BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O Ministério da Fazenda elevou sua projeção de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) em 2024, de 3,2% para 3,3%, devido a um desempenho melhor da economia no terceiro trimestre do ano.
As estimativas para a inflação no ano também ficaram maiores. O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), indicador oficial do país, deve ter alta de 4,40%, afetado pelo câmbio e pelo clima. Antes, a previsão era variação de 4,25%.
Os novos números foram divulgados nesta segunda-feira (18) pela SPE (Secretaria de Política Econômica).
O desempenho esperado para o PIB em 2024 é bem superior ao que era projetado no início do ano, quando a estimativa do governo era um crescimento de 2,2%. A projeção mais recente, por sua vez, havia sido divulgada em setembro e já indicava uma expansão maior da atividade econômica.
Em termos setoriais, o órgão prevê uma queda menor no PIB agropecuário, com revisão da projeção de -1,9% em setembro para -1,7% no boletim de novembro. Já o setor de serviços deve ter expansão levemente maior (3,3% para 3,4%). O desempenho do PIB da indústria foi mantido em 3,5%.
Em entrevista coletiva, o secretário de Política Econômica, Guilherme Mello, disse que a projeção para o PIB de 2024 tem “viés de alta”. Segundo ele, após o fechamento da nova grade de parâmetros, novos dados da atividade de serviços divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontaram um cenário ainda mais favorável.
“Isso pode indicar que a nossa projeção está um pouco defasada”, disse Mello. Mesmo assim, ele ressaltou que se trata de um viés, que pode ou não se confirmar. “Pode ter um dado bom neste mês, um dado não tão bom mês que vem, uma coisa compensa a outra”, afirmou.
Para 2025, a projeção de crescimento segue em 2,5%. “Apesar do aumento esperado para a taxa básica de juros [Selic] nos próximos meses, as expectativas para a safra de grãos e para a produção extrativa em 2025 melhoraram significativamente, compensando o efeito negativo da política monetária mais contracionista sobre a atividade”, diz a SPE.
Já o IPCA deve ficar próximo do teto da meta perseguida pelo Banco Central, que é de 3% ao ano, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos. Isso significa um limite superior de 4,5% ao ano.
Ainda assim, a projeção é mais branda do que a do mercado, que prevê estouro da meta. Segundo Boletim Focus, divulgado nesta segunda pelo Banco Central, a expectativa dos agentes é que o IPCA encerre o ano em 4,64%.
A subsecretária de Política Macroeconômica, Raquel Nadal, atribuiu a diferença das estimativas à percepção do governo de que a conta de luz terá bandeira verde no mês de dezembro, ou seja, sem cobrança extra dos consumidores para arcar com maiores custos de geração. A bandeira de dezembro será anunciada pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) até o fim deste mês.
“O mercado não consegue captar a expectativa para bandeiras. Nós estávamos esperando amarela para fim do ano, agora esperamos bandeira verde”, disse Nadal. Segundo ela, a bandeira verde no fim do ano deve trazer alívio de até 0,17 ponto percentual na inflação.
No ano que vem, o IPCA deve ter uma alta de 3,60%. O dado representa uma desaceleração ante 2024, mas é maior que a previsão anterior para 2025 (3,40%). Segundo o órgão da Fazenda, o ajuste incorpora um aumento esperado nos preços de proteínas animais e a continuidade dos efeitos da valorização do dólar.
Os parâmetros macroeconômicos divulgados pela Fazenda são importantes não só como termômetro da economia, mas também porque servem de referência para o governo nas estimativas do Orçamento.
Variáveis como inflação e crescimento interferem diretamente no quanto a União arrecada em tributos e quanto ela gasta com benefícios previdenciários, assistenciais e trabalhistas.
O maior crescimento do PIB, por exemplo, significa maior faturamento das empresas e, consequentemente, mais recolhimento de impostos e contribuições.
Por outro lado, também pressiona as despesas, já que o desempenho de 2024 se traduzirá em ganho real de mesma magnitude no salário mínimo daqui dois anos. Em outras palavras, se confirmada a projeção da Fazenda, o piso terá uma correção de 3,3% acima da inflação em 2026.
Essa regra está na mira da equipe econômica na discussão do plano de contenção de gastos, que será anunciado após a Cúpula do G20. Uma das principais medidas deve limitar o ganho real do salário mínimo aos percentuais de expansão do arcabouço fiscal (entre 0,6% e 2,5%).
Como mostrou a Folha de S.Paulo, a mudança pode render uma economia de R$ 11 bilhões até 2026. A conta considera um aumento no piso de 2,5% acima da inflação no ano que vem, no limite permitido pela regra fiscal, e de 2% em 2026, em linha com a expansão prevista para o teto de despesas naquele ano.
IDIANA TOMAZELLI / Folhapress