Dólar sobe e Bolsa cai, com espera por pacote fiscal e reação a dados dos EUA

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar apresenta alta nesta quarta-feira (27), com cautela antes do anúncio de medidas de contenção de gastos pelo governo brasileiro e em reação a dados econômicos dos Estados Unidos.

Às 12h58, a moeda norte-americana subia 0,55%, cotada a R$ 5,840. Já a Bolsa tinha queda de 0,36%, aos 129.454 pontos.

A espera pelo pacote fiscal completa um mês nesta semana. Prometidas para depois das eleições municipais, findadas em 27 de outubro, as medidas —e a expectativa prolongada— têm pautado os ânimos do mercado doméstico.

A leitura é de que, enquanto o pacote não for conhecido, os investidores seguirão cautelosos antes de tomar decisões mais contundentes no câmbio e na Bolsa.

A indefinição tem deixado o dólar no “limite psicológico” de R$ 5,80. “O mercado segue em absoluto compasso de espera, apostando que o pacote de contenção de despesas será finalmente anunciado”, afirma Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital.

“Estamos com margens estreitas. Por um lado o dólar não rompe R$ 5,80, e por outro lado não cede abaixo dos R$ 5,70 por conta do quadro fiscal. Acho que só conseguiremos sair desse preço com acontecimentos que estão no radar.”

A expectativa é que o anúncio seja feito entre quinta e sexta-feira. Há rumores de que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, irá fazer um pronunciamento à nação na televisão e no rádio na noite desta quarta para explicar a necessidade de um pacote de contenção de gastos.

Nele, o ministro defenderia a política econômica do governo, incluindo a adoção de medidas para frear o ritmo de crescimento das despesas. A ideia de um pronunciamento foi proposta por integrantes do Palácio do Planalto.

A expectativa é que o anúncio ocorra após reuniões do titular da Fazenda com líderes partidários da Câmara e do Senado, além dos presidentes das duas Casas. É possível que Haddad se encontre com Arthur Lira, líder da Câmara dos Deputados, ainda nesta quarta.

As medidas de contenção de gastos endereçam temores do mercado sobre a sustentabilidade do arcabouço fiscal, o conjunto de regras que visa o equilíbrio das contas públicas do país.

Para os agentes financeiros, é preciso ajustes na ponta das despesas, e não só reforços na arrecadação, para diminuir a dívida pública.

O pacote foi prometido ainda em meados de outubro pela ministra Simone Tebet (Planejamento e Orçamento), e a expectativa dos agentes econômicos têm crescido desde então.

O tamanho do corte é estimado por integrantes do governo em R$ 70 bilhões —entre R$ 25 bilhões e R$ 30 bilhões em 2025, e de R$ 40 bilhões em 2026. Para economistas do Itaú Unibanco, são necessários ao menos R$ 60 bilhões para que o mercado tenha mais confiança no ajuste fiscal proposto.

Incertezas com a trajetória da dívida pública também têm pesado nas expectativas de inflação, que, por sua vez, influem na tomada de decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central) sobre a taxa básica de juros do país, a Selic.

Na quarta, dados acima do esperado do IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15) consolidaram projeções de que o comitê terá de subir a Selic em um ritmo mais agressivo na próxima reunião, em dezembro.

Considerado uma “prévia” da inflação oficial do país, o indicador acelerou a 0,62% em novembro, após marcar 0,54% em outubro, pressionado pelos alimentos. A projeção era de 0,50%, conforme a agência Bloomberg.

Nesta manhã, a curva de juros futuros precificava 69% de chance de o Copom elevar a Selic em 0,75 ponto percentual, para 12% ao ano. No encontro deste mês, o colegiado aumentou a taxa em 0,50 ponto, para 11,25% ao ano.

“Realmente a inflação continua sendo uma preocupação e naturalmente é algo relacionado também à percepção de fragilidade fiscal, o que coloca importância e mesmo pressão para que haja um pacote de corte de gastos”, disse Gesner Oliveira, professor da FGV e sócio da GO Associados.

Na cena internacional, o foco se volta para a nova bateria de dados econômicos dos Estados Unidos, com investidores à procura de sinais sobre os próximos passos do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA).

O PCE (índice de preços de consumo pessoal, na sigla em inglês) veio em linha com o esperado pelo mercado. Indicador favorito do Fed para inflação, ele mostrou uma aceleração de 0,2% em outubro ante o mês anterior. No ano, subiu para 2,3% —em setembro, estava em 2,1%.

O núcleo do PCE, que exclui itens mais voláteis do cálculo, como alimentos e energia, subiu 0,3% na base mensal e para 2,8% na anual.

Já a segunda estimativa do PIB (Produto Interno Bruto) do terceiro trimestre, divulgada mais cedo pela manhã, não mostrou alterações em relação à primeira leitura, confirmando que a economia norte-americana cresceu 2,8% em relação ao mesmo período do ano passado.

No trimestre anterior, o avanço foi de 3% na base anual. A expansão da economia está em um ritmo bem acima do que as autoridades do Fed consideram como não inflacionário, de cerca de 1,8%.

Na ferramenta CME Fed Watch, as chances de um corte de 0,25 ponto percentual na próxima reunião marcavam 66,3%; as de manutenção no atual patamar de 4,50% e 4,75% reuniam as apostas restantes.

Também estão no radar anúncios do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump. Ele confirmou na terça-feira a indicação de Jamieson Greer como representante comercial do país, um dia após prometer impor tarifas sobre México, Canadá e China.

Analistas têm ressaltado que as medidas prometidas por Trump, incluindo tarifas e cortes de impostos, tendem a favorecer o dólar devido ao seu potencial inflacionário, o que manteria os juros elevados nos EUA.

Com Reuters

Redação / Folhapress

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