Novo chefe do Malba diz que o ‘Abaporu’ é importante elo entre o Brasil e a Argentina

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Rodrigo Moura, curador que assume o comando do Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires, o Malba, diz que o “Abaporu”, tela de Tarsila do Amaral considerada a “Mona Lisa” do museu, é um importante elo para o circuito artístico formado entre o Brasil e a Argentina.

O Malba é lar do quadro brasileiro desde 2001, quando foi fundado pelo colecionador argentino Eduardo Costantini. Ele comprou o “Abaporu” num leilão em Nova York, na época por apenas US$ 1,3 milhão. Hoje, a tela, que é um marco para o modernismo no Brasil, é estimada em mais de US$ 45 milhões, cerca de R$ 259 milhões. Segundo Moura, a obra é “um talismã”.

“É uma representação da cultura visual brasileira, da antropofagia e um símbolo da alta determinação e irreverência do artista latino-americano em relação ao cânone europeu”, afirma.

Por esse motivo, o “Abaporu” contribuirá para o projeto que o curador tem para o Malba, que envolve sua expansão enquanto difusor da arte latino-americana pelo mundo.

“O museu merece ter mais protagonismo global, promovendo a arte argentina e latino-americana”, afirma o curador. Moura, que poderá opinar sobre as novas aquisições do museu junto a um comitê artístico que inclui o próprio Costantini, pretende fortalecer a coleção do Malba com obras de vertentes experimentais da arte contemporânea produzidas nas décadas de 1960 e 1970.

“Acho que tem muitas possibilidades de ampliação na coleção, mas o comitê de aquisições tem feito um trabalho extraordinário no museu. A instituição está muito atualizada em relação a aquisições de arte contemporânea.”

O brasileiro assume o Malba depois de dirigir o Museo del Barrio, em Nova York, onde destacou artistas que fazem parte do que ele chama de correntes diaspóricas, incluindo indígenas e de ascendência africana. Ele pretende continuar dando ênfase à diversidade na condução do museu argentino.

“O Malba, ao longo dos anos, já tem respondido a uma série de mudanças no cenário global em relação à diversidade e à representação de artistas indígenas e de ascendência africana”, afirma o curador.

Neste ano, por exemplo, a instituição argentina organizou a exposição “Amefricana”, da brasileira Rosana Paulino, a primeira pessoa negra a ganhar uma mostra no museu.

“Eu espero continuar contribuindo para tornar a atuação do museu mais próxima do que nós somos como experiência de sociedade na América Latina”, afirma Moura. “Mas acho que também podemos fazer uma ligação maior dos modernismos na América Latina com essas questões atuais”, acrescenta.

O Malba, aliás, é fundamental para o fortalecimento da arte latina. Isso porque a instituição congrega artistas de diferentes lugares dessa região e ajuda a jogar luz sobre suas manifestações artísticas. “É um museu que tem um papel muito importante de liderança e de promoção da arte regional em âmbito internacional”, afirma Moura.

Ele acrescenta ainda que a ideia de uma arte latino-americana começou a se consolidar há poucos anos graças ao fortalecimento dos museus da região. “Sobretudo essa espécie de renascimento do Masp. A Pinacoteca já vinha de um ciclo mais longo de prosperidade e de estabilidade. Mas, no caso do Masp, isso é recente.”

O museu, que já teve Moura entre seus curadores, chegou a acumular no passado dívidas que ultrapassavam R$ 40 milhões, mas vive hoje um momento de pujança, com um orçamento de R$ 63 milhões e exposições aclamadas.

No começo deste mês, inclusive, a instituição organizou um jantar de gala em que arrecadou R$ 3,4 milhões, um valor recorde em uma década de festa. “Isso tudo contribui para uma plataforma mais multinacional entre os diferentes circuitos da região”, diz Moura, para quem o Brasil é um vetor importante para a dinamização da arte latino-americana. “O país tem um peso diferente por ser muito grande e muito diverso”, afirma.

Moura diz ainda que quer conhecer melhor o Malba antes de implementar seus projetos na instituição.

“Meu primeiro plano é aprender melhor a realidade do museu. Eu faço isso em qualquer lugar aonde chego, porque a gente sempre tem uma ideia muito formada. Isso é um pouco arriscado no sentido de a gente não entender realmente o contexto do espaço”, afirma ele, sem esconder o entusiasmo em assumir o museu argentino.

“Estou feliz de me somar a essa trajetória que já tem anos de sucesso e para a qual espero levar a minha visão.”

ALESSANDRA MONTERASTELLI E MATHEUS ROCHA / Folhapress

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