Drag queens ganham espaço e fazem shows para crianças

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A madrasta da Branca de Neve está diferente, mas nem tanto. Com uma caracterização perfeita, a drag queen Laviignea foi uma das atrações da penúltima edição do ano do Drag Brunch Brasil, no Bourbon Street Music Club, em Moema, zona sul de São Paulo.

Após a entrada triunfal ao som de “Erva Venenosa”, na interpretação de Rita Lee, a madrasta em versão drag trocou as maldades do conto de fadas por uma apresentação que divertiu adultos e crianças no show de domingo (17) à tarde, com o tema Disney.

“É muito legal ver que hoje em dia as drags não estão apenas nas boates. Temos drags no teatro, nos brunchs, em eventos com as famílias”, diz a artista, criada em São Paulo, mas que mantém o sangue arretado da cidade natal, Bezerros, em Pernambuco, e é multi-instrumentista. Toca piano, violino, bateria e violão.

“E toco campainha, toco o terror. O que chamar eu tô tocando”, brinca.

O sucesso de Pabllo Vittar e Gloria Groove e a audiência de realities sobre o tema expandiram um mercado de trabalho que inclui maquiadores, figurinistas, aderecistas e peruqueiros. Hoje em dia as drags têm fãs de todas as idades e agendas lotadas de apresentações diversas.

“Show de drag é para todo mundo. As drags conseguem se adaptar a qualquer ambiente”, afirma Aimée Lumière, anfitriã do Drag Brunch Brasil. “As crianças ficam passadas com a beleza, o brilho”.

Vestida de Ariel, da “Pequena Sereia”, Aimée liderou um show de quatro horas de duração no domingo, com dublagens, DJ, performances de princesas e participação da plateia em uma batalha de lip sync.

“Ah, se amanhã pedir o lugar no metrô…”, brincou uma das drags com uma avó que participou da disputa ao lado da neta e, como os demais, rebolou até o chão.

As piadas rápidas e, no caso de um evento com crianças, mais contidas, são características das artistas. Uma delas substituiu a colega de profissão que não pode comparecer e anunciou no microfone: “Hoje estou fazendo a Ana Furtado”. Outra mudou o tom de uma gag comum no meio. “As drags ativas são as que trabalham muito e estão sempre em cena”.

O público reage aos números musicais batendo leques, cantando junto e, claro, registrando tudo nos celulares.

O Drag Brunch, que chegou à 39ª edição, é inspirado em evento realizado em um hotel de Miami. É realizado pela agência Cuco como um espetáculo diurno em que o público assiste às performances durante uma refeição que mistura café da manhã e almoço, típica dos domingos.

“A popularização das drags na TV, em realities shows, abriu um espaço para as pessoas que não têm a possibilidade de sair à noite para consumir essa arte”, diz Dennis Vianez, fundador da agência e também responsável pela curadoria de artistas. “É um evento que agrega todo mundo que gosta da arte drag”.

Em São Paulo, peças como a montagem de “Rei Lear” pela Cia Extemporânea e “Priscilla, Rainha do Deserto” lotaram teatros este ano com o protagonismo de drags.

Ao mesmo tempo, as artistas seguem apresentando suas performances em casas noturnas como o Blue Space, na Barra Funda, e a Casa Fluida, na Consolação.

“As pessoas estão começando a entender a importância da arte drag, que tem influência na moda, na maquiagem”, diz Aimée. “A arte drag vai dominar o mundo, não tem pra onde correr”.

A última edição do Drag Brunch em 2024 será no dia 15 de dezembro, com uma celebração das melhores performances do ano.

CRISTINA CAMARGO / Folhapress

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