PARMA, ITÁLIA (FOLHAPRESS) – A Europa está, aos poucos, perdendo espaço em ensaios clínicos. Um novo relatório da IQVIA, empresa que faz análises no setor da saúde, mostra que a participação do EEE (Espaço Econômico Europeu) em ensaios comerciais aqueles patrocinados por uma empresa farmacêutica reduziu de 22% em 2013, para 12% em 2023.
Embora ainda se mantenha como um forte participante em ensaios clínicos comerciais feitos em múltiplos países, a pesquisa indica uma perda de participação para a Ásia, em especial a China, cujos números gerais saltaram de 5% em 2013, para 18% em 2023.
Isso se traduz em 60 mil pacientes a menos acessando um ensaio na Europa, o que tem gerado preocupação para o setor no continente.
Conforme o documento, encomendado para a EFPIA (Federação Europeia da Indústria Farmacêutica e Associados, em português), representante da indústria farmacêutica no continente, no cenário atual, os Estados Unidos seguem com o maior protagonismo no ramo, embora tenham vivido uma queda de 28% para 23% no período.
Os americanos são seguido da China. A América Latina, Oriente Médio e África, juntos, representam apenas 6% dos ensaios clínicos comerciais iniciados ao longo dos últimos dez anos.
Este tipo de pesquisa é importante por dar aos pacientes acesso precoce a novos medicamentos entre cinco e 10 anos antes do lançamento.
Os sistemas de saúde europeus também se beneficiam com economias de custos de medicamento dados da IQVIA apontam que a vantagem chega a um valor entre 1 e 1,5 bilhão de euros.
O tema foi discutido durante um painel de inauguração do novo Centro de Biotecnologia da farmacêutica italiana Chiesi.
A nova unidade foi apresentada como uma alternativa para fazer frente ao cenário de perdas, como uma das poucas instalações na Europa a reunir toda a cadeia produtiva de tratamento em um só local, desde o estudo clínico até o produto final, ou seja, o remédio pronto para ser comercializado.
A estratégia tem o objetivo de acelerar o desenvolvimento de drogas biológicas e reduzir a dependência de fornecedores externos.
“O risco a ser evitado é o da deslocação da inovação. Se a inovação ocorrer em outro lugar, o mesmo acontecerá com os empregos altamente qualificados que a inovação gera e requer”, afirmou o executivo Alessandro Chiesi.
Hoje, segundo o relatório, a Europa perde em relação aos EUA no tempo de recrutamento de pacientes, o que impacta a atratividade do continente, e à China, que tem um ambiente regulatório e de financiamento mais favorável para ensaios clínicos de fase 1 e terapia celular e genética.
Estudos de fase 1 são importantes pois estabelecem base para o desenvolvimento clínico posterior, investimento e financiamento em uma região. Já as terapias celulares e genéticas podem ser utilizadas para tratar doenças genéticas e adquiridas, substituindo ou eliminando células ou proteínas que causam os sintomas da doença.
Segundo a diretora-geral da EFPIA, Nathalie Moll, os estudos no continente são prejudicados por um ecossistema de pesquisa lento e fragmentado. “Para que a Europa seja competitiva, é necessário que funcione como uma região unificada, não como estados membros individuais, e que seja apoiada por políticas que atraiam investimentos globais em pesquisa”, afirma.
Em meio as nações europeias, a Espanha se destaca como o país com a maior quantidade de ensaios clínicos iniciados em 2023. Dentre os atores que atraem investimentos estão a capacidade do sistema de saúde espanhol, a implementação bem-sucedida e um modelo eficaz de colaboração em ensaios comerciais e não comerciais.
Ensaios clínicos globais são predominantemente patrocinados por partes não comerciais, mas os números têm altas variações entre países.
Além disso, é apontado como um fator atrativo a implementação bem-sucedida do Regulamento de Ensaios Clínicos (CTR, na sigla em inglês), que está em vigor no continente desde 2022. A norma estabelece um ponto de entrada único para a submissão de informações relativas aos ensaios clínicos na União Europeia.
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A repórter viajou a convite da Chiesi
LUANA LISBOA / Folhapress