Tanto para o País como para as empresas, o caminho mais direto para avançar é aprimorar o capital humano. O Brasil tem ainda vários problemas, mas o ponto que realmente destoa da maioria dos demais países é o baixo investimento nas pessoas.
Para possibilitar uma reflexão qualitativa sobre como a educação pode permitir maior produtividade e competitividade para o Brasil, formula-se aqui quatro premissas: A existência de ampla evidência de que o investimento em educação é uma condição indispensável para o aumento da produtividade, para a melhoria da distribuição de renda e consolidação da democracia.
Experiências internacionais nos mostram que educação não é condição suficiente para crescimento ou consolidação da democracia, como é o caso da Rússia, mas é condição necessária, uma vez que não se encontram casos de sucesso entre países que pouco cuidaram da educação de seu povo. Investir no capital intelectual traz taxas de retornos tão boas quanto àquelas ligadas ao capital físico, e isso se aplica em qualquer lugar do mundo.
Não obstante, no ensino fundamental os gastos são insuficientes. Considere-se que um aluno desta faixa custa um décimo do que se gasta com um aluno do terceiro grau da rede federal.
• As estatísticas e os testes não deixam dúvidas: em matéria de educação, o Brasil está mal, apesar do grande avanço nas matrículas. Apesar de ser um dado auspicioso, conseguimos muito tardiamente universalizar o acesso de crianças de 7 a 14 anos às escolas, ou seja, isso se deu somente na segunda metade dos anos 90. No entanto, o índice de repetência,
especialmente da 4ª para a 5ª série do fundamental e na 8ª do ensino médio é o mais alto do mundo.
O grande obstáculo para que isso seja melhorado é a má qualidade do ensino oferecido. Nos testes do Programa Internacional de Avaliação de Alunos – PISA, o Brasil fica com os últimos lugares entre cerca de 70 países pesquisados.
• Maior deficiência está na qualidade do ensino inicial
Os nossos testes confirmam a desastrosa má qualidade na formação inicial.
• Caso os pais julguem a educação boa, será difícil implementar uma política de qualidade no ensino.
Pesquisas recentes mostram que 70% dos pais julgam boa a qualidade da educação de seus filhos. Provavelmente, são aqueles que não tiveram nenhuma possibilidade de chegar aos bancos escolares, e que para eles contam sobremaneira melhorias na merenda escolar.
O grande dilema é que num sistema democrático a vontade da maioria sobrepuja as decisões dos gestores públicos. O povo julgando boa a educação, como pressionar os gestores para grandes melhorias? Os 30% dos insatisfeitos são, justamente, os mais educados. Esse, sem dúvida, é o maior dos impasses: o círculo vicioso da mediocridade.
Fica evidente que a prioridade está na melhoria do ensino fundamental, cujas ações ficam muito prejudicadas pelas enormes resistências de grupos de interesses e bolsões ideológicos, sobretudo nas lideranças intelectuais da educação.
A evidência científica e a boa pesquisa na área indicam as seguintes indispensáveis ações: •Foco na sala de aula e no ensino;
• Programa de apoio aos alunos mais fracos e atrasados;
• Expansão seletiva da pré-escola;
• Currículos mais enxutos, mais fáceis e mais explícitos;
• Professores mais capacitados;
• Escolha dos professores por mérito e não por afinidades outras;
• Apoio à participação das instituições particulares nos sistemas públicos;
• Institucionalizar a meritocracia.
Estas ações se tornarão possíveis através da melhor formação dos professores, bem como salários mais dignos e compensadores.
O ensino médio também é deficiente; pode-se sugerir para o ensino médio pontos que deverão ser avaliados para a sua melhoria, a saber:
a) ele é difícil demais e os currículos excessivos;
b) falta aplicação e sobra abstração;
c) oferece um cardápio único embora receba pessoas com níveis diferentes;
d) está perdido com excesso de papéis, ou seja, precisa preparar os que terminam nesse nível seu aprendizado, precisa preparar para o nível superior, precisa preparar para o mundo do trabalho, isto é, diante de tantos desafios não atende bem a nenhum; e) faltam professores bem preparados para ministrar as disciplinas, principalmente nas ciências e na matemática. O ensino técnico profissionalizante é muito incipiente, sendo que países europeus matriculam nestes cursos cerca de 50% da faixa etária.
No Brasil estamos abaixo dos 10%. Considerando-se a importância desse tipo de formação para a economia e a alta empregabilidade de cursos deste tipo, essa é uma direção em que o Brasil está lamentavelmente retardatário. Uma alternativa seria a de propiciar ao estudante do ensino médio, no contra turno, cursar um ensino técnico.
Quanto ao ensino superior, há a dicotomia de qualidade entre as escolas públicas e as privadas, sendo que se há má formação no ensino fundamental e médio nas escolas públicas, isto se reflete diretamente na qualidade do ensino superior, tanto na pública como na privada. Alie-se a isto a proliferação de instituições de ensino superior voltadas para a quantidade de alunos, sem qualquer compromisso com a qualidade.
Investir nas pessoas é dar a elas condições para que possam prosperar e viver com qualidade. No entanto, o Brasil possui ainda índices sociais de terceiro-
mundismo, como por exemplo, de 1000 crianças 20 morrem antes de completar 1 ano, quase metade das residências não está ligada a rede de esgoto, e cerca de 15% dos brasileiros com mais de 25 anos de idade estão enquadrados na categoria “sem nenhuma instrução escolar”.
O atoleiro no qual se encontra o Brasil tem seu fulcro em certas obviedades. A maior e mais importante delas é a falta de investimento no capital humano, e isto pode nos reservar um futuro medíocre.
Para que o nosso desenvolvimento tome velocidade necessitamos de maior produtividade da nossa força de trabalho, e isso só virá com o estabelecimento de um cenário mais atrativo para os empreendedores.
Gasta-se muito em educação, mas gasta-se mal porque nos faltam bons professores e que estes, quando bem preparados, recebam salários que os encoraje a superar as adversidades, desde a falta de uma boa estrutura em sala de aula até, infelizmente, a insegurança advinda da violência nas comunidades.
A educação com qualidade não acontecerá sem o apoio de professores qualificados e devidamente valorizados, pois este profissional sempre foi e sempre será a base da existência de outras profissões.
As nossas instituições educacionais devem deixar de preparar pessoas para terem um emprego, mas, sim, para serem verdadeiros empreendedores, e, para tanto, necessitamos de professores empreendedores.
É muito triste se constatar que jovens entre 15 e 17 anos chegam ao final do ensino médio sem conhecimentos profissionalizantes, e o professor não estar preparado para enfrentar esse desafio.
Por outro lado, há a necessidade da sociedade como um todo assumir a sua parcela de responsabilidade pela falta de valorização do professor como seria a sua obrigação.
Quando encararmos a educação como valor preponderante e o professor como o principal protagonista nesse processo estaremos prontos para tornar o Brasil uma potência. Sem isso não há perspectiva de bom futuro, e, convenhamos, o futuro é hoje.
Recentemente, o governo anunciou uma série de medidas para impulsionar investimentos em infraestrutura e outras para cortar custos das empresas. Sem dúvida, são medidas importantes para a modernização da economia, mas deveriam vir acompanhadas de investimentos nas pessoas, pois não paira dúvida que construir fábricas, estradas, aeroportos, portos e ferrovias vem favorecer a economia; no entanto, onde o país deve mais investir é nas pessoas, uma vez que elas farão a diferença para um Brasil mais forte no futuro.
Para deixarmos o berço esplêndido, uma educação de maior e melhor qualidade é fator preponderante, e conseguiremos isso com um corpo docente mais qualificado e que ame a sua profissão.
Não tenho dúvida ao afirmar que os governos devem atuar como diretores de recursos humanos, criando um ambiente para atrair e manter os melhores talentos.