Delegado diz que cantora trans foi morta por facção em MT, mas família nega e fala em transfobia

MACEIÓ, AL (FOLHAPRESS) – A Polícia Civil de Mato Grosso afirma ter descartado transfobia como motivação para o assassinato da transexual Santrosa, em Sinop (503 km de Cuiabá). A família dela, porém, nega esta versão e diz que qualquer afirmação nesse sentido é especulação.

O corpo da artista foi encontrado no dia 10. Ela foi decapitada e estava com as mãos e os pés amarrados.

O delegado responsável pelo caso, Braulio Junqueira, disse à reportagem que a principal linha de investigação até o momento é a de que Santrosa foi morta a mando da facção criminosa Comando Vermelho devido a desavenças sobre a venda de drogas.

A advogada Rafaela Crispim, que representa a família da cantora, criticou essa afirmação da polícia. “Reafirmamos que a transfobia mata, e não temos dúvidas de que este crime, lamentavelmente, possui motivação LGBTfóbica”, diz trecho da nota enviada à reportagem pela advogada, que faz parte da Aliança Nacional LGBT.

Ela assumiu o caso na semana passada e já tinha trabalhado com Santrosa durante a campanha eleitoral deste ano -na qual a cantora foi candidata a vereadora nas eleições municipais de 2024 pelo PSDB. Ela não se elegeu.

Segundo o delegado, porém, Santrosa teria sido morta por ter vendido drogas sem a autorização da facção, que controla o tráfico na região.

“O Comando Vermelho pegou ela lá atrás e mandou parar com essa venda, mas ela não parou, aí a pegaram e executaram dessa forma covarde. Foram na casa para localizar a droga. Não sabemos se a encontraram. Reviraram bastante a residência. Não temos dúvidas da motivação: foi por conta da venda de droga sintética”, disse Junqueira. Ele afirmou também que não foram identificados os autores do crime.

“Não tem transfobia. Ela morreu porque tinha envolvimento com droga”, afirmou o delegado.

Questionada se a cantora possuía antecedentes criminais, a polícia de Mato Grosso não respondeu.

Para a família dela, o caso ainda está na fase embrionária das investigações e ainda é cedo para a investigação concluir o que teria acontecido.

“Nosso compromisso é com a verdade e com a Justiça. Estamos trabalhando incansavelmente para que os culpados sejam identificados e responsabilizados, honrando o compromisso com a vida, com a dignidade e com o respeito a todos os cidadãos”, diz a nota enviada pela advogada em nome da família da cantora.

Amigos de Santrosa ouvidos pela reportagem relataram que o clima na cidade é de medo e que preferem não falar sobre o tema, com receio de represálias.

Santrosa tinha 27 anos e estava desaparecida desde o dia 9. Segundo relatos à polícia, ela saiu de casa por volta das 11h e não voltou mais. Ela faria um show na noite daquele dia, mas não compareceu ao evento.

A vítima mantinha um canal no YouTube, onde publicava clipes de suas músicas. O canal tem pouco mais de 4.000 inscritos e a última publicação é de um ano atrás.

Na política, tinha como bandeiras a defesa de pautas voltadas à cultura para comunidades periféricas do município. Conforme publicou em seu Instagram, se viesse a ocupar uma cadeira no Legislativo de Sinop, seria a primeira mulher trans na Casa.

JOSUÉ SEIXAS / Folhapress

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