Dólar abre em alta nesta terça-feira após dados do IPCA-15 e promessa de Trump de tarifas

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar começou a terça-feira (26) com uma leve alta, refletindo o que está ocorrendo nos principais mercados do mundo, após o anúncio do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, de que imporá novas tarifas sobre Canadá, México e China.

Além disso, os investidores brasileiros avaliam os dados do IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15), que acelerou a 0,62% em novembro, após marcar 0,54% em outubro, que foram divulgados nesta manhã de terça pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Às 9h05, o dólar subia 0,16%, cotado a R$ 5,8127. A moeda norte-americana estava em alta de 0,1% na comparação com uma cesta de divisas das principais economias do mundo após o anúncio de Trump na noite de segunda-feira (25).

“Em 20 de janeiro, como uma das minhas primeiras ordens executivas, assinarei todos os documentos necessários para cobrar do México e do Canadá uma tarifa de 25% sobre todos os produtos que entram nos Estados Unidos, além de suas ridículas fronteiras abertas”, escreveu Trump em suas redes sociais.

“Esta tarifa permanecerá em vigor até que as drogas, em particular o fentanil, e todos os imigrantes ilegais parem esta invasão do nosso país. Tanto o México quanto o Canadá têm o direito e o poder absolutos de resolver facilmente este problema que se arrasta há muito tempo. Exigimos, portanto, que usem esse poder, e até que o façam, é hora de pagarem um preço muito alto.”

Na segunda-feira (25), o dólar encerrou o dia em queda de 0,15%, cotado a R$ 5,803. Já a Bolsa encerrou com estabilidade, com variação negativa de 0,06%, aos 129.036 pontos, segundo dados da plataforma CMA.

O movimento refletiu a expectativa dos investidores em relação às medidas fiscais aguardadas para esta semana pelo governo brasileiro, além da atenção ao processo de escolha do novo secretário do Tesouro nos Estados Unidos sob a administração de Donald Trump.

Nesta segunda, também foi divulgado o boletim Focus, mas os dados pouco influenciaram o movimento do dia, segundo especialistas.

O mercado espera que o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) termine o ano em 4,63%, uma queda de 0,01 ponto percentual em relação à semana passada.

O boletim também mostrou que o mercado segue acreditando que a Selic estará mais alta em 2025. Nesta semana, a previsão para o próximo ano é de 12,25%, contra 12% do levantamento anterior.

Outro indicador que teve elevação foi o PIB (Produto Interno Bruto), que foi de 3,10% para 3,17%, e o dólar, que saltou de R$ 5,60 para R$ 5,70.

Para a economista-chefe para a América Latina da Coface, Patrícia Krause, o cenário do boletim traz sinais de “piora das expectativas de inflação” e um “saldo negativo” no horizonte.

Apesar da divulgação do boletim, analistas ouvidos pela Folha afirmam que o movimento do dólar desta segunda reflete a expectativa do mercado pelo anúncio do pacote de cortes de gastos.

“O boletim Focus praticamente não trouxe mudanças em relação à última semana. O que realmente está movimentando o mercado é a expectativa pelo pacote, já que pode aumentar a confiança do investidor estrangeiro no Brasil”, afirmou Daniel Teles, especialista da Valor Investimentos.

Com ele concorda Paulo Luives, especialista da Valor Investimentos. “Esse movimento reflete um alívio no câmbio diante da expectativa de que o anúncio do pacote de corte de gastos aconteça ainda nesta semana”, afirmou.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reuniu ao longo do dia com seus ministros, incluindo o chefe da Fazenda, Fernando Haddad, e há expectativa de que a data para o anúncio do pacote com medidas para contenção de gastos seja decidida a partir deste encontro.

“O grande destaque da semana, sem dúvida, será o pacote fiscal”, afirmou o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez.

Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos, afirmou que a demora no anúncio indica incerteza quanto às negociações internas.

“Esse anúncio vem sendo postergado, o que está mostrando uma dificuldade do governo em conseguir fechar acordos de cortes com as pastas”, disse.

Haddad já havia adiado o anúncio das medidas fiscais esperadas desde o final das eleições municipais, há um mês, em 27 de outubro. A expectativa dos agentes econômicos têm crescido desde então.

O pacote deve ficar para esta semana, segundo informou o chefe da ala econômica do governo. Ele também anunciou que será feito um bloqueio adicional em torno de R$ 5 bilhões no Orçamento de 2024, além dos R$ 13,3 bilhões que já estão travados. Novos contingenciamentos foram descartados.

As medidas de contenção de gastos endereçam temores do mercado sobre a sustentabilidade do arcabouço fiscal, o conjunto de regras que visa o equilíbrio das contas públicas do país.

O tamanho do corte é estimado por integrantes do governo em R$ 70 bilhões —entre R$ 25 bilhões e R$ 30 bilhões em 2025, e de R$ 40 bilhões em 2026. Para economistas do Itaú Unibanco, são necessários ao menos R$ 60 bilhões para que o mercado tenha mais confiança no ajuste fiscal proposto.

No exterior, o mercado repercutiu a escolha pelo presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, do investidor Scott Bessent como seu secretário do Tesouro.

A opção por Bessent foi anunciada na última sexta-feira (22), quando o mercado brasileiro já estava fechado. No mundo, o dólar se desvalorizou 0,6% na comparação com uma cesta com moedas dos principais mercados como euro e iene.

Bessent defende uma reforma tributária e a desregulamentação, especialmente para estimular mais empréstimos bancários e produção de energia, conforme observado em um recente artigo de opinião que ele escreveu para o Wall Street Journal.

“O mercado interpreta como uma sinalização um pouco mais moderada, principalmente depois de toda a retórica do Trump, que vai ‘tarifar tudo’, e não é muito a política e o modelo de pensamento do Scott Bessent”, afirmou o analista Renato Nobile, da Buena Vista Capital.

Redação / Folhapress

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