‘É uma lógica da polícia que mata’, diz ouvidor sobre morte de estudante por PMs

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O ouvidor da polícia de São Paulo, Cláudio Silva, afirma que a morte do estudante de medicina Marco Aurélio Cardenas Acosta, 22, é mais um reflexo da lógica instalada no estado. “É uma lógica da polícia que mata, que não respeita a vida e sequer respeita as regras da própria corporação em relação ao uso gradativo da força”, disse.

Aluno do 5º ano de medicina da Universidade Anhembi Morumbi, Acosta foi morto na madrugada de quarta-feira (20) na Vila Mariana, zona sul da capital, após ser baleado por policiais militares durante uma tentativa de abordagem.

Ao observar as imagens, o ouvidor notou que os PMs não usaram o uso progressivo da força, uma técnica de segurança pública que evita a violência letal como primeira opção.

“O uso excessivo da força foi feito e isso culminou com a morte do jovem abordado”, afirmou Silva. “Eles teriam condições de fazer o uso gradativo da força, render o jovem e colocá-lo à disposição da autoridade policial”.

O ouvidor ressalta que as imagens mostram que os policiais estão numericamente superiores à pessoa abordada e que o estudante está sem camisa, portanto, visivelmente desarmado.

Segundo o registro policial, uma equipe da PM fazia patrulhamento na região da rua Cubatão, por volta das 2h, e foi acionada para atender uma ocorrência envolvendo o estudante.

O rapaz, de acordo com o registro policial, estava agressivo e deu um tapa no retrovisor da viatura quando os policiais tentaram abordá-lo. Na sequência, saiu correndo e entrou em um hotel.

Os policiais seguiram Acosta até o hotel, onde houve o confronto. O rapaz derrubou um dos PMs, momento em que o parceiro fez um disparo que atingiu a vítima no abdômen.

O estudante morreu às 6h40 no Hospital Ipiranga, após duas paradas cardiorrespiratórias.

Em nota, a Secretaria da Segurança informou que a PM e a Polícia Civil investigam as circunstâncias da morte. Os policiais envolvidos prestaram depoimento, foram indiciados em inquérito e permanecerão afastados das atividades operacionais até a conclusão das apurações.

Uma testemunha do caso afirmou, em depoimento à polícia, ter discutido com o estudante de medicina momentos antes da abordagem dos policiais militares. Acosta teria consumido muita bebida alcoólica e ela teria sido agredida.

Cardenas era de uma família de médicos e planejava se tornar pediatra. Ele gostava de conviver com crianças, atuava como MC e jogava futebol nos momentos de folga.

“Era uma boa pessoa com um bom coração. Um filho amado e que ainda assim conseguia amar ainda mais seus pais”, disse o irmão mais velho, o médico Frank Cardenas, 27.

Redação / Folhapress

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