Com trajes tradicionais e haka, milhares protestam pelos direitos indígenas na Nova Zelândia

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Milhares de pessoas voltaram a protestar nesta terça-feira (19) contra um controverso projeto de lei que prevê mudanças relacionadas aos direitos dos indígenas maoris na Nova Zelândia. Na capital do país, Wellington, cerca de 35 mil manifestantes participaram de uma marcha que teve como destino o Parlamento. Alguns, com trajes tradicionais, fizeram o haka, a dança de guerra da população originária.

Os protestos ganharam projeção internacional na semana passada, quando uma sessão no Parlamento foi suspensa depois de congressistas fazerem o haka em audiência que discutiu o projeto. Na ocasião, Hana-Rawhiti Maipi-Clarke, 22, liderou o ato e chegou a rasgar uma cópia do projeto de lei.

O ato no Parlamento estimulou protestos nas ruas. Nesta quinta, homens com o torso nu, capas e armas tradicionais ocuparam vias públicas de Wellington e empunharam a bandeira dos maoris.

“Dezenas de milhares de pessoas estão reunidas aos pés do Parlamento para protestar contra o projeto em nome de nosso ‘mokopuna'”, disse à agência de notícias AFP Nick Stewart, um dos manifestantes, em referência à palavra maori que significa gerações futuras.

O projeto prevê mudanças em um tratado de 184 anos relacionado à fundação da Nova Zelândia e aos direitos dos maoris. Se transformado em lei, pode eliminar programas governamentais destinados à população indígena, exposta a um maior risco de pobreza, morte precoce ou encarceramento.

O tratado em questão é o Waitangi, assinado em 1840 pela coroa britânica e mais de 500 chefes maoris e que orienta a legislação da Nova Zelândia ainda hoje. O acordo estabeleceu posses de terra aos britânicos, mas garantiu aos indígenas o direito de uso.

Ao longo dos anos, os britânicos começaram a mandar colonizadores em grande número. Eles sistematicamente descumpriram o tratado. Com guerras e a implementação de leis, maoris foram expulsos ou tiveram as terras compradas por preços irrisórios. Só em 1975 as reivindicações dos indígenas começaram a ser reconsideradas, e os direitos desses grupos foram expandidos.

Nos últimos anos, parlamentares de direita passaram a dizer que os cidadãos não-indígenas estão sendo discriminados. Na semana passada, o partido ACT, aliado do governo de centro-direita, apresentou o projeto de lei que prevê uma interpretação mais restrita do Tratado de Waitangi.

O líder do ACT, David Seymour, definiu o projeto como uma tentativa de acabar com o “tratamento especial” destinado aos 900 mil maoris na Nova Zelândia.

“Não é a melhor maneira de iniciar um diálogo. Não aceitaremos uma mudança unilateral a um tratado que envolve duas partes”, disse à AFP Ngira Simmonds, uma assessora da rainha maori da Nova Zelândia, após o protesto. “É uma atmosfera bonita. Pessoas de todos os tipos estão aqui para nos apoiar.”

Dificilmente o projeto será aprovado como lei, já que outras legendas governistas não o endossam em sua totalidade. O premiê da Nova Zelândia, Christopher Luxon, do Partido Nacional, disse na quinta que a sigla não apoiaria o avanço da proposta no Congresso além da primeira leitura.

Redação / Folhapress

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