Novo míssil usado contra a Ucrânia será produzido em série, diz Putin

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em uma nova ameaça ao Ocidente, o presidente Vladimir Putin disse nesta sexta (22) que a Rússia colocará em produção o novo míssil testado contra a Ucrânia na véspera. “Ninguém ainda tem essa arma”, afirmou em encontro no Ministério da Defesa.

O novo modelo atingiu seus alvos na cidade de Dnipro acima de Mach 11, ou seja, 11 vezes a velocidade do som —13.582 km/h.

“O tempo de voo deste míssil do lançamento na região de Astrakhan (sul russo) até o impacto foi de 15 minutos”, disse em comunicado a agência de inteligência ucraniana, HUR. “O míssil estava equipado com seis ogivas, cada uma delas com seis submunições”, completa o texto divulgado nesta sexta (22).

O míssil Orechnik, russo para árvore aveleira, causou grande impacto na Guerra da Ucrânia e é uma resposta de Putin à autorização dada pelos Estados Unidos e aliados para que Kiev use armas ocidentais de maior alcance contra alvos distantes na Rússia.

Putin negou que ele seja apenas um redesenho do modelo soviético RS-26 Rubej, como sugeriu o Pentágono. “Nós vamos continuar testando esse novo sistema”, afirmou, após ouvir o nada sutil relato dos comandantes de que o Orechnik pode atingir qualquer cidade europeia.

A velocidade atingida pela arma a qualifica como hipersônica, mas todo míssil balístico de maior alcance é hipersônico. O Orechnik foi apresentado como um modelo de alcance intermediário, podendo atingir alvos a até 5.000 km de distância.

Neste caso, assim como seus irmãos maiores, os ICBMs (modelos intercontinentais), ele deixa a atmosfera e voa no espaço, reentrando perto de seu alvo e atingindo as velocidades extremas na chegada. Sua interceptação é dificílima, senão impossível.

No caso dos ICBMs, por exemplo, a velocidade terminal das ogivas supera Mach 20, por exemplo. Mesmo mísseis balísticos de curto alcance, como o russo Iskander-M usado na guerra, cumprem seus 500 km de trajetória ao final a Mach 5 ou 6, o limiar da definição de hipersônico.

O termo ganhou projeção pelo próprio Putin, que em 2018 revelou seus programas de “armas invencíveis”, aspas mandatórias, que incluía os mísseis hipersônicos Kinjal e Tsirkon, além do planador hipersônico Avangard, que é impulsionado por um ICBM.

Em comum, todas essas armas têm alguma capacidade de manobra, o que acabou no meio militar sendo um incorporado à definição moderna da míssil hipersônico, além de, claro, a velocidade que ele alcança.

A trajetória e o fato de ele empregar ogivas múltiplas fizeram a Ucrânia acreditar inicialmente que se tratava de um ICBM, apesar de não fazer muito sentido. Mesmo um IRBM (modelo intermediário, na sigla inglesa) como o Orechnik é mais um manifesto do que uma arma: a Rússia pode fazer o mesmo estrago com mísseis mais baratos de menor alcance.

Mas Putin queria dar um recado ao Ocidente acerca do que denuncia como escalada na guerra, dado que o Orechnik foi idealizado para ataques nucleares —que empregam quase que por regras as ogivas múltiplas independentes. A Rússia é, ao lado dos EUA, a maior potência atômica do planeta.

O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, voltou a enfatizar isso nesta sexta. “A principal mensagem [do ataque] é que as ações e decisões irresponsáveis de países do Ocidente que produzem mísseis e os fornecem à Ucrânia, e assim participam de ataques ao território russo, não podem ficar sem reação.”

A reação de seus adversários mostra que ele chamou a atenção: além de condenação generalizada de seus rivais, a Otan [aliança militar liderada pelos EUA] se reunirá na terça (26) com a Ucrânia para discutir a crise.

Seus membros mais belicistas estão em alerta. O premiê polonês, Donald Tusk, disse nesta sexta que “a guerra está entrando numa fase decisiva, e nós sentimos que o desconhecido está se aproximando”. “O conflito está tomando proporções dramáticas. As últimas horas mostraram que o risco é sério e real quando o assunto é um conflito global.”

O país do Leste Europeu, que compartilha sua fronteira leste com a Ucrânia, é um dos mais armados da Otan. Em 2025, prevê gastar 4,7% de seu Produto Interno Bruto com defesa, mantendo o posto de dono do maior dispêndio proporcional militar entre os 32 membros do bloco.

A Suécia, o mais recente membro do clube militar, adotou uma postura mais desafiadora. Ao receber seu colega ucraniano, Rustem Umerov, em Estocolmo nesta sexta, o ministro Pal Jonson (Defesa) disse que “a escalada russa é uma tentativa de nos assustar para nos afastar do apoio à Ucrânia, e isso vai falhar”.

Na segunda (18), Putin havia editado a nova doutrina nuclear do país, que basicamente autoriza o emprego de bombas atômicas em caso de qualquer ataque à Rússia ou à aliada Belarus. Além disso, prevê que qualquer país ajudando um terceiro com armas contra solo russo é alvo legítimo também.

Na quinta, quando foi à TV falar sobre o novo míssil, Putin reforçou que se reserva o direito de retaliar contra os países que apoiam a Ucrânia. Ao longo da semana, a Rússia disse ter derrubado dois mísseis de cruzeiro britânicos Storm Shadow e cinco ATACMS americanos.

A campanha ucraniana tem capacidade disruptiva principalmente do ponto de vista político, mas não tem mudado a sombria situação em solo. Nesta sexta, os russos tomaram mais uma cidadezinha na região de Donetsk, em um avanço constante que ocorre desde fevereiro.

O ministro da Defesa russo, Andrei Belousov, disse nesta sexta que as ações russas deste ano “tiraram dos trilhos” o planejamento ofensivo de Kiev para 2025, obrigando o governo de Volodimir Zelenski a permanecer na defensiva.

IGOR GIELOW / Folhapress

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