Número de representantes de combustíveis fósseis na COP29 supera o de países vulneráveis

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Ao menos 1.773 executivos da indústria de combustíveis fósseis estão credenciados para participar da COP29, conferência do clima da ONU (Organização das Nações Unidas) que acontece em Baku, no Azerbaijão.

O número, calculado por ONGs a partir da lista provisória dos inscritos fornecida pela organização da cúpula, foi divulgado nesta sexta-feira (15). No relatório, 450 entidades ambientalistas denunciam a presença e a grande influência dos grupos lobistas das energias fósseis nas negociações.

A coalizão de ONGs, intitulada Kick Big Polluters Out (expulse os grandes poluidores), afirma que a quantidade supera a das delegações dos dez países considerados mais vulneráveis às mudanças climáticas que estão presentes em Baku, mesmo quando somadas (1.033). As nações em questão são Chade, Ilhas Salomão, Níger, Micronésia, Guiné-Bissau, Somália, Tonga, Eritreia, Sudão e Mali.

Se fossem um país, os executivos ligados aos combustíveis fósseis seriam a quarta maior delegação, aponta ainda o documento. O número só perde para as comitivas do anfitrião Azerbaijão (2.229), do Brasil (1.914) —que será a sede da COP30, em 2025— e da Turquia (1.862).

Ao todo, quase 53 mil pessoas estão credenciadas na COP29, além da equipe técnica e dos organizadores, segundo a ONU.

O grupo Kick Big Polluters Out calcula anualmente quantos representantes dos combustíveis fósseis participam das COPs. Em 2023, na COP28, realizada em Dubai, nos Emirados Árabes, houve um recorde: 2.456 participantes ligados ao setor de combustíveis fósseis, responsável por 75% das emissões de gases causadores do aquecimento global.

A rede de ONGs, na COP27, apontou que o setor levou 636 representantes para o Egito, o recorde até então. Já em 2021, na Escócia, foram 503 os representantes das indústrias do carvão, petróleo e gás pelos corredores da COP26.

Além das ONGs, o ex-vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore, presente na conferência, criticou a presença de lobistas.

“É lamentável que o setor de energia fóssil e os petroestados tenham assumido o controle dos processos da COP, de uma forma insalubre”, disse.

O presidente da COP29, Mukhtar Babayev, é ex-executivo da Socar, estatal azeri de petróleo e gás. O Azerbaijão tem a sua economia centrada nos combustíveis fósseis, assim como o anfitrião anterior, os Emirados Árabes Unidos.

REFORMA DAS COPS

Também nesta sexta-feira, personalidades como o ex-secretário-geral da ONU Ban Ki-moon e os cientistas Johan Rockström, da Suécia, e Carlos Nobre, do Brasil, pediram uma mudança radical na organização das COPs.

O grupo defende que as reuniões aconteçam em países comprometidos em deixar as energias fósseis para trás, com metas ambiciosas de corte de emissões de carbono no Acordo de Paris.

A carta tem ainda entre seus signatários nomes como o da ex-secretária executiva da UNFCCC (Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima) Christiana Figueres, da ex-presidente da Irlanda Mary Robinson e da presidente do Instituto Igarapé e colunista da Folha Ilona Szabó de Carvalho.

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O projeto Excluídos do Clima é uma parceria com a Fundação Ford.

Redação / Folhapress

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