Brasil estuda emitir títulos de dívida em moeda chinesa

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Tesouro Nacional estuda emitir títulos em moeda chinesa, os chamados “panda bonds”. A operação consiste em tomar empréstimos no mercado da China em renminbi e costuma ser realizada por países parceiros da segunda maior economia do mundo para financiar investimentos.

Em evento na última terça-feira (12) com empresários chineses em São Paulo, a secretária de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda do Ministério da Fazenda, Tatiana Rosito, afirmou que vê os “panda bonds” como uma oportunidade atrativa. Ela revelou que há estudos do Tesouro para a emissão dos títulos em moeda chinesa em breve.

Rosito participou de um painel no fórum “Desenvolvimento e Revitalização: Uma Nova Jornada para o Sul Global”, organizado pela Xinhua, agência de notícias estatal da China.

Os “panda bonds” foram criados em 2005 pelo governo chinês como alternativa para governos e empresas estrangeiras captarem recursos diretamente no mercado local.

Questionado pelo Folha de S.Paulo sobre o estudo citado por Rosito, o Tesouro Nacional informou que a estratégia de emissões externas da República está esclarecida no “Plano Anual de Financiamento 2024”, publicado em 30 de janeiro deste ano.

O documento relata que “a emissão de títulos de referência (ou benchmarks) em dólares americanos (US$) como ponto principal, privilegiando a manutenção de uma curva de juros soberana eficiente, com boa formação de preços e liquidez”.

O Tesouro informa que, “não obstante esta estratégia central”, ele também “estuda outros mercados, em busca de oportunidades de emissão que estejam alinhadas com a estratégia da gestão da Dívida Pública Federal”.

Um plano anual de financiamento para 2025 será divulgado em janeiro. Caso o governo Lula decida emitir títulos na China, será uma operação inédita do Tesouro.

Em 2024, isso foi feito pela primeira vez por uma empresa brasileira, a Suzano, que, em agosto, anunciou aval para a sua subsidiária internacional emitir títulos de até 20 bilhões de renminbi (cerca de R$ 16 bilhões), com intermédio do Bank of China. A primeira das operações deve movimentar 1,2 bilhão de renmimbi (R$ 960 milhões) com prazo de até três anos.

Os recursos serão usados para “desenvolvimento da plantação de florestas de eucalipto no Brasil para uso comercial, com certificações florestais internacionalmente reconhecidas”, informou a empresa em ata.

A emissão de títulos na China traz vantagens para companhias que operam no mercado local, afirma Hsia Hua Sheng, vice-presidente do BOC Brasil (Bank of China) e professor de finanças na FGV EAESP, que cita os juros mais baixos no país asiático. Segundo ele, há opções com taxas de até 2,5% ao ano. A Selic, taxa básica do Brasil, está em 11,25%.

“Além dos juros baixos, outro ponto vantajoso para empresas que emite os títulos é que a volatilidade do câmbio de real para renminbi é mais baixa que a do real para dólar. O custo do hedge (proteção) contra variação cambial é menor”, afirma Sheng.

A iniciativa da Suzano e o plano do Tesouro para emitir títulos na China estão alinhadas com a política dos países do Brics de tentar diminuir a dependência em relação dólar para transações internacionais.

Em discurso na última cúpula do grupo, do qual Brasil e China fazem parte, em outubro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que é “chegada a hora de avançar na criação de meios de pagamento alternativos para transações entre nossos países”.

“Não se trata de substituir nossas moedas. Mas é preciso trabalhar para que a ordem multipolar que almejamos se reflita no sistema financeiro internacional”, completou.

Enquanto isso, a China tenta ampliar a adesão de empresas e países aos “panda bonds”. Segundo o Financial Times, Pequim tenta superar este ano o total de títulos emitidos por estrangeiros em 2023, que somaram 150 bilhões de renminbis (cerca de R$ 119 bilhões).

PAULO PASSOS / Folhapress

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