SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Governo sobretaxa a importação de placas solares e divide opiniões no setor. Grandes petroleiras perdem o interesse em energias renováveis, o que de mais importante aconteceu no G20, como se dar bem em uma entrevista de emprego e o que importa no mercado nesta terça-feira (19).
LUZ DO SOL NÃO É DE GRAÇA
O governo Lula (PT) aumentou o imposto de importação de painéis solares para 25% e pegou investidores de parques e projetos de geração distribuída desprevenidos.
Entenda: a taxa ficava em cerca de 12%. A partir de 2014, algumas medidas ajudaram a baixar a alíquota, que chegou a zerar. Esses incentivos começaram a ser retirados em 2023.
Quem é favor elogia a alternativa para compensar os subsídios que foram dados à importação de painéis asiáticos, principalmente chineses.
↳ As importações da Ásia vinham derrubando o preço dos importados, criando uma competição desleal com a indústria nacional de placas.
↳ A Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica) elogiou a medida. A BYD, empresa de carros elétricos chinesa que tem uma fábrica de painéis em Campinas, também se manifestou a favor do aumento.
Quem é contra defende que o encarecimento pode comprometer pelo menos 281 empreendimentos, que somam R$ 97 bilhões em aportes até 2026.
↳ A Absolar (Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica) disse que a iniciativa é uma faca nas costas.
O aumento entra em vigor em julho de 2025.
Volta do protecionismo? É o que investidores da energia solar enxergam em medidas como essa, e relacionam-na a antigos hábitos de governos do PT.
🏠 O uso residencial. Um quarto das residências que instalam placas solares não consegue conectar seu sistema de microgeração às redes distribuidoras, de acordo com dados da Aneel compilados pela Aliança Solar.
↳ Por isso, não vêem descontos na conta de luz que é um dos principais incentivos à instalação da energia solar.
Pressão. A Aliança Solar, grupo liderado pelo Instituto Nacional de Energia Limpa (Inel) e o Movimento Solar Livre (MSL), quer que o Ministério de Minas e Energia lide com o que considera ser uma barreira imposta pelas distribuidoras à nova forma de geração.
↳ A quantidade de conexões caiu de 802 mil, em 2022, para 622 mil, em 2024.
↳ No período, cerca de 180 mil projetos foram recusados uma proporção de 1 recusado a cada 4 aprovados.
DESENTERRANDO OS FÓSSEIS
Há quatro anos, quando as grandes petroleiras começaram a fazer promessas de investimento em energia limpa, os combustíveis fósseis perdiam valor. Agora, elas querem voltar aos velhos hábitos.
Não tão verde quanto um dólar. O recuo dos planos sustentáveis das big oils tem tudo a ver com lucratividade.
💵 Em 2020 e 2021, empresas como a Exxon Mobil, Shell e BP firmaram compromissos para reduzir suas emissões de carbono e aumentar o investimento em energia limpa.
↳ Durante a pandemia, a demanda por petróleo e gás natural diminuiu significativamente. Os preços caíram, e as empresas perderam dinheiro.
As perdas ultrapassaram os US$ 100 bilhões (cerca de R$ 576 bilhões), segundo a consultoria especializada no mercado de energia Wood Mackenzie.
↳ Naquele momento, a energia limpa era um bom negócio.
Os investidores estavam focados na narrativa de que tudo estava se direcionando para a [energia] eólica e a [energia] solar. Me pressionaram para entrar nesse negócio, disse Darren Woods, CEO da ExxonMobil ao New York Times.
Mas agora O levantamento do New York Times mostra um movimento contrário o mercado fóssil voltou a ser lucrativo. Com isso, a transição energética cai para segundo plano.
Um dos argumentos usados pelas companhias é que a produção de energia renovável não é o cerne do seu negócio, e, portanto, não o fariam com maestria. Preferem focar no seu business e abrir espaço para novatas no setor.
🔥 Efeito Trump. A eleição de Donald Trump para comandar os EUA nos próximos anos aquece ainda mais o setor de petróleo.
O presidente eleito declarou não acreditar nas mudanças climáticas em diferentes ocasiões, o que leva o mercado a acreditar que os investimentos americanos nesse setor devem aumentar.
Ainda sim, o preço dessas commodities é muito sensível a grandes eventos globais. É difícil prever o comportamento das big oils nos próximos anos.
No Brasil também. O novo plano de investimentos da Petrobras foi obtido pela Folha, com diretrizes que ampliam o investimento em produção e refino de petróleo e reduzem expectativas em energias renováveis.
↳ Esse é o primeiro plano sob a gestão Magda Chambriard, que tomou posse como presidente da empresa em junho.
Investir quanto? O orçamento de exploração e produção deve ser de US$ 77 bilhões (aproximadamente R$ 442,6 bi).
↳ Dessa quantia, US$ 7,9 bilhões (R$ 45 bi) serão destinados à busca por novas reservas em: bacias do Sudeste, novas fronteiras (como a bacia de Pelotas e as bacias da margem equatorial brasileira) e em projetos na África.
A movimentação tenta manter a produção média em 3,2 bilhões de barris por dia a partir de 2030, quando os campos do pré-sal começam a declinar.
Outras áreas. O plano pretende diversificar as atividades da petroleira. Petroquímica e fertilizantes estão entre os candidatos.
E as renováveis? Fontes afirmam que a proposta inicial deve manter o orçamento de US$ 11 bilhões (R$ 62 bilhões) para projetos de baixo carbono.
↳ O foco deve ser na descarbonização da própria companhia, que já não percebe os investimentos em geração de energia eólica e solar como atrativos.
O plano de investimentos ainda vai passar pela aprovação do conselho de administração.
[+] Os lucros da Petrobras. No balanço trimestral divulgado em 7 de novembro, a estatal fechou o terceiro trimestre com lucro de R$ 32,5 bilhões. O resultado é 22,3% maior que o registrado no mesmo período do ano passado.
FORA DO RETRATO
No primeiro dia da cúpula do G20 no Rio de Janeiro, Joe Biden, Justin Trudeau e Giorgia Meloni se atrasam e ficam de fora da foto oficial. Relembre o que aconteceu nesta segunda-feira (18).
Taxação de fortunas. O Brasil manteve na declaração do G20 a taxação de bilionários.
↳ O grupo dos vinte formalizou uma declaração que condensa as discussões que aconteceram no evento e os compromissos que os países assumirão dali em diante.
Por que importa? As definições devem guiar as decisões internas e externas dos países do G20 até a reunião do ano que vem, a ser realizada na África do Sul.
Milei contrariado. O presidente argentino disse em comunicado oficial que assina a declaração no final do encontro, mas marca oposição a trechos da declaração.
Chegou a hora de reconhecer que o atual sistema de cooperação internacional está em crise, disse Javier Milei.
Buenos Aires se opôs ao trecho do documento que dispõe sobre o compromisso dos países em se engajar em formas efetivas de tributar indivíduos com patrimônios enormes.
📜 O governo Milei também não endossou em um primeiro momento a Agenda 2030 da ONU, que continuou na declaração mesmo com a indisposição argentina.
O texto do G20 afirma que as metas de desenvolvimento sustentável devem ser atingidas em apenas seis anos e que há progresso mínimo, por enquanto.
↳ A Agenda 2030 é um plano global estipulado pela ONU para tornar o mundo mais sustentável até 2030. O compromisso foi assinado em 2015 e conta com 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e 169 metas.
Virou meme. Na internet, viralizaram as fotos de Lula (PT) com líderes globais. A única foto em que o presidente brasileiro não sorriu foi a com Milei.
Importação de gás. O Brasil firmou acordo que prevê a importação da Argentina de três milhões de metros cúbicos de gás natural por dia, a partir do ano que vem.
↳ A parceria pode chegar a 30 milhões de metros cúbicos por dia em 2030, a um preço melhor do que o praticado no mercado.
↳ Os ministros de Minas e Energia e da Agricultura, Alexandre Silveira e Carlos Fávaro, tentaram dissipar os ares de tensão entre Lula e Milei sentidos na cúpula.
Temos que separar a questão comercial de ideologia, disse Silveira.
Bandeira contra a fome. Lula lançou oficialmente a Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza na abertura do evento.
↳ São 148 membros fundadores: 82 países, a União Africana, a União Europeia, 24 organizações internacionais, 9 instituições financeiras internacionais e 31 organizações filantrópicas e não governamentais.
↳ A Argentina não está na lista. No entanto, o governo brasileiro confirmou que o país decidiu se juntar à Aliança com a cúpula já em andamento.
LUANA FRANZÃO / Folhapress