar pacientes com obesidade, condição que afeta cerca de 25% da população adulta do país”, afirma o diretor médico da Eli Lilly do Brasil, Luiz Magno.
Para ele, a medicação vai revolucionar o tratamento da doença. “Nos estudos de diabetes tivemos pacientes que atingiram uma hemoglobina glicada abaixo de 5,7 com a dose de 15 miligramas, ou seja, nível de quem não tem diabetes. Eu acho que a tirzepatida é uma revolução no tratamento de pacientes com diabetes e doenças metabólicas”, conclui.
Em setembro de 2023, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou o Mounjaro para o tratamento de adultos com diabetes tipo 2. A Eli Lilly ainda não tem previsão para o início da comercialização no país.
A farmacêutica deverá publicar no próximo ano os resultados de um estudo que compara o Wegovy (semaglutida) com o Mounjaro na indicação para obesidade.
Tirzepatida
A tirzepatida é um agonista dos receptores GIP (polipeptídeo insulinotrópico dependente de glicose) e GLP-1 (peptídeo semelhante ao glucagon-1) administrado uma vez por semana. É uma molécula única que ativa os receptores do corpo para GIP e GLP-1, que são hormônios incretínicos naturais.
Tanto os receptores de GIP quanto de GLP-1 são encontrados em áreas do cérebro humano importantes para a regulação do apetite. A tirzepatida diminui a ingestão calórica, e os efeitos são provavelmente mediados pela alteração no apetite.
Os eventos adversos gastrointestinais mais comuns em pacientes tratados com tirzepatida foram náuseas, diarreia e constipação.
PATRÍCIA PASQUINI / Folhapress