Entenda por que o Jabuti premia o inesperado e conheça novos livros lançados no Brasil

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Esta é a edição da newsletter Tudo a Ler desta quarta-feira (27). Quer recebê-la no seu email? Inscreva-se abaixo:

A vitória de “Sempre Paris”, de Rosa Freire D’Aguiar, como livro do ano no Jabuti 2024 reafirma o que já se espera do prêmio: o inesperado.

O editor Walter Porto explica que esse fenômeno decorre do sistema de notas em que a premiação literária mais conhecida do Brasil se apoia. Segundo ele, a escolha do principal prêmio da noite é resultado da mais fria matemática. Os jurados dão notas aos livros da categoria que estão julgando e a obra com a maior nota entre todos é a vencedora.

Sem conversar entre si, os jurados preenchem os números e seguem a vida até a grande revelação na maior noite da literatura brasileira. Obedecendo à objetividade, o Jabuti descarta interpretações de que busca priorizar alguns gêneros em detrimento de outros.

A matemática explica o resultado final, mas não o justifica. Essa parte fica para cada leitor que se dispuser a mergulhar no que é considerado o melhor da literatura brasileira.

ACABOU DE CHEGAR

“Solenoide” (trad. Fernando Klabin, Mundaréu, R$ 146, 784 págs.) é o enciclopédico romance da eterna aposta do Nobel, Mircea Cartarescu. O autor se tornou conhecido quando, em 1977, leu seu poema “A Queda” em um sarau. Em “Solenoide”, ele imagina uma realidade alternativa em que seu poema foi mal recebido. “A partir daí, esse alter ego fracassado se compara constantemente ao que sabemos ser a realidade de Cartarescu e a despreza”, conta o crítico Alex Castro.

“Alamedas Escuras” (trad. Irineu Franco Perpetuo, Ars et Vita, R$ 96, 408 págs.) reúne contos que foram escritos pelo russo Ivan Búnin durante seu exílio em Paris na Segunda Guerra Mundial. Para a crítica Raquel Toledo, a obra “reflete a ânsia de Búnin por liberdade e a força do desejo que resiste aos anos e às intempéries da vida”.

“Um Ditador na Linha” (trad. Bernardo Joffily, Companhia das Letras, R$ 74,90, 144 págs., R$ 39,90, ebook), de Ismail Kadaré, conta versões de um episódio histórico que ocorreu em 23 de junho de 1934: uma ligação telefônica feita por Stálin ao poeta russo Boris Pasternak. A intenção do telefonema foi tratar da prisão do também poeta Óssip Mandelstam. Segundo a crítica de Gabriel Trigueiro, a obra sugere que há algo em comum entre a figura de um tirano e um escritor.

E MAIS

Antes de ser assassinado por denunciar a pesca ilegal na Amazônia, o jornalista Dom Phillips trabalhava no livro “Como Salvar a Amazônia”. Agora, a coluna Painel das Letras conta que a obra foi concluída por amigos de Phillips e será publicada pela Companhia no Brasil. Eliane Brum e Jon Lee Anderson são alguns dos jornalistas que assumiram cada um a redação de um capítulo.

Na última segunda, o jornalista Naief Haddad e o fotógrafo Bob Wolfenson lançaram o livro “África em São Paulo”. A obra é fruto de um encontro fortuito dos dois com Mama Diop, uma senegalesa pioneira no comércio de produtos africanos na praça da República. A mulher ilustra a capa do livro que reúne histórias de pessoas que, assim como ela, deixaram o continente africano e escolheram a capital paulista como seu novo lar.

Em seu novo livro, o cientista político Rubens Figueiredo leva ao pé da letra a frase popular “o brasileiro precisa ser estudado” e estuda os brasileiros. “Sofrendo Feliz da Vida” (MM, 152 págs.) questiona como um povo com tantas carências consegue rir de si mesmo. Para o jornalista Fábio Zanini, Figueiredo bebe na fonte de Oswald de Andrade e seu “Manifesto Antropófago”.

ALÉM DOS LIVROS

A Bienal do Livro vai voltar ao Rio de Janeiro cheia de novidades. No ano em que a cidade se tornará a Capital Mundial do Livro, organizadores do evento se propuseram a montar um parque de diversões literário, com roda gigante, escape room e labirinto.

A grande editora americana HarperCollins propôs a alguns dos seus autores um contrato para que uma empresa de inteligência artificial possa usar os seus livros para treinar a sua ferramenta. A empresa de tecnologia, cuja identidade é confidencial, oferece US$ 2.500 (cerca de R$ 14.500) por cada livro selecionado para treinar a sua IA.

O escritor americano Percival Everett ganhou o National Book Award de ficção, prêmio literário mais prestigiado dos Estados Unidos, por “James”, sua releitura de um clássico de Mark Twain, “As Aventuras de Huckleberry Finn”. Em seu discurso de agradecimento, o autor apontou seu descontentamento com a reeleição de Trump.

ISADORA LAVIOLA / Folhapress

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