Não seria mudança radical, diz esquerda sobre possível volta ao governo do Uruguai

BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – Candidato da Frente Ampla no Uruguai, Yamandú Orsi abriu o debate presidencial da noite deste domingo (17), previsto por lei, com um aviso à la uruguaia. “Seremos uma mudança, com certeza, mas não radical”, foi sua promessa.

O nome do governismo, Álvaro Delgado (Partido Nacional), pintou um possível retorno da coalizão de centro-esquerda ao governo como “um modelo de retrocesso, de ideologia”. Uma mudança radical realmente não faz parte da política uruguaia neste século. E a maior parte dos uruguaios não quer algo assim, por isso a ressalva de Orsi.

Os dois candidatos que concorrem no segundo turno presidencial no próximo domingo (24) estão tecnicamente empatados nas pesquisas de intenção de voto dos principais institutos uruguaios. Numa das mais recentes, da Factum, Orsi aparece com 47%, e Delgado, com 45%, sendo a margem de erro de 3,3 pontos percentuais.

A eventual mudança pode não ser radical, mas as divergências são claras. O pacífico debate, em que se respeitaram tempos de fala e eixos temáticos, bem diferente do recém-observado no vizinho Brasil, foi marcado por comentários recorrentes sobre a possibilidade de aumentar impostos.

Orsi disse que não o fará, mas que subirá o salário mínimo e o apoio às pequenas e médias empresas. Delgado disse que não há dúvidas de que a Frente terá ações nesse sentido, que os cidadãos “não se iludam”.

A Previdência também foi importante. No atual governo de Luis Lacalle Pou, de quem Delgado foi secretário da Presidência, a idade mínima de aposentadoria foi a 65 anos. Orsi diz que seu governo quer voltar aos antigos 60 anos.

Um plebiscito sobre o tema foi votado junto com o primeiro turno destas eleições. Sem apoio da cúpula da Frente Ampla e com grande oposição do governo, fracassou. O texto pretendia fixar os 60 anos na Constituição. Para a Frente, a idade é adequada hoje, porém, dadas as mudanças demográficas projetadas, terá de ser revisada de anos em anos, de modo que fixá-la na Carta Magna é um tiro no pé.

Ainda que no papel tenham polícias semelhantes nesta área, ambos também polarizaram sobre segurança pública. Mesmo que com índices de crimes bem abaixo do de outros países vizinhos, o Uruguai teve alta nas taxas de homicídio nos últimos anos.

Delgado promete reprimir, e em menor escala “reabilitar e reinserir na sociedade”. “Mas no plano da Frente Ampla não se lê o termo repressão.” Orsi prometeu aumentar o patrulhamento nas ruas.

Neste pequeno país da América do Sul, a agenda internacional também apareceu. Delgado trouxe a Venezuela para a pauta. Ele lembrou que a cúpula da Frente não afirma que houve fraude nas eleições de 28 de julho no país, quando, sem provas, Nicolás Maduro foi anunciado vencedor. “A ditadura e o terrorismo não se justifica”. Com pouco traquejo em termas internacionais, Orsi fugiu ao tema.

A Frente afirma esperar os relatórios finais do único observador internacional de peso em Caracas, o americano Centro Carter, e do painel de especialistas da ONU. Em informes preliminares, ambos já disseram que não foram eleições democráticas. Como o governo do Brasil, a coalizão de centro-esquerda fundada em 1971 pede que sejam divulgadas as atas eleitorais, que comprovam quem foi o eleito.

Os cidadãos irão às urnas das 8h às 19h30 do domingo em todo o país (não há voto no exterior) em um pleito altamente disputado. Yamandú Orsi foi governador da região de Canelones, nos arredores da capital Montevidéu, por dois mandatos consecutivos. Professor de história, é próximo ao ex-presidente José “Pepe” Mujica. Álvaro Delgado, formado veterinário, compôs o gabinete de Lacalle Pou.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teve boa relação com o governo de Lacalle, que em 2019 rompeu uma série de 15 anos de governos da Frente ao ser eleito para retornar com a centro-direita ao poder. O próprio presidente uruguaio relatou isso à reportagem.

Mas a Frente é historicamente próxima ao Partido dos Trabalhadores, de modo que espera-se que um eventual governo de Orsi esteja mais próximo ao Brasil em fóruns multilaterais, como o Mercosul.

MAYARA PAIXÃO / Folhapress

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