Atos contra escala 6×1 têm baixa adesão e críticas à esquerda e à direita

SÃO PAULO, SP E BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) – Manifestações de apoio ao fim da escala 6×1, de seis dias de trabalho para um de folga, ocorreram em capitais de todas as regiões do país nesta sexta-feira (15), feriado da Proclamação da República, mas tiveram baixo comparecimento, apesar de o assunto ser um dos mais comentados em redes sociais.

Em São Paulo, o ato ocupou cerca de metade de um quarteirão da avenida Paulista pela manhã até seguir em direção à rua da Consolação. Em Belo Horizonte, os manifestantes se reuniram na praça Sete, um dos cartões-postais da cidade. Não há estimativas oficiais sobre o total de presentes.

As manifestações foram convocadas pela deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP), autora da PEC (proposta de emenda à Constituição) que prevê redução da jornada de 44 horas semanais para 36, e pelo movimento VAT (Vida Além do Trabalho).

Os ativistas compararam a jornada de 44 horas à escravidão e, em diversos momentos, entoaram cantos em xingamento a expoentes da direita e da esquerda.

No ato em Belo Horizonte, os presentes criticaram o ministro do Trabalho e Emprego do governo Lula (PT), Luiz Marinho. “Que contradição, tem ministro do Trabalho que é contra a redução [da escala 6 por 1]”, cantaram.

A pasta chefiada por Marinho defendeu, na segunda-feira, que a proposta fosse negociada diretamente entre empresas e trabalhadores, por meio de convenções e acordos coletivos. Após repercussão negativa, o ministro voltou atrás na quinta-feira e disse, em vídeo, ser a favor do fim da escala 6 por 1 sem redução de salários.

Já em São Paulo, o alvo principal foi o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), que também foi criticado na capital mineira. Em coro, parte das pessoas presentes no ato paulistano gritou: “Nikolas Ferreira, vai tomar no cu”. O parlamentar também foi chamado de “Nicole”, em referência à peruca que usou na tribuna da Câmara dos Deputados no ano passado para criticar pessoas trans.

Mas, para Erika Hilton, a pauta une esquerda e direita. “Essa não é discussão de campo ideológico, mas de país. Tem unido a direta, o centro e a esquerda”, afirmou na Câmara dos Deputados na quarta, ao lado de outros coautores da proposta.

A proposta já ultrapassou as 171 assinaturas necessárias para ser debatida no Congresso Nacional, mas ainda precisa ser protocolada para avançar entre os parlamentares.

O debate que ganhou força nas redes sociais e no mundo político nesta semana começou com um desabafo de Rick Azevedo, eleito vereador pelo PSOL no Rio de Janeiro no último pleito e fundador do movimento VAT.

Ele trabalhava no balcão de uma farmácia no ano passado quando gravou um vídeo que viralizou na rede social TikTok. A então chefe havia ligado em seu dia de folga para pedir que ele começasse a trabalhar mais cedo na manhã seguinte.

“Isso [a jornada de 44 horas] tira do trabalhador o direito de passar tempo com sua família, de cuidar de si, de se divertir, de procurar outro emprego ou até mesmo se qualificar para um emprego melhor. A escala 6×1 é uma prisão, e é incompatível com a dignidade do trabalhador”, disse.

No Rio de Janeiro, em ato em frente à Cinelândia, Azevedo disse que os protestos pelo fim da escala 6×1 são um sonho realizado.

“Nunca imaginei que seriam iniciados por mim, pela minha revolta com esse modelo de trabalho escravocrata. Ela acaba com a vida dos trabalhadores, em especial as mães. Como elas podem ser mães com apenas um dia de folga?”, questionou.

Erika Hilton esteve na av. Paulista ao lado do deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP), coautor da proposta. Em discurso, ela citou a experiência internacional na redução da escala de trabalho.

“Outros países do mundo, com economias fortes, já mudaram a escala e seguem firmes. Estudos apontam que a diminuição da jornada de trabalho melhora a produtividade, porque o trabalhador está descansado.”

Boulos defendeu a “responsabilidade de manter a bandeira de pé, seguir forte nas redes, não deixar esmorecer e fazer novos movimentos na rua”.

O contraste entre a mobilização nas redes sociais e nos atos populares tem razão de ser, na visão da fotógrafa autônoma Rafaela Carvalho, 27, presente no ato em São Paulo.

“Quem está trabalhando na escala 6×1 não pode estar aqui. Não é uma causa que me atinge necessariamente, mas estou aqui por quem não pode estar. O cerne de um movimento popular é um pouco isso: quando você não tem força individual, você se junta no coletivo”, disse.

A pauta, porém, não era defendida por todos na av. Paulista nesta manhã. Ecoando parte dos insatisfeitos com a PEC nas redes sociais, um motoqueiro, ao cruzar os manifestantes, gritou: “Vai trabalhar, cambada de vagabundo”.

TAMARA NASSIF E ARTUR BÚRIGO / Folhapress

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