RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, disse neste domingo (17) no Rio de Janeiro que a desinformação é o maior desafio na transição energética e que G20 precisa ajudar mundo em desenvolvimento a evitar erros cometidos por países ricos.
O país assume em 2025 a presidência do G7, o grupo dos sete países mais ricos do mundo, em um momento desafiador para o enfrentamento às mudanças climáticas, com a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, que deve fomentar a produção americana de petróleo.
“Há uma sensação de que o acesso à energia está em contraste direto com nossa responsabilidade moral de proteger o planeta”, afirmou Trudeau, em evento paralelo ao encontro do G20 promovido pelo Global Citizen.
“E isso é algo que, infelizmente, as pessoas têm amplificado e usado propaganda, desinformação e mentiras descaradas para assustar as pessoas, dizendo que temos que cuidar do nosso orçamento doméstico primeiro e do meio ambiente em segundo lugar.”
Parte da campanha vitoriosa de Trump se baseou no discurso de que a proteção ao meio ambiente ajuda a encarecer o custo de vida dos americanos. Nesse sentido, o presidente eleito prometeu acelerar a perfuração de poços de petróleo para reduzir o custo da energia no país.
Trudeau disse entender o apelo do discurso, já que o aumento da inflação global após a pandemia gera dificuldades financeiras a populações ao redor do planeta. “É algo instintivo. Quando a tempestade vem, você quer se abrigar e esperar que ela passe. Mas não podemos fazer isso em relação às mudanças climáticas.”
Na sua opinião, um dos desafios do G20, o grupo dos 20 países mais ricos do mundo é “garantir que as economias emergentes não tenham que passar exatamente pelos mesmos passos que nós ao aumentar suas emissões antes de descobrir como reduzi-las”.
“Elas precisam ser capazes de dar um salto com tecnologias, com soluções mais verdes que sejam acessíveis para elas, como superar os erros que grande parte do Norte Global cometeu durante a revolução industrial nos últimos 200 anos”, completou.
Ele citou empresas de petróleo e gás “muito, muito lucrativas” e “interesses arraigados” como divulgadores desse discurso. De fato, a indústria do petróleo se apropriou do termo “transição energética justa” para defender o direito de explorar e oferecer energia “barata, confiável e acessível”.
O discurso é criticado por organizações ambientalistas, que questionam esforços do setor para descarbonizar as operações, já que a maior parte das emissões ocorrer na queima, e não na produção dos combustíveis.
“Isso é uma das coisas que realmente tentamos enfrentar no Canadá porque, em última análise, mesmo quando falamos sobre ação coletiva global de responsabilidade, temos uma responsabilidade primária com os cidadãos em nossos próprios países”, disse.
“Se eles não estiverem a bordo conosco para lutar contra as mudanças climáticas tanto em casa quanto no mundo, eles retirarão o apoio político de partidos que estão focados em fazer isso.” O Canadá tem um sistema de taxação de carbono que devolve à população parte da receita.
Trudeau defendeu ainda o fim dos subsídios aos combustíveis fósseis, outro tema caro a organizações ambientalistas. Disse que o Canadá, dono da terceira maior reserva global, antecipou em dois anos sua meta e encerrou os subsídios em 2023.
“Somos um exportador e produtor significativo de petróleo e gás. Então, incentivar o Canadá e nos empurrar nessa direção não veio sem lutas políticas significativas”, afirmou. “As empresas de combustíveis fósseis ao redor do mundo e no Canadá estão lucrando bilhões de dólares. Elas não precisam de subsídios.”
NICOLA PAMPLONA / Folhapress