SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O cessar-fogo entre Israel e Hezbollah no Líbano permitiu que dezenas de milhares de deslocados retornassem às suas casas nesta quinta-feira (28). Muitos deles, no entanto, encontraram um cenário de destruição.
Ao chegar ao que restou de sua casa, em um bairro na periferia de Beirute, Zubaida Amru, 37, vasculhou os destroços. “Minha vida inteira estava aqui”, disse ela ao The New York Times. O forno da residência estava destruído, assim como os móveis do quarto de seu falecido pai. “Não são apenas suas posses. É a maneira como você se sente andando pela sua própria casa.”
No caso de Hussein Nassour, outro morador da periferia da capital, não apenas os móveis de sua casa foram destruídos, mas também o mercado de sua família e os prédios nas redondezas, onde viviam seus clientes. “Nós não vencemos. Nós perdemos”, disse ao jornal americano. “Ninguém ganhou nada com nada disso.”
A declaração parece uma referência ao comunicado que o Hezbollah emitiu após o acordo -um triunfo sobre Israel, na visão da facção. “A vitória de Deus, todo-poderoso, foi a aliada da causa justa”, afirmou o grupo.
“Que vitória? Olhe para a destruição. Olhe para toda a morte”, afirmou ao The New York Times Ousama Aoudeh, 60, ao ver simpatizantes e membros da facção comemorando nas ruas de Tiro, uma das cidades mais atingidas, no sul do Líbano. “Como alguém pode dizer que isso é uma vitória?”
Embora seu apartamento estivesse intacto, Aoudeh encontrou o prédio de sua filha partido ao meio por uma explosão, de acordo com o jornal americano. “Eu estava vendo notícias sobre Tiro na TV esse tempo todo. Mas, vendo com meus próprios olhos, não consigo acreditar”, afirmou.
No Líbano, grande parte dos deslocados pelo conflito, que se arrasta há mais de um ano e se intensificou nos últimos dois meses, estava na capital, Beirute, de onde milhares de veículos saíram em fileiras em direção ao sul, causando congestionamento. Houve também quem retornasse ao Vale do Bekaa, no leste do país, todos redutos do Hezbollah.
Dentro dos carros, pairavam a euforia e a incerteza -eles poderiam não ter casas para onde regressar, e havia dúvidas sobre a manutenção do acordo que determinou uma trégua nos combates que deixaram quase 4.000 mortos no Líbano e cerca de 130 em Israel.
Rara vitória diplomática em uma região que mergulhou em conflitos desde outubro do ano passado, o acordo determinava que as forças israelenses mantivessem suas posições, mas estabelecia um período de 60 dias no qual o Exército e as forças de segurança do Líbano retomariam o controle do sul do país.
A negociação trouxe esperança de suspender ao menos uma frente do conflito no Oriente Médio -na Faixa de Gaza, onde mais de 44 mil pessoas morreram, ataques de Israel nesta quinta mataram 21 pessoas, segundo médicos do território.
Um Mohamed, uma viúva de 44 anos do vilarejo de Zabqin, também no sul do país, ainda conseguia celebrar a trégua. “Apesar da magnitude das destruições e de nossa dor, estamos felizes por haver retornado”, disse ela à agência de notícias AFP. “Sinto como se nossas almas tivessem retornado”, completou, enquanto varria pedaços de vidro e escombros no chão.
Nesta quinta, no entanto, Hezbollah e Israel já trocaram acusações. Segundo Tel Aviv, a trégua foi desrespeitada quando combatentes retornaram ao sul. Hassan Fadlallah, membro da milícia, afirma que Israel atacou “aqueles que retornam aos vilarejos fronteiriços”.
Funcionários do setor de segurança do Líbano disseram à agência de notícias Reuters que ataques israelenses atingiram seis locais do sul do país, incluindo Wazzani e Kfarchouba, Khiyam, Taybe, Marjayoun e Markaba, onde duas pessoas teriam ficado feridas.
Posteriormente, Tel Aviv disse ter bombardeado uma instalação do Hezbollah e anunciou um toque de recolher noturno para a população do sul do Líbano.
No norte de Israel, onde cerca de 60 mil pessoas foram deslocadas devido aos confrontos, reina o ceticismo. “Ainda não nos sentimos seguros e não estamos felizes”, disse Nissim Ravivo, um homem de 70 anos, na cidade costeira de Nahjariya, a dez quilômetros do Líbano. “É uma vergonha, deveríamos ter continuado por pelo menos outros dois meses para terminar o trabalho.”
Redação / Folhapress