(FOLHAPRESS) – “Moana 2” chega aos cinemas essa semana para coroar o momento turbulento da Walt Disney Animation, e a sua concepção já tem um quê de lenda maldita. A continuação foi pensada de início como uma série do Disney+, mas virou um longa-metragem no meio do desenvolvimento, com o material pronto retrabalhado às pressas para o novo formato.
O sucesso do filme original, de 2016, e a crise no mercado de streaming explicam a decisão feita em cima da hora. O estúdio ainda vem de dois fracassos retumbantes, “Wish” e “Mundo Estranho”, que impõem ao projeto a urgência de um sucesso garantido e imediato nas bilheterias. Essas sombras todas pesam nas costas da sequência, que é capada de qualquer invenção em toda a sua duração.
A trama dá todos os sinais de que vive à base da reciclagem do primeiro capítulo. Agora viajante de seu povo, Moana dessa vez precisa enfrentar os mares polinésios para encontrar a ilha de Motufetu, que impede as populações da região de se unirem. O bloqueio é de novo culpa de um deus, Nalo, e a protagonista repete a sua posição de escolhida de seus ancestrais para solucionar os problemas divinos.
De diferente, a nova aventura aumenta a quantidade de companheiros de viagem da personagem, que praticamente comanda uma nau Motonui -no barco vão um galo, um porco e três habitantes do vilarejo.
Tudo isso porque Moana agora precisa aprender a liderar o seu povo e ensiná-lo a desbravar os mares, focada na missão de encontrar outros grupos. A tripulação ainda cresce durante a história com a chegada do semideus Maui, que também busca a ilha maldita.
Essa correria toda ocupa o tempo do filme, mas a jornada dos personagens fica para lá de vaga. Os méritos da união das aldeias polinésias permanecem um conceito abstrato até o clímax da história e nenhum personagem sabe explicar o mal do bloqueio. Eles mais viajam por questão de chamado do que por necessidade, enquanto os vilões ficam no fundo de cena. A mistura aliena qualquer um na plateia.
Enquanto esse desfecho não chega, “Moana 2” inventa desvios a todo instante para os protagonistas. A conversão do projeto de série para filme fica evidente nesses momentos porque os obstáculos inventados só ocupam tempo de tela.
Pior, os incidentes repetem situações e até mesmo personagens do original. O roteiro chega a inventar um drama para os Kakamora, o grupo de cocos piratas, que agora tem uma missão além de atazanar os mares.
Nem a parte musical salva a continuação do rame-rame insuportável. As canções compostas por Abigail Barlow e Emily Bear -dupla escolhida para substituir Lin-Manuel Miranda- lembram mais uma cópia de musical de segunda categoria da Broadway.
As faixas boladas para o filme passam longe da história, que envolve a identidade cultural daqueles povos. Aos brasileiros, a má notícia é que a adaptação da trilha para o português não dá conta do recado, ruindo as poucas músicas boas como “Get Lost” e “Can I Get a Chee Hoo?” -esta última com um saxofone incrível, mas todo perdido.
Essa salada de erros reforça o histórico da Walt Disney Animation com continuações, que sempre foram um ponto fraco. Até o fim da década passada, o estúdio revisitava os seus hits no mercado de home video, deixando intocadas as fábulas do cinema. As duas únicas exceções, “Bernardo e Bianca na Terra dos Cangurus” e “Fantasia 2000”, foram pequenos fracassos de bilheteria.
Agora, o segundo “Moana” já é a terceira sequência que o estúdio lança nos últimos seis anos, depois de “WiFi Ralph” e “Frozen 2”. Depois dele ainda estreiam outros dois, “Zootopia 2” e o terceiro “Frozen”. Todos eles foram ou tem esperança de ir bem na arrecadação, independente daquilo que oferecerem à história.
O problema dessa equação comercial é que ela eventualmente esquece da obra ao centro da máquina de dinheiro. No caso de “Moana 2”, isso é visível até mesmo no estilo da animação. Os efeitos de água e os riscos pontuais em cores néon do primeiro filme somem aqui, tornados em elementos datados e sem carisma -o mar da vez passa longe do encanto.
O mundo deu voltas demais em oito anos. Se o “Moana” de 2016 era um sopro de vida em um momento de bonança de seu estúdio, o “Moana” de 2024 parece desesperado para alcançar a linha de chegada. Todo tímido e assustado, a continuação sucumbe diante de expectativas que ele deve cumprir a qualquer custo.
MOANA 2
Avaliação Ruim
Quando Estreia nos cinemas nesta quinta-feira (28) nos cinemas
Classificação Livre
Produção Estados Unidos, 2024
Direção David Derrick Jr., Jason Hand e Dana Ledoux Miller
PEDRO STRAZZA / Folhapress