RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Os países do G20 disseram ver “boas perspectivas” para o chamado pouso suave da economia global, mas alertaram sobre múltiplos desafios e riscos crescentes em meio a um cenário econômico de elevada incerteza.
A declaração final aprovada pelos líderes foi divulgada na noite desta segunda-feira (18), horas depois de ter sido antecipada pela Folha de S.Paulo.
Pouso suave é uma expressão usada para descrever uma situação de recuo da inflação com menor impacto possível na atividade econômica. O texto repete a linguagem acordada pelos ministros de Finanças e presidentes de bancos centrais em outubro, em Washington (EUA).
Desta vez, o texto não cita os motivos para o aumento dos riscos. No documento da trilha financeira, publicado no mês passado, havia menção a guerras e conflitos crescentes, fragmentação econômica, inflação mais persistente, impacto das mudanças climáticas, entre outros.
No Brasil, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central vem alertando para o ambiente externo desafiador. No último encontro, a autoridade monetária brasileira apontou como principal fator a incerteza nos Estados Unidos, logo após a vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais.
“Observamos boas perspectivas de um pouso suave da economia global, embora múltiplos desafios permaneçam e alguns riscos negativos tenham aumentado em meio à elevada incerteza”, diz trecho de documento. Na versão a que a reportagem teve acesso mais cedo, havia uma indicação de que o parágrafo relativo à economia está fechado.
O texto repete que a atividade econômica se mostrou mais resiliente do que o esperado em muitas partes do mundo, mas que o crescimento tem sido “altamente desigual” entre os países, o que contribui para o risco de divergência econômica.
Os membros do G20 se dizem preocupados que as perspectivas de crescimento global a médio e longo prazo estejam abaixo das médias históricas. “Continuaremos a nos esforçar para reduzir as disparidades de crescimento entre os países por meio de reformas estruturais”, diz o texto.
A declaração fala ainda que os bancos centrais “permanecem fortemente comprometidos em alcançar a estabilidade de preços de acordo com seus respectivos mandatos.”
“Reiteramos nosso compromisso de promover ainda mais fluxos de capital sustentáveis e fomentar estruturas de políticas sólidas, notadamente a independência dos bancos centrais”, diz o documento, em trecho já usado pelos ministros de finanças.
No ano passado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que a independência do Banco Central era “bobagem” e criticou reiteradas vezes o presidente da autoridade monetária brasileira, Roberto Campos Neto.
No comunicado, os países também reafirmam o compromisso de promover “um sistema financeiro aberto, resiliente, inclusivo e estável, que apoie o crescimento econômico e seja fundamentado na implementação completa, oportuna e consistente dos padrões internacionais acordados, apoiado pela coordenação contínua de políticas.”
Os documentos do G20 são importantes para apontar leituras e orientações comuns entre as maiores economias avançadas e emergentes do globo. O grupo representa cerca de 85% do PIB [Produto Interno Bruto] mundial.
Em um momento de maior endividamento público dos países, o bloco afirma que suas políticas vão garantir a sustentabilidade fiscal e reconstruir reservas, favorecendo crescimento e catalisando investimentos públicos e privados em reformas que aumentem a produtividade global.
Os líderes dizem reconhecer que condições financeiras restritivas e vulnerabilidades da dívida, entre outros fatores, “podem estar aumentando a pressão de curto prazo sobre orçamentos públicos tensionados em meio ao aumento dos custos de financiamento”.
Com relação ao endividamento global, os países do G20 fazem um apelo à comunidade internacional para apoiar países vulneráveis que enfrentam desafios de liquidez a curto prazo. No comunicado, falam em ações de ajuda de forma voluntária.
Em julho, o ministro Fernando Haddad (Fazenda) ressaltou que havia muita preocupação com sobre a dívida de países de baixa renda, mas pouco consenso sobre o tema entre os líderes financeiros do G20.
“Nós incentivamos o FMI [Fundo Monetário Nacional] e o Banco Mundial a continuar seu trabalho relacionado a opções viáveis que sejam específicas de cada país e de forma voluntária para ajudar aqueles países e relatar aos Ministros de Finanças do G20 no ano que vem”, diz.
NATHALIA GARCIA E RICARDO DELLA COLETTA / Folhapress