BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A Polícia Federal enviou nesta terça-feira (19) um relatório ao ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), em que diz que o tenente-coronel Mauro Cid tem descumprido cláusulas do acordo de delação premiada.
Moraes enviou o relatório para a PGR (Procuradoria-Geral da República), que deve se manifestar sobre a manutenção da colaboração premiada do militar que foi ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
A expectativa é que o ministro do Supremo decida nos próximos dias se o acordo será mantido. A eventual anulação da delação deve manter válidas as provas e os depoimentos do militar, mas Cid pode perder os benefícios obtidos pelo acordo.
O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro prestou novo depoimento à PF nesta terça-feira (19) sobre as investigações de tentativa de golpe. A oitiva durou cerca de três horas. Cid deixou a sede da Polícia Federal no início da noite, acompanhado pelo advogado Cezar Bittencourt.
A defesa do militar disse à reportagem que não vê razões para se questionar a validade da delação de Cid. “Eu devo ser ouvido, mas não vejo motivo. Afinal de contas, ele está cumprindo a parte dele, colaborou com a Justiça e está contribuindo há um ano e meio”, disse Cezar Bittencourt.
O advogado de Cid disse ainda que o depoimento desta terça ficou “meio em aberto”. “Parece que a polícia não tinha o que perguntar”, disse.
“O Cid não teve, não tem e nem terá interesse em derrubar governo nenhum. Ele não ganhava nada com isso. Se existiu esse movimento na época? [Eles] Conversaram, mas conversaram lá em dezembro e janeiro. Não tem nada de especial, nada de novo”, completou o advogado.
A avaliação na PF é que Mauro Cid tem omitido informações e dificultado a investigação, contrariando o próprio acordo firmado com o militar.
O descontentamento dos investigadores aumentou porque, segundo eles, o tenente-coronel apagou mensagens e arquivos do celular considerados importantes para a investigação.
O ofício da PF foi enviado para o STF após a operação desta terça, que prendeu cinco pessoas investigadas por articular um plano para matar Lula (PT), Geraldo Alckmin (PSB) e Moraes.
Pessoas próximas a Mauro Cid afirmaram à reportagem, sob reserva, que o militar nega ter omitido informações dos investigadores ou mesmo apagado provas. A justificativa dada por ele é que, na função de ajudante de ordens, ele recebia dezenas de documentos por dia e apagava o que considerava pouco importante.
Cid também disse que não sabia do plano golpista elaborado pelo general da reserva Mário Fernandes, secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência no governo Jair Bolsonaro.
Rodrigues foi um dos presos em operação da PF nesta terça contra suspeitos de integrarem uma organização criminosa que, segundo as investigações, planejou um golpe de Estado em 2022 para impedir a posse do presidente Lula (PT).
A operação mirou militares com formação nas forças especiais, os chamados “kids pretos”.
Alexandre de Moraes homologou a delação de Mauro Cid com a Polícia Federal em 9 de setembro de 2023. No mesmo dia, o militar foi solto da prisão e autorizado a responder às investigações de casa.
O acordo prevê que o tenente-coronel terá de colaborar com as autoridades, com disposição para prestar longos depoimentos, detalhar todas as informações que teve acesso e direcionar caminho para obtenção de provas.
Em contrapartida, o militar ganhou o direito de deixar a prisão e cumprir medidas menos restritivas. As eventuais penas pelos crimes cometidos por ele, nesse cenário, deveriam ser menores.
Mauro Cid aceitou a proposta da Polícia Federal de fechar uma colaboração premiada após o pai do militar, o general da reserva Mauro Lourena Cid, ser alvo de buscas da PF. Ele é investigado por auxiliar na venda de presentes de Estado para benefício de Bolsonaro.
CÉZAR FEITOZA E CAIO CRISÓSTOMO / Folhapress