SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Rebeldes sírios que se opõem ao ditador Bashar al-Assad afirmaram nesta sexta-feira (29) ter avançado até a cidade de Aleppo, no norte da Síria, depois de uma ofensiva surpresa que avançou rapidamente por território controlado pelo regime e reconquistou áreas perdidas há quase uma década pelas forças insurgentes.
Os combatentes, liderados pela milícia islâmica Hayat Tahrir al-Sham, começaram a ofensiva na quarta-feira (29) e invadiram uma série de cidades e vilas no norte da província de Aleppo, controlada por Assad desde 2016.
Eles afirmam ter capturado a estratégica cidade de Saraqeb, um feito que, se confirmado, pode dificultar o envio de mais tropas do regime à região, dada a posição do local em uma das principais rodovias do país.
O regime sírio, apoiado pelo Irã e pela Rússia, negou que os rebeldes tenham alcançado Aleppo, mas fechou todas as estradas que acessam a cidade, bem como seu aeroporto.
Assad resiste no poder após 13 anos de guerra civil e controla boa parte do país, mas não conseguiu eliminar completamente os grupos rebeldes que buscam derrubá-lo do poder. Hoje, esses grupos têm como principal apoiador a Turquia, e os rebeldes afirmam que Ancara deu o sinal verde para a ofensiva surpresa.
Um dos comandantes rebeldes disse à agência de notícias Reuters que o avanço contra Aleppo foi bem sucedido graças à falta de apoio iraniano na região. Teerã viu grupos aliados na região sofrerem derrotas recentemente, como o Hamas na Faixa de Gaza e o Hezbollah no Líbano, envolvidos em uma guerra contra Israel e cujos líderes foram mortos pelo Estado judeu.
A ofensiva contra Aleppo é a maior na guerra civil síria desde 2020, quando a Rússia e a Turquia chegaram a um acordo para reduzir a intensidade do conflito. Damasco disse nesta sexta que os combates em Aleppo continuam e que suas forças recebem apoio aéreo de Moscou e teriam causado baixas pesadas aos rebeldes.
A Rússia, cujos recursos militares estão quase completamente direcionados à invasão da Ucrânia, disse que vai ampliar o auxílio militar ao aliado sírio em até 72 horas. Por enquanto, as ordens dos soldados do regime Assad são de recuar, segundo pessoas ouvidas pela Reuters.
A ONU expressou preocupação com os novos desdobramentos. “Combates intensos nos últimos dias já mataram 27 civis, incluindo uma criança de oito anos de idade”, disse o vice-coordenador humanitário das Nações Unidas para a Síria, David Carden. “Civis e infraestrutura civil não são alvos legítimos e devem ser protegidos de acordo com a lei internacional.”
De acordo com Observatório Sírio de Direitos Humanos, o número de mortos é bem maior. A ONG contabiliza 283 mortes desde a última quarta-feira (27), entre as quais estão 159 rebeldes, 100 homens ligados ao regime e 24 civis.
A mídia estatal da Síria disse que quatro civis, incluindo dois estudantes, morreram depois que rebeldes bombardearam um dormitório universitário em Aleppo. Caças russos e sírios, por sua vez, atacaram as regiões próximas à fronteira com a Turquia na quinta para tentar repelir o avanço dos insurgentes.
O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, chamou o ataque de uma violação da soberania síria. “Apoiamos as autoridades do país nos seus esforços para restaurar a ordem constitucional da região o mais rápido possível”, afirmou.
Redação / Folhapress