SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em reunião realizada em 2022, o presidente da Faec (Federação da Agricultura e Pecuária do Ceará), José Amílcar de Araújo Silveira, fez uma pergunta à Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). Seria possível cultivar pistache no Brasil?
A resposta deveria ser negativa. Trata-se de árvore que precisa de clima frio para dar frutos. Mas a estatal que viabiliza pesquisa e inovação para agricultura questionou de volta: por que não?
“Na teoria, é possível”, afirma Gustavo Saavedra, chefe-geral da Embrapa Agroindústria Tropical.
Foi o início de um processo que deve ser demorado. A Embrapa busca descobrir se é possível produzir no país produto que se tornou febre na alimentação de parte dos brasileiros nos últimos dois anos. A importação do pistache mais que dobrou no ano passado e a expectativa é que o número seja maior ainda em 2024.
“É preciso entender que é um projeto de dez anos. Levantamos agora os riscos e os custos, até porque a importância do pistache, dentro do cultivo brasileiro atual, é nenhuma. Dentro da Embrapa não haveria financiamento público para esse tipo de material. Outras culturas são mais importantes. Mas, se a Federação [do Ceará] ou algum outro produtor quiser, é possível”, completa.
A Faec confirma a parceria com a Embrapa para os estudos sobre a viabilidade do cultivo, mas lembra que a parceria ainda não avançou porque não foi resolvida como seria feita a importação de material genético para testes no Brasil.
Esse processo é burocrático porque pode a importação pode trazer doenças e pragas que causariam problemas para a agricultura. A árvore do pistache pode conter nematoides, vermes que tem o potencial de se tornarem pragas para outras plantas. São organismos encontrados em outras culturas, como goiaba e café, mas é preciso ser muito controlado, segundo a Embrapa.
“É um desafio de pesquisa. É algo que atrai um cientista”, completa Saavedra.
O aspecto comercial também pode atrair produtores brasileiros. Foram importadas 601 toneladas do fruto em 2023, pelos dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Nos cinco anos anteriores, a média havia sido 340 toneladas. Até a metade de 2024, haviam chegado ao Brasil 400 toneladas.
“Para 2025, as expectativas em relação ao mercado de pistache no Brasil são de continuidade no aumento das importações, impulsionado por datas comemorativas como o Natal, quando produtos como panetones e doces natalinos recheados com pistache ganham destaque”, diz Leonardo Baltieri, co-CEO da Vixtra, fintech especializada em comércio exterior.
O preço do quilo, desde 2023, tem se mantido estável, entre US$ 13,5 e US$ 14 (entre aproximadamente R$ 75 e R$ 80).
Impulsionado por influenciadores sociais, o pistache ganhou status de ingrediente cult e saudável. A percepção é essa mesmo que seja em receitas calóricas, como hambúrgueres e brigadeiros.
“Pistache tem um aspecto sofisticado, tem aparência atraente. Gera muito engajamento. É um produto que o consumidor busca. Está na moda misturar várias culturas. É um efeito manada e a rede social traz isso: massifica produtos que eram muito exclusivos”, analisa Karime Karam, comportamento do consumidor da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing).
Surgido nos países mediterrâneos, o pistache tem o Irã como maior produtor, mas o cultivo se expandiu para Austrália, Estados Unidos e Chile, por exemplo.
O exemplo para o Brasil pode ser a Califórnia, o estado americano que fez a adaptação da plantação mesmo sem ter temperatura baixa.
“Há um conjunto de hormônios vegetais que você pode usar para enganar a planta com uma reação química que a faz pensar que está frio”, diz Saavedra.
“Pode-se imaginar que o polo Petrolina/Juazeiro, no Nordeste brasileiro, apresente a situação para investimentos da natureza, onde já se pode contar com a tradição de cultivo de frutas, com a possibilidade de exploração da videira e, principalmente, pela água em abundância, outra séria demanda do pistacheiro”, lembra o estudo “Pistache: informações econômicas como subsídios ao cultivo no Brasil”, dos pesquisadores Celso Valdemiro Pommer, Wilson Barbosa e Antonio Fernando Caetano Tombolato.
Eles também consideram as regiões mais frias do Sudeste e do Sul como locais possíveis para cultivo.
Se a mania pelo fruto se sustentar por mais tempo e a importação continuar a crescer, a produção no Brasil pode se tornar ainda mais atraente para investidores.
“Neste caso, o produto deixaria de ser moda. Passaria a ser algo que as pessoas aderem à sua rotina”, considera Benjamin Rosenthal, professor e especialista em consumo da FGV Eaesp (Escola da Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas).
ALEX SABINO / Folhapress